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Cinco provas de que Pedro Bial acertou ao trocar o BBB por um talk show

Mauricio Stycer

21/09/2017 05h01


Um dos principais assuntos na manhã desta quarta-feira (20) foi uma declaração do comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Boas. Ele disse que não haverá punição ao general Antonio Hamilton Martins Mourão, secretário de economia e finanças da corporação, por ter falado sobre a possibilidade de intervenção militar no país.

O assunto surgiu no início da semana e, mostrando atenção e agilidade, o programa "Conversa com Bial" foi o primeiro a conseguir ouvir Villas Boas a respeito. O "furo" premiou a aposta do talk show em tentar ser relevante, do ponto de vista jornalístico.

Para o apresentador, que por 15 anos esteve à frente do "Big Brother Brasil", trata-se de uma vitória. Muito criticado por ter trocado o jornalismo pelo entretenimento popular, Pedro Bial mostra que continua com o faro jornalístico apurado e interessado em promover debates importantes.

Abaixo, cinco características que tem chamado a atenção no talk show nestes seus primeiros meses de vida (estreou em 2 de maio).

Relevância: "Conversa com Bial" tem buscado discutir questões importantes, que dizem respeito aos rumos do país. Já entrevistou dois ministros do STF (Cármen Lucia e Luis Roberto Barroso), um ex-ministro da Corte (Carlos Ayres), o ex-presidente do Uruguai José Mujica, além de jovens ativistas de movimentos políticos. Também já debateu corrupção e impunidade com o filósofo Leandro Karnal. Num sinal de que não quer transformar o programa em palanque, tem evitado a presença de parlamentares.

Direitos humanos: A pauta do programa frequentemente abraça temas que dizem respeito a minorias ou a direitos negligenciados, como racismo, homofobia, preconceito contra transexuais, dificuldades de pessoas com limitação física, direitos dos animais etc.

Corpo e espírito: Assuntos tratados com superficialidade em outros programas da própria Globo, têm merecido uma abordagem mais densa no talk show de Bial, como alcoolismo, alimentação e maternidade, entre outros. O programa também tem dado espaço a religiosos de diferentes matizes (budismo, catolicismo, espirtualismo).

Homenagens: De forma corajosa, o talk show tem dedicado episódios inteiros ao debate sobre o legado de personalidades já mortas. Digo "corajosa" porque são conversas que fogem da pauta óbvia, mais ligada aos assuntos do dia-a-dia ou impostos pela indústria cultural. Cito, entre outros, os papos sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade, José Saramago, Betinho, Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto.

Poesia, música e arte: Sem a obrigação de fazer "discursos de eliminação" com poemas fajutos, Bial tem tido a oportunidade de promover conversas alentadas com artistas das mais variadas áreas. Coincidência, ou não, as melhores entrevistas têm se dado com músicos mais maduros, como Rita Lee, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ronnie Von. Também foi muito boa a conversa com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.