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Filme mostra a vida louca da Princesa Leia

André Barcinski

13/01/2017 05h59

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A HBO está exibindo "Bright Lights" ("Luzes Brilhantes"), um documentário recente sobre o relacionamento entre as atrizes Carrie Fisher e a mãe, Debbie Reynolds. Escrevi sobre o filme para a "Folha" (leia aqui), mas o espaço foi pequeno e acho que o assunto merece um destaque maior.

Carrie Fisher é conhecida no mundo todo como a Princesa Leia de "Guerrra nas Estrelas". Debbie Reynolds foi um dos maiores nomes do cinema hollywoodiano dos anos 1950, atriz de clássicos como "Cantando na Chuva".

A vida da família Fisher lembra um dramalhão mexicano: em 1955, Debbie Reynolds casou com o cantor galã Eddie Fisher. Tiveram dois filhos, Carrie e Todd. Parecia o casamento perfeito: papai e mamãe eram ricos, lindos, famosos e talentosos. Imagens de arquivo mostram os Fisher brincando na piscina, andando pela praia e posando alegres para revistas de celebridades.

Em 1958, Fisher largou Debbie para ficar com a melhor amiga dela, a diva Elizabeth Taylor. Foi um dos grandes escândalos da história de Hollywood: a "sex bomb" Liz Taylor, que meses antes havia perdido o marido, o produtor de cinema Mike Todd, num acidente de avião, roubando o marido da amiga Debbie, a simpática "Namoradinha da América". Carrie não havia completado dois anos. Todd tinha meses de idade.

O escândalo custou caro a Eddie Fisher. A rede de TV NBC cancelou a série de TV "The Eddie Fisher Show", e o cantor precisou aumentar bastante o número de apresentações em clubes e boates. Para aguentar o ritmo, começou a tomar doses de metanfetamina e acabou se viciando na droga. Eddie também foi dispensado pela gravadora RCA, onde havia lançado 35 canções que chegaram ao Top 40 da parada norte-americana.

No filme "Bright Lights", Todd conta que ele e Carrie começaram a usar drogas ainda adolescentes: "Eu fumava muita maconha com Carrie, mas felizmente parei por ali. Carrie continuou". Carrie logo passou a usar cocaína e ácido. Para piorar, era bipolar e depressiva. Acabou em clínicas psiquiátricas, sofreu tratamento de eletrochoques e começou a usar remédios pesados para combater seus problemas psiquiátricos.

Inteligente e dona de um senso de humor negro e ácido, Carrie sempre falou de seus vícios com uma sinceridade rara em celebridades: "As drogas me ajudavam a me sentir normal. Elas me continham".

Em 1977, foi convidada para atuar em "Guerra nas Estrelas". Todd conta que Carrie tinha tão pouca confiança no sucesso do filme que, na estreia, fez questão de se esconder numa fileira no fundo da sala: "Ela achava que era um filme B e que não era muito bom", diz Todd. O papel de Princesa Leia a transformou em uma celebridade muito maior que a mãe.

Nos anos 80, Carrie viveu seus momentos mais pesados com drogas. Namorou o ator Dan Aykroyd, amicíssimo de John Belushi (1949-1982) e de sua esposa, Judy. Os casais promoviam finais de semana regados a álcool, pó e ácido. Carrie atuou com Aykroyd e Belushi em "Os Irmãos Cara de Pau" (1980). Sobre o filme, o diretor John Landis disse que passou mais tempo esperando Belushi sair do trailer do que filmando.

Belushi, Aykroyd e Carrie: trio parada dura

Belushi, Aykroyd e Carrie: trio parada dura

"Bright Lights" até pega leve com Carrie. O filme não menciona os tratamentos de eletrochoques e a morte de um amigo em 2005, por overdose de cocaína, na cama dela. Também não fala do drama da filha, Billie Lourd, que passou boa parte da infância às voltas com as seguidas internações da mãe. "Quantas crianças de oito anos passaram a infância visitando a mãe em clínicas psiquiátricas?", disse Carrie. "Não sou uma pessoa de ter muitos arrependimentos, mas sinto por tudo que fiz e que tornou mais dura a vida de minha filha".

As melhores sequências de "Bright Lights" são as recentes, mostrando a vida de Carrie e Debbie. A primeira claramente ainda sofre com graves problemas mentais, mas tenta manter um ar de normalidade. Já Debbie parece viver nos anos 1950: não sai de casa sem um vestido extravagante, coleciona figurinos clássicos hollywoodianos e é incapaz de falar uma frase que não soe ensaiada para as câmeras. A família toda é, digamos, extravagante: a cunhada de Carrie, esposa do irmão, Todd, anda com um galo de estimação a tiracolo, que ela acaricia como se fosse um poodle.

A vida das Fisher não é fácil: Carrie ganha uma grana autografando cartazes e fotos em convenções de fãs de "Guerra nas Estrelas"; Debbie faz shows em resorts para públicos de idosos. Quando as finanças apertam, Debbie organiza leilões para vender sua imensa coleção de figurinos, incluindo o famoso vestido esvoaçante que Marilyn Monroe usou em "O Pecado Mora ao Lado".

"Bright Lights" é um filme triste e comovente. Uma das sequências mais pesadas mostra Carrie visitando o pai, Eddie, irreconhecível de tão decrépito. "Você me ama, papai?", pergunta Carrie. "Mais do que tudo no mundo", responde o pai. Ele morreria três meses depois. O filme termina no meio de 2016, poucos meses antes da morte de Carrie Fisher. E saber que Debbie morreu preparando o velório da filha torna a história da família ainda mais bizarra.

A HBO exibe "Bright Lights" domingo, dia 15, às 12h55, e quinta, dia 19, às 19. Não perca.

Um excelente fim de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.