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Categoria para HQs no Jabuti é mais um importante passo para mostrar que a arte não é coisa de criança

Rodrigo Casarin

03/05/2017 15h53

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou na manhã desta quarta-feira a inclusão de duas novas categorias no Prêmio Jabuti, que este ano chega a sua 59ª edição: "Livro Brasileiro Publicado no Exterior" e "História em Quadrinhos". O reconhecimento para HQs vem após o sucesso de um manifesto escrito pelo jornalista Érico Assis e pelos quadrinistas Wagner Willian e Ramon Vitral solicitando um troféu próprio para o segmento coincidir com Luiz Armando Bagolin, simpático à causa reivindicada, assumir a curadoria do galardão.

O gesto vindo do prêmio mais tradicional do mercado editorial brasileiro será essencial para fortalecer ainda mais as HQs no país. Sei que diversos profissionais ligados de alguma forma à arte não gostam de escutar isso, pensam que essa fase já passou, mas ainda é preciso mostrar para muita gente que os quadrinhos não são exclusivos para crianças, não servem apenas para fins didáticos e vão muito além de "Turma da Mônica", super-heróis ou algum clássico importado.

Muitas vezes quem vive no meio cultural toma seus pares como padrão e esquece que a realidade do mundo é diferente da realidade de sua bolha. Basta conversar com pessoas na faixa dos 50, 60, 70 anos para ver que a maneira que a maioria encara os quadrinhos é, por questões geracionais, extremamente datada. O mesmo acontece, numa intensidade menor, com gente mais jovem que apenas flerta com manifestações artísticas aqui ou ali. Para esses, normalmente, HQ é gibi vendido em banca.

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Premiar quadrinistas da mesma forma que se premia escritores poderá ajudar com que nomes ótimos como Marcelo D'Salete, Lu Cafaggi e Juscelino Neco, isso para ficar só em três exemplos, sejam projetados e se tornem conhecidos de um público bem mais amplo do que aquele formado por quem já se interessa por quadrinhos autorais.

Muita discussão ainda está por vir: será importante que a organização do Jabuti selecione bons jurados para a categoria e trate os quadrinhos como uma arte absoluta, não como um braço da literatura (ideia extremamente questionável). No entanto, por ora, bola dentro da CBL, da organização do Prêmio e de todos que se mobilizaram para que a criação da categoria acontecesse.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.