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“Poderosas porque são gordas”: a coleção de “gordotas” de Orlando Pedroso

Rodrigo Casarin

28/11/2017 10h04

"Minhas gordotas são políticas e poderosas pelo simples fato de se assumirem gordas e ponto. Não há a necessidade de levantarem bandeiras ou de fazerem discursos". É o que o ilustrador Orlando Pedroso diz sobre as mulheres de corpo avantajado que habitam o seu "Gordinhas", livro que está sendo lançado pela Fantasma Editora. A obra conta com 120 desenhos feitos por Orlando entre o final de 2015 e o começo de 2016.

As simpáticas, sensuais e sempre nuas ou seminuas "gordotas", como as chamam o autor, surgiram sem grandes alardes em sua prancha de trabalho."Gosto muito de fazer séries. Um desenho vai chamando o outro. Quando vejo já tenho uma centena de rabiscos. Daí virarem livro é um pulo".

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O prefácio do volume é assinado por Laerte, colega de longa data de Orlando. "Não fui uma criança gorda – meu irmão sim, durante um tempo. Eu era mais conhecida como magra – 'magra, seca, escanifrada', expressão que a minha mãe consagrou em investidas nutricionais. Hoje não sou nem magra – sou uma negociação. Em termos de padrões estéticos, procuro me manter coerente com as postagens que faço, mas me pego submissa a alguns modelos. Bem que eu tento… Mesmo assim, me dá um grande tesão de ser uma dessas gordinhas do Orlando, de dançar como elas, posar como elas.", escreve a quadrinista.

Na obra há uma personagem trans que pode ser vista não apenas como alvo da gordofobia presente na sociedade, mas também da transfobia. "Há, sim, muito preconceito no país e não só com relação a gordos ou gays. Qualquer pessoa um pouco fora da curva vai ter uma história de discriminação".

Um exemplo dessa discriminação envolveu o próprio desenho em questão. Orlando conta que a ideia era criar uma série com personagens transexuais, mas encontrou rejeição do público e acabou abortando o projeto. "Logo no terceiro ou quarto post fui denunciado, comecei a postar no meu blog, mas desanimei. Então, mocinhas peladas são aturadas, pintinho de fora, não. Isso pode ser um indicativo de nossa situação".

E os gordinhos?

A predileção de Orlando por desenhar corpos cheios de curvas vem dos tempos de estudante. "Me lembro das aulas de modelo vivo que fazia na faculdade de artes plásticas. A modelo mais interessante de se desenhar era uma senhora negra cheia de curvas e saliências. Corpos lisos podem ser bonitos de serem admirados mas são muito mais sem graça para se desenhar", diz. E se pensa em algum momento contemplar também os gordinhos? "Não sei. Estou esperando um me chamar…", brinca aos risos. "Tenho já uma série grande de corpos se equilibrando das mais variadas maneiras e outra com rostos que se encaixam uns nos outros. Eu deixo acontecer", completa.

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Orlando é também autor de "Moças Finas", "Árvres" e "Filosofias Baratas me São as Mais Caras", com o qual foi finalista do Jabuti, além dos infantis "Vidas Simples" e "Uêba!". Levou o troféu HQMix de melhor ilustrador em 2001, 2005 e 2006.

O lançamento de "Gordinhas" acontece hoje, terça (28), a partir das 19h30 no Bar Genial, na Rua Girassol, 374, Vila Madalena, São Paulo.

Veja outras ilustrações presentes em "Gordinhas":

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.