Topo

"Bates Motel" muda cena do chuveiro de "Psicose" para empoderar personagem

Norman (Freddie Highmore) e Marion (Rihanna) em cena de "Bates Motel" - Divulgação
Norman (Freddie Highmore) e Marion (Rihanna) em cena de "Bates Motel"
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

28/03/2017 10h51

ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers de "Bates Motel". Não leia se você não quer saber o que acontece

“Bates Motel” recriou a célebre cena do chuveiro de “Psicose” no episódio que foi ao ar nos Estados Unidos na última segunda-feira (27). Mas a produção fez uma mudança significativa na cena: quem morreu esfaqueado por Norman (Freddie Highmore) não foi Marion (Rihanna), mas sim Sam (Austin Nichols).

Em uma entrevista para o site TVLine, o criador da série, Carlton Cuse, explicou que não tinha a intenção de apenas fazer uma cópia do filme clássico de Alfred Hitchcock. “Não queríamos apenas fazer o que o filme fez. E não achávamos que Marion seria uma personagem particularmente empoderada se fosse assassinada no chuveiro. Nós queríamos que ela fosse uma personagem mais forte, mais decisiva”.

A escolha de Sam como vítima foi uma forma de o próprio Norman confrontar seu passado, segundo a showrunner Kerry Ehrin. “Era uma grande responsabilidade pegar um filme icônico e usar a sequência de uma forma que o homenageasse e fizesse sentido dentro da história que estamos contando. E a ideia da pessoa ser Sam, que é uma espécie de metáfora para o pai de Norman, que era violento e deu início aos problemas dele, cabia bem na história que estávamos contando”.  

Janet Leigh em "Psicose" (1960), de Alfred Hitchcock - Divulgação - Divulgação
Janet Leigh na clássica cena de "Psicose" (1960)
Imagem: Divulgação

A escolha, porém, não é uma crítica ao longa que inspirou a série. “O filme era anos-luz à frente de seu tempo em 1960”, afirmou Cuse. “Aquele tipo de retrato era apropriado para 1960, mas não para 2017. O filme tem que ser julgado no contexto em que ele foi feito”.

“Bates Motel” ainda fez outra mudança ousada: quando mata Sam, Norman não está vestido como sua mãe, ao contrário de “Psicose”. “Ele não estava travestido porque ele está consciente de seu ato de violência. E apesar de Sam ser um babaca, ele não merece ser assassinado. E a autoconsciência que Norman tem disso é um grande catalisador que leva ao que planejamos para o fim da série”, contou Cuse.

Ehrin, por sua vez, avaliou que o crime é como um novo começo para Norman: “É como um nascimento, porque ele está tentando matar a fonte da sua doença”.

Diretor e ator comentam

À revista “Entertainment Weekly”, o diretor do episódio, Phil Abraham, afirmou que, assim como os produtores da trama, não queria fazer uma cópia de “Psicose”, ainda que tenha feito referências a ele. “Não queria copiar o Hitchcock quadro a quadro. Não achava que isso era necessário ou relevante para a tensão da história, ainda mais nas cenas que levam a Marion entrando no chuveiro. Mas certos momentos-chave, como Norman olhando pelo buraco na parede, fazem parte da construção da tensão”.

Abraham ainda falou sobre a decisão de não manter Norman escondido atrás da cortina: “Como Norman tem muita clareza na cena do chuveiro, não havia necessidade de escondê-lo atrás de uma sombra, mas sim do contrário, de expô-lo por completo. E achei que deixando ele todo ensanguentado e tornando a cena violenta, estava brincando com o o que Hitchcock fez na cena do chuveiro original”.

A vítima da vez, o ator Austin Nichols, disse que nos bastidores foi bem ressaltado que a cena deveria ser violenta. “Eu estava pelado, molhado e desviando das facadas do Freddie. Nosso diretor deixava a câmera rodar, não cortava. Ele gritava ‘mais facada, mais grunhidos, mais sangue’. E ele tinha uma lata de sangue falso e um pincel, e ficava jogando sangue em nós como se estivéssemos fazendo um filme de estudantes no quintal”, lembrou ele, finalizando: “Foi um ótimo dia”. 

No Brasil, "Bates Motel" é exibida no Universal Channel.