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Avatar terá 4 sequências a partir de 2020... Mas será que alguém ainda se importa?

Roberto Sadovski

23/04/2017 04h12

A notícia que a(s) sequência(s) de Avatar finalmente tem uma data para chegar aos cinemas não surpreende. Nem o fato de que serão quatro filmes. Muito menos que eles começam a ser rodados nos próximos meses, o que sugere uma pós produção gigante até 18 de dezembro de 2020, quando o primeiro do quarteto estreia no mundo todo – a terceira parte fica um ano na incubadora, com chegada em 17 de dezembro de 2021. Daí teremos mais três anos (!) de respiro, com Avatar 4 marcado para 20 de dezembro de 2024 e o quinto filme finalmente estreando em 19 de dezembro de 2025. Parece (e é!) uma empreitada gigante, mas nada que James Cameron não estivesse sugerindo há alguns anos. Grande? Sim. Surpreendente? Bom, não por isso.

A pergunta que estalou nas ideias foi, "Quem ainda dá a mínima para Avatar?". Será que tanto tempo e tanto dinheiro investido no mundo de Pandora vai valer a pena em três anos e pouquinho? Vejamos. Quando o filme original chegou aos cinemas, em dezembro de 2009, ele veio acompanhado de uma novidade tecnológica, um 3D imersivo em um mundo totalmente gerado por computador. Era uma experiência que precisava ser sentida em um cinema, com um público igualmente hipnotizado, na maior tela e com o melhor som possível. Avatar era não só um passo gigantesco no modo de ver e fazer filmes, era também algo original, uma história que, mesmo derivada de um caldeirão de referências de ficção científica, era fruto da imaginação de Cameron. O público abraçou o filme e o resultado foram 2,8 bilhões de dólares nas bilheterias em todo o mundo. Ainda a maior renda de todos os tempos.

James Cameron dirige Sam Warthington em Avatar

Mas daí eu volto ao título deste post: alguém ainda se importa? Mesmo estando no topo das bilheterias, mesmo tendo sido um fenômeno sem igual, Avatar não deixou marcas na cultura pop. Zero! O filme é lembrado hoje pelas inovações tecnológicas, mas se tornou uma espécie de saco de pancadas online, em que fica difícil encontrar seus fãs. Pouca gente lembra do nome dos personagens, ou das reviravoltas narrativas, ou sequer de alguma sequência memorável. O cinemão pop passa pela Marvel ou Pixar ou Star Wars ou Harry Potter. Àté Velozes & Furiosos e Jogos Vorazes tem seus resíduos ecoando com vida própria. De Avatar, ficou a impressão de um épico bonito, meio cafona, ancorado a uma mensagem ecológica que se perde entre tanto ruido. Não existe celebração nos aniversários do filme (quase oito anos!). Ninguém brinca com bonequinhos de Avatar. Não houve uma legião de filmes de baixo orçamento no rastro de Avatar. Nenhuma frase de Avatar ficou na memória – James Cameron já nos deu, sem pensar muito, "Hasta la vista, baby". "Sai de perto dela, sua vadia" e "Eu sou o rei do mundo!". Nesse tempo todo, um único filme seguiu a execução de Avatar com tecnologia 3D imersiva e cenários digitais realistas: Mogli, o Menino-Lobo.

Para fazer o dever de casa, revi Avatar antes de traçar essas linhas. Continuo um defensor fervoroso do filme de Cameron. Claro, é uma ficção científica derivativa, de Dança com Lobos a Pocahontas a Star Wars a um punhado de obras de faroeste e ficção científica. Quando conversei com o diretor em 2009, há pouco menos de seis meses da estreia do filme, ele não se furtou em listar os filmes que contribuiram com o DNA de sua obra. Ainda é um filme belíssimo, às vezes de tirar o fôlego. E é uma obra fechada. Não faz parte de um universo, não foi canibalizado à exaustão, não termina com um gancho explícito para uma continuação. Apesar do discurso chatérrimo que muitas vezes acompanha o tema, não se furta a trazer uma "mensagem" sobre os males da exploração ambiental, os perigos do capitalismo desenfreado. Cameron acredita no que escreve – ele foi, vale lembrar, um dos grandes opositores da construção da usina de Belo Monte aqui em nosso quintal.

Um doce se você lembrar o nome destes personagens….

Não posso dizer que quatro (!!!) novos filmes ambientados no mundo de Pandora me deixam empolgado. Mas é inegável que James Cameron tem algo na manga, uma história relevante e em sintonia com o mundo moderno. Sem falar nas óbvias inovações na tecnologia cinematográfica que os novos Avatar com certeza devem trazer. O momento do anúncio do lançamento dos filmes chega às vésperas da abertura de Pandora: O Mundo de Avatar no Walt Disney World. A atração promete reproduzir o universo do filme em uma experiência sensorial para os visitantes do parque. Mas o que a indústria e os entusiastas da cultura pop querem mesmo é observar como o público recebe a volta da criação do cineasta à mídia. Muitos ainda torcem o nariz. Enfatizam a "irrelevância" de Avatar. Fazem a pergunta que eu mesmo fiz lá no título.

Não que James Cameron se importe. Na página oficial de Avatar no facebook, ele deu o recado: "É ótimo trabalhar com a melhor equipe da indústria!". O elenco do original, de Sam Worthington a Zoe Saldana e Sigourney Weaver, está de volta. Sempre um passo à frente de todos os seus pares, ele rimou cinema com inovação em O Segredo do Abismo e, de novo, em O Exterminador do Futuro 2. Quando muitos consideraram Titanic uma maluquice megalomaníaca, que estourou prazos e orçamentos, ele criou um fenômeno e tomou o pódio das bilheterias mundiais. Avatar estreou cercado de dúvidas, mas superou a incredulidade geral e tomou (de Titanic) o pódio das bilheterias mundiais. James Cameron sabe o que faz. Será que alguém ainda se importa? Pode apostar que sim!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.