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“Queria montar no meu próprio dragão”, diz autora de série que já vendeu mais de 750 mil exemplares no Brasil

Rodrigo Casarin

07/02/2017 11h30

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"Quando eu era jovem, realmente queria montar no meu próprio dragão, eles representam aventura e diversão. Mas os dragões também representam a selvageria do mundo natural e nossa tentativa de domesticá-lo, bem como a necessidade de cuidarmos dele. Esta foi a ideia inicial para o livro. No entanto, ao longo da série, há um aspecto que sofre uma ligeira mudança. No começo a questão é: 'os dragões realmente existiram?', contudo, mais tarde, passa a ser 'se os dragões existiam, onde estão agora? O que aconteceu com eles?'".

É assim que é a escritora e ilustradora inglesa Cressida Cowell encara o dragão enquanto ser mitológico e como tema de sua renomada série "Como Treinar o Seu Dragão". "Como Combater a Fúria de Um Dragão", o décimo segundo e último livro da coleção, está sendo lançado no Brasil pela Intrínseca. No país, a saga que mistura humor, ação e mensagens inspiradoras já vendeu mais de 750 mil exemplares, acompanhando o fenômeno mundial – no planeta são 7 milhões de unidades comercializadas em 37 línguas distintas. Além disso, "Como Treinar Seu Dragão" já ganhou duas adaptações para o cinema – a terceira está prometida para 2019 – e uma série animada, a "Dragões: Pilotos de Berk".

A relação de Cressida com os imponentes monstros vêm da sua infância. Ela cresceu vivendo entre Londres e uma pequena ilha pouco habitada próxima à Escócia, onde costumava ouvir seu pai lhe contar histórias sobre os dragões que habitavam o lugar – algo que a fascinava e, ao mesmo tempo, amedrontava. Para ela, aqueles eram momentos mágicos. "Acho que ler com as crianças, mesmo quando elas já são um pouco maiores, é algo muito importante. Os livros lidos com a voz dos pais ficam com a pessoa para toda a vida, por isso que adoro quando me dizem que famílias leem meus livros juntas. Às vezes eu ficava com medo das histórias que meu pai me contava, mas é exatamente a isso que narrativas são destinadas: fazer com que a pessoa sinta algo, fazer rir, chorar ou até mesmo ter medo. Às vezes é divertido estar com medo, veja quantas pessoas gostam de histórias de fantasmas", diz a autora.

Desde então essas narrativas contadas pelo pai habitam a imaginação de Cressida e possuem uma conexão direta com a série "Como Treinar Seu Dragão". Aos nove anos que ela escreveu suas primeiras histórias e esboçou desenhos dos seres mitológicos. "Jamais esqueci disso, mesmo que o livro de estreia da coleção tenha sido publicado mais de 20 anos depois. Digo para as crianças que os doze livros, filmes e um programa de televisão nasceram na minha cabeça quando eu tinha nove anos, então é importante que sempre sigam lendo e escrevendo, porque podem ter uma ideia que só publicarão daqui muitos anos".

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Lidando com os próprios dragões

No derradeiro volume da série, a longa batalha pelo destino dos vikings e dos dragões encaminha para o fim. Soluço Spantosicus Strondus III, guerreiro magrelo que maneja uma espada como poucos e é uma das raras pessoas a falar o idioma "dragonês" precisa desbancar Alvin, o Traiçoeiro, assumir o trono e evitar que seu rival coloque em prática o plano de aniquilar todos os dragões. Ao mesmo tempo, Soluço tem que domar o dragão-marinho Furioso, que iniciou uma rebelião para exterminar a humanidade. O enredo de "Como Combater a Fúria de um Dragão", bem como os personagens de nomes curiosos que muito dizem sobre suas personalidades, dá o tom de toda a série.

A autora atribui o sucesso mundial da "Como Treinar o Seu Dragão" a alguns temas universais que ela aborda, além de assuntos que comumente despertam empatia: o crescimento das crianças, relacionamento entre pais e filhos, o que faz da pessoa um bom líder, a proteção da natureza… "Não esperava pelo sucesso e acho isso positivo, se não, teria muita pressão em cima do meu processo criativo", reconhece a Cressida. Os filmes, claro, também ajudaram a alavancar os livros. "Amo o fato deles terem capturado o espírito de aventura das minhas histórias".

E na vida real, a literatura pode ajudar as pessoas a lidarem ou treinarem seus próprios dragões? Para Cressida, sim. "Livos são como abrir portas para outros mundos, e ler ficção é a melhor forma de encorajar a empatia em uma criança, uma característica muito importante. Quando alguém vê um filme, por exemplo, toda a ação acontece na tela, mas quando lê um livro, tudo se passa dentro da cabeça", compara.

Cressida ainda cita um trecho de "O Sol é Para Todos", de Harper Lee, que diz: "Você nunca compreende realmente uma pessoa até que considere todas as coisas pelo seu ponto de vista, até vestir sua pele e caminhar com ela por aí" para, na sequência, estabelecer um paralelo entre a frase a maneira que encara o ato de ler. "Livros são o único meio que permite que você faça isso, estar na pele de outra pessoa. A literatura também faz da pessoa não apenas uma grande leitora, mas uma grande pensadora. Muitos estudos apontam que a leitura por prazer – e aqui é importante a ênfase no prazer – tem um enorme impacto não só na vida escolar das crianças, mas também no seu sucesso econômico quando adultos. Então, sim! A literatura pode nos ajudar a treinar dragões".

Veja ilustrações da série feitas pela própria autora:

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.