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Silenciados: seis autores perseguidos e condenados após a Revolução Russa

Rodrigo Casarin

01/11/2017 09h40

"Stálin e Voroshilov", quadro de Aleksandr Gerasimor.

Zamiátin, Babel, Chalámov, Akhmátova… O que esses nomes têm em comum? Todos são escritores que foram perseguidos pelo governo de Moscou em algum momento após a Revolução Russa, que está completando 100 anos. Se os historiadores ainda debatem em que momento a tal revolução realmente acabou, é fato que graças a ela que Stálin, o principal perseguidor dos artistas, ascendeu ao poder.

É fato também que a vida de opositores nunca foi muito fácil por aquelas bandas. No século 19, por exemplo, Dostoiévski foi acusado de conspirar contra o tsar e condenado a trabalhos forçados; já Putin, atual presidente russo, vive censurado manifestações dos mais diversos tipos. Mas isso não diminui o calvário infligido pelas autoridades locais durante parte considerável do Século 20 aos autores a seguir:

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Alexander Soljenítsin: condenado por criticar Stálin a quase uma década de trabalhos forçados em gulags, os campos de concentração soviéticos, Soljenítsin se tornou um dos autores mais importantes na denúncia contra as barbáries cometidas ao longo do regime que durou até o início da década de 1990. É autor, dentre outros, do impactante "O Arquipélago Gulag".

Isaac Babel: autor de "O Exército da Cavalaria", no qual narra episódios que vivenciou quando lutou pelo Exército Vermelho contra defensores da Ucrânia, sua terra natal, era um entusiasta das premissas da revolução, mas, ainda assim, foi detido, torturado e morto depois que Stálin começou a perseguir aqueles que considerava inimigos do povo. Sua grande referência, o colega de escrita Gorki, autor de "Os Vagabundos", era outro simpático ao governo, mas até hoje paira a suspeita de que Stálin também estaria por trás de sua morte.

Ievguêni Zamiátin: autor de "Nós", distopia que influenciou diretamente George Orwell, Aldous Huxley, Ray Bradbury e Anthony Burgess, escritores que assinam os livros mais emblemáticos do gênero, Zamiátin teve essa obra censurada após o governo considerá-la "ideologicamente indesejável". Em 1931, por conta da perseguição profissional que vinha sofrendo, mandou uma carta para Stálin solicitando autorização para se exilar na França, onde poderia produzir com liberdade. Seu desejo foi atendido.

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Anna Akhmátova: o marido de Akhmátova foi executado no começo dos anos 1920 acusado de atividades antirrevolucionárias e a escritora, autora de poemas que denunciam a violência de Stálin, passou décadas proibida de publicar qualquer tipo de escrito próprio.

Varlam Chalámov: preso pela primeira vez por ser flagrado imprimindo panfletos contrários a Stálin e pela segunda vez após ser acusado de "atividades trotskistas contrarrevolucionárias", Chalámov passou por gulags dos montes Urais e da Sibéria. Destes gelados que tirou boa parte da desumanidade que apresenta em "Contos de Kolimá", uma obra monumental que é considerada um dos testemunhos mais importantes da história da literatura.

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Vladimir Korolenko: elogiado por Tolstói e comparado a Dickens, Korolenko é autor de títulos como "Em Má Companhia" e "O Músico Cego". Após se engajar no movimento estudantil de Moscou, foi deportado para a Sibéria, onde escreveu narrativas que questionam injustiças sociais e o sofrimento humano.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.