Com um trailer matador e aplausos em sua primeira exibição, Em Ritmo de Fuga pode ser o Pulp Fiction do ano
Em Ritmo de Fuga, novo filme do diretor britânico Edgar Wright, teve sua primeira exibição mundial no festival texano South by Southwest (ou SXSW para os íntimos) e deixou a plateia coletivamente com os queixos no chão. Não só o público, que lotou o Paramount Theater na cidade de Austin, mas também os críticos, que se derreteram para a mistura de história de amor, musical e heist movie (ou "filme de roubo" numa tradução capenga) em que um ás no volante com cara de bebê (Ansel Elgort, de A Culpa É das Estrelas, aqui fora de sua zona de conforto) se apaixona por uma garçonete (Lily James) e planeja um último golpe para sair dessa vida, mesmo que isso o coloque em rota de colisão com seu empregador, um gângster interpretado por Kevin Spacey. A pegadinha: Baby, nome do sujeito, só consegue dirigir com fones de ouvido e uma trilha matadora. Wright diz que sua inspiração é a "santíssima trindade" dos filmes de roubo dos anos 90; Fogo Contra Fogo, Caçadores de Emoção e Cães de Aluguel.
Tudo isso já me deixou empolgado, mas o primeiro trailer foi determinante para que eu colocasse Em Ritmo de Fuga como prioridade total para assistir no cinema em 2017. Dá uma espiada.
Sensacional, não? Na verdade, a aventura é também o filme que falta para Wright deixar de ser o diretor cool (e cult) que tem um séquito pequeno mas leal para ocupar seu lugar de direito na primeiríssima linha de cineastas os quais o nome já basta para "vender" um projeto. A referência a Pulp Fiction que eu joguei no título (click bait!) não foi acidental. No começo dos anos 90, Quentin Tarantino já estava fazendo seu nome como o sujeito capaz de pegar um roteiro e dar um tapa para que ele se tornasse moderno, divertido, tenso, surpreendente e sensacional – a lista vai de Amor à Queima-Roupa a Assassinos por Natureza a Maré Vermelha. Cães de Aluguel foi uma surpresa, mas foi o sucesso comercial de Pulp Fiction que lhe abriu as portas do universo. Com um orçamento de 8 milhões de dólares, o filme que mudou o jeito de Hollywood fazer, vender e consumir cinema, basicamente definindo toda uma geração, colocou 213 milhões no bolso. E fez de Tarantino, merecidamente, um astro.
Edgar Wright está, sem o menor exagero, no mesmo patamar. Aos 42 anos, e com um dedo na TV inglesa há pouco mais de duas décadas, ele fez seu nome na série Spaced ao lado de Simon Pegg e Nick Frost. O salto para o cinema veio em 2004 com a pérola Todo Mundo Quase Morto, uma sátira em que zumbis tomam Londres e quase ninguém se dá conta até ser muito tarde – um The Walking Dead com mais humor e originalidade. Três anos depois ele criou uma zoeira/homenagem aos filmes policiais dos anos 80 com Chumbo Grosso, em que um superpolicial é despachado para uma cidade no interior onde nada acontece, até ter de investigar uma série de assassinatos. Hollywood prestou atenção e escalou Wright para dirigir, em 2010, a adaptação da HQ indie Scott Pilgrim Contra o Mundo, uma verdadeira obra-prima pop com Michael Cera no papel-título. Mas o público deu de ombros, e a bilheteria mundial que não encostou nos 50 milhões de dólares (ainda seu maior sucesso) fez os executivos segurarem a carteira. De lá para cá, ele desenvolveu Homem-Formiga com a Marvel (que terminou dirigido por Peyton Reed, com Edgar mantendo crédito de história e produção) e finalizou sua "trilogia do sorvete" na Inglaterra com o apocalíptico e etílico filme de invasão alienígena, Heróis de Ressaca.
Baby Driver, nome original (e muito mais cool) de Em Ritmo de Fuga, pode mudar o cenário. A exibição no SXSW criou um burburinho fantástico ("Isso vai fazer rios de dinheiro" foi a letra entre os executivos) e ganhou a crítica que acompanhou a estreia – "É seu melhor trabalho", "Entretenimento grandioso", "Em cinco segundos Baby Driver já te ganhou", "Vamos combinar que é incrível!" e "Baby Driver é divertidamente veloz e furioso". Talvez não seja ao acaso que Wright use o mesmo "método" para criar o roteiro que o próprio Tarantino. "Eu estava ouvindo discos de minha coleção e visualizando cenas", disse o diretor no debate que seguiu a estreia. "Eu não escrevia nenhuma cena antes de achar a trilha certa." Talvez Hollywood também sinta que seja hora de o cineasta dar um salto para projetos mais grandiosos, e atendeu em massa ao chamado: além de Elgort, James e Spacey, o elenco traz Jon Hamm, Jon Bernthal, Jamie Foxx…. e Flea, baixista do Red Hot Chili Peppers.
Eu conheci Edgar Wright na San Diego Comic-Con em 2010, quando ele levou Scott Pilgrim e o elenco à tiracolo. A gente troca uma ideia de vez em nunca, em especial quando seus filmes são lançados por aqui, geralmente direto em home video – ele riu alto quando falei que The World's End (ou "O Fim do Mundo") havia se tornado Heróis de Ressaca na terrinha. Ontem mandei um oi com o título de Baby Driver no Brasil, e ele respondeu entusiasmado que deve vir por aqui para o lançamento do filme. "Espero que você curta", despediu-se rapidamente. Em Ritmo de Fuga chega por aqui em 17 de agosto, e ainda temos um longo caminho e muito cinema neste hiato. Mas este se tornou o filme que, ao lado de Blade Runner 2049, eu mais quero ver este ano. Ah, o trailer nacional é bem diferente do exibido nos EUA, e igualmente sensacional. Os meses se arrastam…
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