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Prestes a fazer 50, Nicole Kidman surge como o grande destaque de Cannes

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Cannes

22/05/2017 07h37

Para a maioria das atrizes, fazer 50 anos significa o sumiço das ofertas de bons papéis. Mas não para Nicole Kidman: a menos de um mês de se tornar uma cinquentona, a loira tem quatro novos trabalhos em destaque no Festival de Cannes – é a recordista de tapetes vermelhos desta edição da mostra francesa.

No mesmo ano em que recebeu sua quarta indicação ao Oscar (como atriz coadjuvante, por “Lion: uma Jornada para Casa”) e estrelou um grande êxito na TV (a série “Big Little Lies”), a atriz enfrenta nesta semana uma provavelmente cansativa, porém recompensadora, maratona de aparições públicas em Cannes. Nesta segunda (22) pela manhã, ela concedeu sua primeira coletiva de imprensa, sobre o longa “The Killing of a Sacred Deer”, filme do cineasta grego Yorgos Lanthimos, exibido na competição oficial. Na quarta, ela volta a “enfrentar” os jornalistas na promoção de “O Estranho que Nós Amamos”, novo trabalho de Sofia Coppola. E em mostras paralelas, divulgará, também, o filme “How to Talk to Girls at Parties”, de John Cameron Mitchell, e a série de TV “Top of the Lake: China Girl”, de Jane Campion.

“É um grande elogio. Não é algo que eu imaginava acontecer”, disse a atriz, sobre a maratona em Cannes. “Neste estágio da minha carreira, procuro tentar sempre coisas novas e dar suporte às pessoas em quem acredito... Colaborar com amigos como Jane Campion [da série ‘Top of the Lake’]. Tento fazer como se eu tivesse 21 anos e estivesse no começo da minha carreira”, disse a atriz, cujo visual não está tão longe, assim, de tal idade.

O filme apresentado nesta manhã é, como de hábito na obra de Lanthimos, bastante insólito e de humor desconcertante. Kidman interpreta a mulher de um cardiologista (Colin Farell) que leva uma vida tranquila e confortável com marido e os dois filhos, até que um estranho adolescente passa a ter uma influência negativa sobre a família. Aos poucos, o filme evolui de um drama familiar para um filme praticamente de horror.

Nicole Kidman posa com o marido Keith Urban na exibição de " The Killing Of A Sacred Deer" no Festival de Cannes - Thibault Camus/AP - Thibault Camus/AP
Nicole Kidman posa com o marido Keith Urban na exibição de " The Killing Of A Sacred Deer" no Festival de Cannes
Imagem: Thibault Camus/AP
É um papel arriscado: há cenas em que a atriz se finge de morta para satisfazer os desejos necrófilos do personagem de Farrell – ela precisa ficar quase que completamente nua (e mostra que permanece em excelente forma física, aliás).

“Yorgos disse: esqueça a preparação, venha e faça”, disse a atriz, sobre o método de encenação do diretor. “O trabalho do ator muitas vezes consiste nem tanto em ajudar, mas em não atrapalhar. Não fazer nada: muitas vezes é isso que fazemos”, completou.

Os riscos que a atriz corre em cena, segundo ela, não têm muita repercussão em casa. Segundo Kidman, seus filhos não costumam ver seus filmes. “Minha família fica muito à parte da minha vida criativa. Eles têm pouca compreensão do que [eu e meu marido, o músico Keith Urban] fazemos, acho que a vida deles é bem mais importante”, disse. “Eu tento manter essas coisas separadas”.

Se a proximidade dos 50 anos vem sendo positiva para Kidman, o início da fase quarentona não foi muito promissor. Depois de ganhar o Oscar por “As Horas” (2001) e sofrer um desgaste pelo excesso de filmes, a americana criada na Austrália começou a receber menos papéis à altura do seu talento. Tentou algumas voltas por cima, mas nem sempre os projetos ajudavam muito. Houve quem apostasse até em um novo Oscar quando se noticiou que ela viveria a diva Grace Kelly em “Grace de Mônaco” (2014), mas bastou o filme estrear (em Cannes, aliás) para os rumores desaparecerem; nem Nicole brilhava, nem o filme emplacou. A birra com o longa foi tanta que o site Indiewire o elegeu como um dos cinco piores filmes de abertura da história do festival francês.

Para complicar, por um tempo as performances de Kidman também ficaram prejudicadas, pela própria vaidade da atriz: procedimentos faciais excessivos (ou malsucedidos) limitaram a movimentação de suas expressões no rosto. Mas isso, ao que parece, já foi superado: em produções mais recentes a estrela volta a mostrar seu potencial. E em “The Killing of a Sacred Deer”, além de ter algumas cenas bastante boas, ela mostra que, sob determinados ângulos, tem praticamente a mesma figura de quando ainda tinha acabado de virar balzaquiana – o visual dela no longa de Lanthimos faz lembrar o da atriz na época de “De Olhos Bem Fechados” (1998), de Stanley Kubrick, em que contracenou com o então marido Tom Cruise.

Foi Kubrick, aliás, que a iniciou na arte que ela hoje tão bem domina. “Não cresci muito no cinema, mas eu era adolescente e um dia vi ‘Laranja Mecânica’ [1971, de Stanley Kubrick]. Vi e: ‘Uau’! Desde então, comecei a consumir tudo de cinema, passei a entrar em uma sala escura e consumir aquilo. Amo isso. Ainda tenho paixão por atuar, por cinema, por tentar coisas com um senso de abandono”, disse a atriz.