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Correria, ligações e psicólogos: os bastidores do cancelamento de Lady Gaga

A cantora Lady Gaga, que cancelou sua turnê após crise de fibromialgia - Getty Images
A cantora Lady Gaga, que cancelou sua turnê após crise de fibromialgia Imagem: Getty Images

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

21/09/2017 04h00

A organização do Rock in Rio soube do cancelamento de Lady Gaga às 6h da manhã da última quinta, véspera do show. Instaurou-se então uma correria generalizada que durou até as 15h, quando o anúncio foi feito simultaneamente pelo festival e a artista, substituída pelo Maroon 5. Por já estar no Brasil e tocar no mesmo palco no dia seguinte, com estrutura semelhante, a banda americana surgiu como única alternativa viável, mesmo carregando outro público.

“A gente teve uma sorte imensa. O Maroon 5 foi superparceiro. Eles estavam em Curitiba, e a sexta seria o dia de folga. A equipe deles virou noite sem dormir para montar tudo. Eles foram sensacionais”, diz ao UOL Roberta Medina, filha de Roberto Medina e vice-presidente do festival.

Segundo desafio da maior saia justa da história do evento: fazer o público entender que, caso optasse pelo reembolso do ingresso, ninguém poderia pisar no Parque Olímpico. Nesse momento tenso em que emoções se misturam, a produção precisou deslocar uma equipe de psicólogos para atender fãs na porta da Cidade do Rock.

Passado o susto, a apresentação do Maroon 5 agradou e, entre o clamor por Anitta e o furacão chamado Pabllo Vittar, o saldo do primeiro fim de semana de Rock in Rio é considerado positivo. Segundo Roberta, tal exemplo de organização só vem a reforçar que não há qualquer possibilidade de o festival sair do Rio de Janeiro, como seu pai Roberto Medina já aventara este ano em entrevista.

Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio - Divulgação - Divulgação
Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio
Imagem: Divulgação

UOL - Como veio a notícia do cancelamento da Lady Gaga?

Roberta Medina - Veio às 6h da manhã, simplesmente assim: “Ela não embarcou”. Todo mundo teve que correr imediatamente. Houve muitas ligações. Várias equipes precisaram se estruturar. Primeiro a artística, que teve que se apressar para colocar outra atração no lugar. Como a Lady Gaga era "headliner", foi muito desafiador. Teria que ser uma das nossas bandas, porque não havia ninguém com show pronto e grande para botar naquele palco. A estrutura precisava já estar montada. A gente teve uma sorte imensa. O Maroon 5 foi superparceiro. Eles estavam em Curitiba, e a sexta seria o dia de folga. A equipe deles virou noite sem dormir para montar tudo e fazer o show. Eles foram sensacionais.

Ao mesmo tempo, a produção teve que produzir centenas de placas. Optamos por devolver o dinheiro das pessoas, e elas tinham que entender que não poderiam entrar na Cidade do Rock para receber o reembolso. Foi um tal de espalhar placas nos acessos, nas estações do metrô, do VLT, no embarque do ônibus executivo que vinham pra cá. O pessoal do ingresso também teve que correr para organizar como seria o procedimento de devolução, que divulgamos na segunda. Como as vendas eram on-line, o procedimento foi mais suave do que seria se tivéssemos pontos físicos.

A comunicação também precisou se alinhar rapidamente com os artistas para todo mundo poder dar a notícia ao mesmo tempo. Como havia gente dormindo na fila, decidimos mandar psicólogos para lá, porque sabíamos que ali estavam os mais fanáticos, que ficariam mais nervosos e decepcionados com o cancelamento. Foi tudo um imenso corre-corre, mas felizmente com o melhor desfecho.

O show surpresa de Pabllo Vittar, um dos mais surpreendentes, foi marcado para compensar a ausência de Lady Gaga?

Não. Na verdade, esse show foi uma ação que já estava marcada pelo Itaú. Não foi divulgado antes porque eles queriam fazer a surpresa. Não foi essa nossa intenção.

Muitos pediram e ainda estão pedindo por Anitta no Rock in Rio. Como anda a negociação para próximas edições?

A gente está conversando. O Roberto já esteve com ela uns meses atrás. O convite foi feito para o Rock in Rio Lisboa, e a ideia é que ela venha com uma pegada mais pop. Nada contra o funk. Já tivemos apresentações de funk no Rock in Rio, de forma pontual. Isso tem mais a ver com o perfil do evento, para mantermos nossa linguagem. A Anitta é uma artista que a gente admira muito, extremamente competente, mas ainda estamos em conversas. Não há nada acertado.

Como o Rock in Rio 2017 avalia seu primeiro fim de semana?

Foi muito positivo. Destaco a nova proposta de espaço físico, que funcionou. Ganhamos a aposta em trazer a Cidade do Rock ao Parque Olímpico. As pessoas elogiaram muito. Até em termos de limpeza. O público está conseguindo enxergar as latas de lixo. Os novos palcos foram muito bem recebidos. O Digital Stage está sempre cheio, assim como a arena de games. O novo Gourmet Square também está sempre lotado e atendendo bem, com mais conforto para comer.

O festival foi marcado pelo discurso de diversidade, com a primeira drag pisando no palco Mundo. O quanto isso foi pensado?

Essa é uma das coisas mais bacanas desta edição. A conversa do “para um mundo melhor” nunca esteve tão presente. A gente provocou para ter isso. Espalhamos hashtags com as palavras de ordem: sonhar, acreditar, juntos, respeitar. E esse discurso de diversidade apareceu em vários palcos. Desde o bailarino cadeirante no Street Dance, passando pela participação da líder indígena no show da Alicia Keys, pela Pabllo Vittar.

Tudo isso é reflexo do que a sociedade está sentindo. Uma necessidade coletiva foi materializada no Rock in Rio. E o mais bonito foi perceber que ali dentro, com estrutura e segurança, não houve conflito, não houve preconceito. É bacana porque a gente mostra que é possível fazer uma sociedade mais harmônica, com mais respeito.

Roberto Medina indicou recentemente em entrevista que pode abolir Rock in Rio no Brasil por causa da crise no Rio. Isso vai acontecer?

O Rock in Rio não vai sair do Brasil. Existe, sim, uma angústia muito grande por parte dele. Ele está tentando mobilizar um grupo de empresários para criar um calendário de eventos na cidade. Ele é um cara que tem nas mãos um evento como o Rock in Rio, com um impacto econômico estimado em R$ 1,4 bilhão. Então toda essa crise tem o deixado muito angustiado, vendo que as coisas podem ser feitas, e não são. Ele vai pirando.

Comparo o que está acontecendo agora com o que aconteceu em 1984, quando ele criou o Rock in Rio. A cidade e o país também viviam um momento ruim, saindo da ditadura militar. Havia uma vontade enorme de mostrar uma cidade poderosa, com um potencial gigantesco. Só espero que agora ele consiga materializar tudo isso pelo qual está batalhando.