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Bob Dylan faz papel de palhaço ao avacalhar o Prêmio Nobel

Rodrigo Casarin

15/06/2017 09h19

No final do ano passado, quando o músico Bob Dylan foi anunciado como o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, olhei para as conexões que existem entre suas composições e a arte feita com as palavras. Outras pessoas, no entanto, foram céticas e apontaram aquela nomeação como estratégia de marketing da Academia Sueca: aproveitariam que o figurão é mais conhecido do que todos os escritores nobelizáveis para atrair atenção à entidade e, principalmente, ao galardão.

Desde então, Dylan mal ligou para a nomeação e chamou a Academia para brincar. Demorou para se manifestar sobre o prêmio, fez mistério se iria aceitá-lo, se ficaria com o dinheiro, se estaria presente na cerimônia de entrega… Graças a tudo isso, dificilmente se passou um mês sem que surgisse alguma notícia espinhosa do Nobel e seu último agraciado, exatamente como previram outrora os mais céticos, aos quais, agora, não tenho como não dar certa razão. E temos indícios suficientes para imaginar que Dylan também encarou a honraria como um golpe publicitário.

O ato mais recente de toda a avacalhação vem da escritora Andrea Pitzer. Ela apontou que diversos trechos da fala que Dylan fez ao receber o Nobel teriam sido retirados de sites com resumos de livros. Há quem acredite, inclusive, que o compositor sequer seria o autor de seu próprio discurso, o que deixa a situação ainda mais medonha. Com toda essa novela, o respeitado e admirável músico assume abertamente o papel de palhaço.

Aos incautos, um palhaço não é apenas alguém que faz besteiras para entreter os outros, mas uma figura que se despe de seu ego para, por meio de gracejos, expor questões e problemas que costumam ser intragáveis quando tratados de forma sisuda. Apenas para ficarmos em um exemplo, algumas das imagens mais emblemáticas que temos de críticas a Adolf Hitler e à sociedade industrial são de palhaçadas interpretadas por Charles Chaplin.

Ou seja, Dylan é o palhaço, mas os ridicularizados são mesmo o Prêmio Nobel de Literatura e a Academia Sueca.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.