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Na volta do “Bipolar Show”, Wagner Moura critica a “patrulha ideológica”

Mauricio Stycer

19/09/2017 04h01


No espaço onde um dia funcionou o Cassino da Urca e depois a TV Tupi, Michel Melamed questiona Wagner Moura sobre o engajamento de artistas no momento atual do Brasil. O protagonista de "Narcos", conhecido por suas posições de esquerda, surpreende o apresentador e diz: "As pessoas têm que estar confortáveis. Se a gente está trabalhando pela democracia, pelo bem-estar dos outros, como é que a gente vai exigir que a pessoa faça algo que vai ser ruim pra ela?"

Moura não vê com bons olhos a pressão de artistas de esquerda para que todos se manifestem politicamente. "É a patrulha ideológica", critica. Também acha errado pressionar atores homossexuais para sair do armário. Ou cobrar posicionamento de figuras públicas em defesa de uma política mais liberal na questão do consumo de drogas.

O diálogo é um dos pontos altos da estreia da terceira temporada de "Bipolar Show", programa que Melamed criou, dirige, edita e apresenta no Canal Brasil. O episódio, já disponível no site do canal, vai ao ar nesta terça-feira (19), às 21h30.

Em meio às ruínas onde ocorre a entrevista, um rato não convidado é visto passando ao fundo. Melamed brinca com a situação. Moura não parece tão confortável, o que é compreensível. Já apresentador gosta justamente deste estranhamento. É parte do show.

Melamed improvisa, provoca e entrevista sem um roteiro pré-definido, na expectativa de registrar momentos originais, não estudados, dos seus convidados. O método funciona às vezes, mas também confunde. E em vários momentos resulta numa conversa caótica.

Moura, do nada, canta o hino do Vitória, seu clube do coração. Ambos bebem e fumam. Glauber Rocha é citado: "Na arte o mais importante não é talento, mas coragem".

O ator avança e conta que sua carreira foi pautada mais por "nãos" do que "sim" a convites. "Fui pautado pelo meu desejo e no que eu projeto para o artista que eu quero ser. Quero ser livre".

No segundo episódio, Melamed recebe Debora Falabella. Ela conta que já sofreu de depressão. "Você não sabe de onde vem". A conversa progride tensa e o apresentador conta que tomou um remédio. E diz: "É importante que os apresentadores de televisão confessem o que eles tomam. E por quê".

Em entrevista a "O Globo", Melamed explicou por que decidiu gravar o "Bipolar Show" numa ruína: "A escolha desse lugar tem tudo a ver com o momento pelo qual o país passa. Aquele local já foi a maior casa de shows da América Latina e hoje está em ruínas. Sintetiza bem o Brasil, que tem um potencial enorme e está nessa crise absurda".

Como nas duas temporadas anteriores, o poeta, diretor teatral, autor e ator parece determinado a dar nova cara ao formato do talk show. A inciativa é elogiável e é bom que encontre um espaço para ser vista. "Porque um foda-se vale mais que mil palavras", diz ele na abertura do programa de estreia.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.