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Tom Cruise faz um espião de verdade e mira no Oscar com o drama Feito na América

Roberto Sadovski

04/06/2017 11h52

Tom Cruise é o astro de Top Gun e Missão Impossível. O sujeito comum de Rain Man e Guerra dos Mundos. O ator incrível de Magnólia e Jerry Maguire – indicado ao Oscar por ambos. Até hoje, porém, ele só emprestou seu sorriso milionário a dois personagens reais. O primeiro foi Ron Kovic, veterano paralisado na Guerra do Vietnã em Nascido em 4 de Julho. Foi indicado ao Oscar, não levou. O segundo foi o oficial nazista que tramou contra Hitler, Claus von Stauffenberg, de Operação Valquíria. A Academia deu de ombros. Em agosto ele encara um papel que pode desempatar este jogo: Barry Seal, piloto americano que traficou armas (sob as asas da CIA) e drogas (para o Cartel de Medellín) nos anos 80. O filme é Feito na América, com direção de Doug Liman. Que é o primeiro a se entusiasmar por seu astro.

"Tom Cruise é o melhor parceiro que um diretor pode querer", dispara Liman, de cara, num papo comigo por telefone, pouco antes do lançamento do primeiro trailer de Feito na América. "Ele é um profissional completo, dá ideias, ouve a equipe e entende perfeitamente o que o público quer. Sem falar que tem um compromisso total com o realismo." No caso de seu papel como Barry Seal, a preparação incluiu pilotar aviões de pequeno porte sob a supervisão de pilotos que fizeram o mesmo trajeto que seu personagem na época. "A cada dia aqueles sujeitos nos contavam uma nova história", continua o diretor. "Eu e Tom ficávamos entusiasmados e logo criávamos uma nova sequência de ação para o filme. Os produtores nos proibiram de continuar com tanto papo."

Doug Liman surgiu com o sucesso independente Swingers, de 1996, no qual ele logo emendou a comédia indie Vamos Nessa! em 1999. Mas sua paixão era mesmo o cinema de espionagem, já que a vida real lhe dava exemplos claros em casa: seu pai é um advogado notório nos Estados Unidos por representar o senado americano no escândalo político Irã-Contra. Não foi ao acaso que ele redirecionou sua carreira com a criação de uma das séries mais empolgantes do cinema moderno com A Identidade Bourne (2002), seguido de Sr. e Sra. Smith (2005), que abordava o casal de espiões interpretado por Brad Pitt e Angelina Jolie. Mas a história de Barry Seal já estava em sua mente, concretizando-se quando ele viu em Tom Cruise o intérprete perfeito para o piloto.

Tom Cruise como o piloto Barry Seals em Feito na América

"Eu já conhecia toda a história de Seals do ponto de vista do governo, ouvindo meu pai falar sobre o caso", recorda. "Mas Feito na América foi a oportunidade de enxergar o outro lado, a loucura que era um homem viver tão de frente para o perigo e tentar, ao fim do dia, voltar para casa e levar o mais próximo que podia de uma vida normal." O filme traz o começo de Seal como piloto comercial e a oportunidade para trabalhar levando drogas para os Estados Unidos. "Ele foi recrutado pela CIA, o que basicamente fez dele um espião", continua Liman. "Mas era uma contradição, já que a CIA precisava sempre trabalhar seguindo as regras, e para isso precisava empregar pessoas que, como Seal, eram totalmente avessos a elas." O diretor conta que, durante a preparação do filme, descobriu também que um homem propenso a quebrar regras fará exatamente isso quando tem a chance: "A CIA o colocou no lugar perfeito e de maior tentação para quem já vive no limite".

A parceria com Tom Cruise não é inédita, começou em 2014 com a excelente ficção científica No Limite do Amanhã. No filme, Cruise interpreta um soldado em uma guerra contra invasores alienígenas que, graças a um encontro imediato com um ET do mal, volta um dia no tempo continuamente sempre que morre no campo de batalha. A cada nova "morte", ele ganha mais experiência e ferramentas para derrotar os visitantes. "Estamos agora trabalhando na continuação", empolga-se Liman. "O nome por enquanto é Live, Die Repeat and Repeat, e é ao mesmo tempo um prequel e uma sequência!" Quando menciono que ele basicamente transforma Cruise em um super-herói, o diretor diz que todos os seus filmes são sobre pessoas capazes de feitos extraordinários. Talvez, apressa-se em explicar, seja esse o motivo de ele ter se retirado recentemente de dois projetos de super-heróis, Gambit e Justice League Dark. "Acho que já está muito na cara que eu já estou criando super-heróis, de Jason Bourne a William Cage", completa. "E também Barry Seal, que fez coisas e viveu coisas dignas de um homem extraordinário."

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.