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Produtor brasileiro comemora indicação ao Globo de Ouro: "Estou emocionado"

Cena do filme "Me Chame pelo seu Nome" - Divulgação
Cena do filme "Me Chame pelo seu Nome" Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

12/12/2017 04h00

Inaugurada a temporada de prêmios em Hollywood, um brasileiro desponta com grandes chances de levar um Globo de Ouro e, quem sabe, um Oscar para casa. Não se trata de um rosto conhecido ou um talento na direção. É no papel de produtor que o carioca Rodrigo Teixeira fez do filme “Me Chame Pelo Seu Nome” uma das sensações do ano.

Ele não é o único. O diretor Carlos Saldanha (de "A Era do Gelo") também concorre com mais uma produção da Blue Sky, "O Touro Ferdinando", na categoria melhor animação, mas o drama produzido por Teixeira, com roteiro James Ivory, sobre a descoberta da sexualidade de um jovem de 17 anos na Itália nos anos 1980, foi um dos primeiros trabalhos a ser apontado como favorito das premiações.

"Me Chame Pelo Seu Nome" garantiu seis indicações ao Spirit  Awards, considerado o Oscar do cinema independente, e três ao Globo de Ouro (melhor filme de drama, ator em filme dramático para Timothée Chalamet e ator coadjuvante para Armie Hammer). No Rotten Tomatoes, site agregador de críticas pela internet, o filme tem impressionantes 98% de aprovação.

Direto dos Estados Unidos, onde passou a maior parte desse ano, o brasileiro comemorou: “É um momento muito importante na minha carreira, foram muitos anos de trabalho, de luta. A indicação por si só já é um prêmio, uma consagração. Estou bem emocionado. O dia tem sido muito bacana”, comentou Teixeira ao UOL. O brasileiro, porém, não nega que esperava mais: “A expectativa era ter Luca Guadagnino indicado na direção também”.

Ele conta que mantinha um desejo de trabalhar com cineasta italiano há anos. “Sempre gostei muito desse projeto, mas a gente não tinha diretor definido. Optamos de fazer o filme quando ele assumiu a direção”, disse. Teixeira dividiu a função com Luca e mais cinco produtores.

Com orçamento baixo, de 3,5 milhões de dólares, o filme é mais um exemplo de produção independente que tem ganhado cada vez mais espaço (e prêmios) em Hollywood.

No ano passado, “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, estimado em apenas US$ 1,5 milhão, foi o vencedor do prêmio máximo do Oscar. Foi por esse caminho que Rodrigo conseguiu colocar sua produtora, a RT Features (que produziu “Alemão”, “Tim Maia” e “O Cheiro do Ralo” no Brasil), no centro do principal polo de produção cinematográfica do mundo.

Rodrigo Teixeira apresenta "A Bruxa" durante a Mostra de São Paulo 2015 - Mario Miranda Filho/Agência Foto/Divulgação - Mario Miranda Filho/Agência Foto/Divulgação
Rodrigo Teixeira apresenta "A Bruxa" durante a Mostra de São Paulo 2015
Imagem: Mario Miranda Filho/Agência Foto/Divulgação
“O que acontece é que os filmes de estúdios ficaram dominados por grandes orçamentos de filmes de super-heróis e franquias. Você tem um mercado independente, que vai de 0 a 30 milhões de dólares, que tem um mundo de filmes sendo feitos”, comenta.

Com a boa experiência ao produzir o terror “A Bruxa” (2015) e o já cult “Francis Ha” (2012), ele encerra o seu melhor ano com a boa acolhida de “Patti Cake$”, recém-estreado no Brasil. Na expectativa do Oscar, Teixeira pode inclusive garantir uma indicação dupla. “A Ciambra”, de Jonas Carpignano, escolhido pela Itália como pré-candidato ao Oscar de filme estrangeiro, também tem o dedo do brasileiro.

Passo grande em Hollywood

Foi justamente no dia do anúncio dos indicados ao Globo de Ouro, que o brasileiro virou uma página na agenda. Agora, as próximas reuniões são apenas para os projetos futuros.

Um deles é um grande passo para RT. A ficção cientifica “Ad Astsa” tem direção de James Gray, Brad Pitt no elenco, e um orçamento bem superior. “É um filme de estúdio, foi desenvolvido na RT de forma completamente independente, mas realizado como filme de estúdio, na Fox”, comenta.

Com a produtora brasileira cada vez mais internacional, ele diz que não pretende abrir mão do Brasil, onde acumula direitos comprados de livros como "O Mistério do Cinco Estrelas", de Marcos Rey, "Notícias do Planalto”, de Mario Sergio Conti e "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", de Martha Batalha.

“Eu não quero sair do meu país, obviamente eu tenho agora uma questão de espaço na agenda. Preciso encontrar uma solução para que os dois universos sejam convergentes. Eu vou trabalhar dois filmes brasileiros por ano e o restante fora do país”, promete.