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Liga da Justiça afunda nas bilheterias. Como fica o futuro da DC no cinema?

Roberto Sadovski

21/11/2017 02h11

Liga da Justiça se anunciou como um canhão, mas terminou reduzido a um traque. A reunião dos heróis mais conhecidos do planeta não conseguiu sequer quebrar a barreira dos 100 milhões de dólares em sua estreia nos Estados Unidos. Pior: os números apontavam uma renda de 96 milhões, mas a contagem final ficou dois milhões (e fração) abaixo dessa expectativa já ruim. É o pior resultado entre os cinco filmes do Universo Expandido DC – O Homem de Aço estreou, em 2013, com 116 milhões (e um total de 291 milhões), seguido de Batman vs Superman (2016, 166 milhões/total de 330 milhões), Esquadrão Suicida (2016, 133 milhões/total de 325 milhões) e Mulher-Maravilha, que chegou aos cinemas em junho deste ano com 103 milhões, atingindo um resultado doméstico de inacreditáveis 412 milhões de dólares. Nesse ritmo, Liga da Justiça vai suar a camisa para alcançar pífios 200 milhões nos cinemas ianques – nada animador para uma produção estimada em 300 milhões de dólares. O que representa um baque pesado nos planos da DC no cinema.

Se é que ainda sobrou algum plano! Quando O Homem de Aço chegou aos cinemas, já na sombra do que a Marvel andava fazendo no quintal vizinho, a DC ensaiou correr atrás de um universo compartilhado para chamar de seu. Em 2014 o estúdio anunciou seu line up de aventuras que chegariam aos cinemas nos anos seguintes, começando com Batman vs Superman, Esquadrão Suicida e Mulher-Maravilha. A sova da crítica e a indiferença dos fãs ante os dois primeiros fez o estúdio reavaliar seus planos: o que era "sombrio e realista, mais maduro que a concorrência" logo se tornou um "precisamos encontrar a leveza, nossos personagens representam o otimismo". Os filmes restantes desse primeiro anúncio traziam Liga da Justiça (ainda com um "Parte 1" no título), que está em cartaz, The Flash e Aquaman para 2018, Shazam e Liga da Justiça Parte 2 para 2019, com Cyborg e Tropa dos Lanternas Verdes para 2020. Dedos cruzados, certo?

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Empolgados, talvez com o movimento não só na concorrência, mas com todo estúdio em Hollywood aprontando sua versão de "universo compartilhado", a DC colocou na linha de montagem uma expansão do universo do Homem-Morcego. Asa Noturna e Batgirl (este um projeto de Joss Whedon) estão em estágios embrionários. Sereias de Gotham parece sobreviver com aparelhos nas mãos de David Ayer, assim como Coringa e Arlequina, em teoria sendo tocado pelos cineastas de Amor à Toda Prova (duh…). E você lembra quando The Batman seria escrito por Chris Terrio e Ben Affleck, com direção do próprio Affleck? Parece uma eternidade… O filme agora está com Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra) e periga perder seu protagonista – Jake Gyllenhaal seria seu substituto. Ah, e o Superman? O Homem de Aço 2, que teve o maravilhoso boato de que a direção estaria nas mãos de George Miller (Mad Max: Estrada da Fúria), encontra-se em ponto morto – assim como o super-herói em TODO material promocional de Liga, ausente de trailers e pôsteres e traquitanas. Gênios…

Os números de Liga da Justiça, enfim, jogam poeira em toda engrenagem da DC. De tudo que fora anunciado, as únicas certezas são Aquaman (agendado para 21 de dezembro de 2018) e Mulher-Maravilha 2 (este com estreia em 13 de dezembro de 2019). Os engravatados do estúdio estão, neste começo de semana, fazendo malabarismos para apaziguar uma situação crítica, contando com as crianças fora das escolas no feriado de Ação de Graças para anabolizar a bilheteria da produção. Mas é puro controle de danos. Insistir em um universo compartilhado, a essa altura, é metralhar o pé. Mulher-Maravilha, afinal, mordeu 821 milhões de dólares em todo o mundo com uma aventura ambientada na Primeira Guerra Mundial e sem nenhuma conexão com outros filmes. A DC também está tentando tirar The Flash da gaveta a todo custo – agora como posicionamento estratégico. Afinal, sua inspiração é a série Ponto de Ignição, responsável por reescrever a cronologia da editora nos quadrinhos – e uma desculpa perfeita para apertar o reset no cinema. Mas este Flashpoint, que pode ter Cyborg, Mulher-Maravilha e o Batman em cena, continua sem roteirista e sem diretor.

Essa cena sumiu do filme….

A essa altura, é melhor abandonar o conceito de universo compartilhado, que já ficou evidente ser um jogo para quem realmente entende da coisa. Nem seriam os primeiros, já que a Universal aparentemente desistiu de seu Dark Universe após um único fiasco. Não existe nenhum motivo, por exemplo, para Shazam! ter conexão com outros filmes – e o diretor David F. Sandberg (Quando As Luzes se Apagam) está tocando o barco muitíssimo bem, Zachary Levi e Mark Strong à bordo, mirando uma estreia em 5 de abril de 2019. Como não se pode ignorar a força das propriedades intelectuais, a DC podia investir no nicho do "Bat-universo", concentrando seus personagens em filmes diferentes com gêneros diversos – tem funcionado para a Fox e seu "X-universe", que ano que vem aposta em comédia de ação (Deadpool 2), terror (Os Novos Mutantes) e épico espacial (X-Men: Fênix Negra).

Com Aquaman e Mulher-Maravilha 2 surgindo como as únicas certezas do Universo Extendido DC, é fácil fazer algumas apostas. Ben Affleck, que andava hesitante sobre sua permanência como o Batman, deve se despedir do personagem. Zack Snyder, que chegou a ser apontado como o papa dos heróis da editora no cinema, também não deve retornar – em algum lugar, sua versão de Liga da Justiça espera, com fé, ver a luz do dia, provavelmente em alguma "Ultimate Extreme Super Blaster Master Director's Edition". Flashpoint deve voltar ao estaleiro e ser retrabalhado de acordo com uma nova ótica, sendo reapresentado como ponto de partida zero bala para a DC no cinema.

Será que Geoff Johns terá força para arrumar a bagunça na DC?

O resto da agenda, se o estúdio for esperto, ficará sob o comando dos cineastas que eles apontarem, sem fidelidade canina a um "universo", sem interferência extrema dos engravatados. Quem sabe não seja a oportunidade perfeita para entregar de fato as chaves do reino para Geoff Johns, um sujeito realmente apaixonado pelos personagens e dedicado a ver cada um deles da melhor forma nos cinemas? No fim, meus caros, o dinheiro manda, não adianta chorar. Como consolo, no resto do mundo a estreia de Liga da Justiça foi até decente, com a China liderando a carga com 52 milhões de dólares e o filme batendo todos os recordes em sua estreia no…. Brasil! Como diria o Cyborg, em um diálogo que deixaria os anos 90 orgulhosos: "BOO-YA"!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.