A novela continua: The Batman será, afinal, dirigido (e produzido) por Matt Reeves. E agora?
Parece novela. Ruim. Dramalhão cheio de reviravoltas e emoções de plástico, sabe? Mas a Warner/DC finalmente fechou com o diretor Matt Reeves para conduzir The Batman, próximo filme solo do Cavaleiro das Trevas, que deve chegar aos cinemas em alguns anos. É mais um capítulo de uma história torta que mostra o quanto o Universo Estendido DC, com três filmes no currículo e mais dois agendados para este ano, sofre de uma total falta de organização.
Primeiro, o roteiro do filme parecia entrar num labirinto sem saída, com Ben Affleck, intérprete do Homem-Morcego, oscilando entre "o texto é ótimo" e "ainda não temos um script" em diversas entrevistas. Depois, Affleck abandonou a direção do filme, alegando que tinha de "se dedicar a compor o personagem". Por fim, a caçada a um novo diretor esbarrou em vários nomes, passou por Matt Reeves, viu o responsável por Cloverfield encerrar o diálogo com o estúdio para, finalmente, voltar atrás e assinar na linha pontilhada.
Essa bagunça só consegue minar a confiança dos fãs na coerência que os filmes da DC pretende alcançar. Pior: mostra a dificuldade do estúdio em escolher um cineasta de talento e visão e entregar a ele seu maior produto corporativo. No fim, tudo se resume a dinheiro – o que é o oposto da lógica para a criação de um filme que deixe um legado. Grana, afinal, não é problema. Os três primeiros filmes do UEDC ficaram longe do negativo: O Homem de Aço (668 milhões de dólares), Batman vs Superman (873 milhões) e Esquadrão Suicida (745 milhões) fizeram bonito…. aos olhos de executivos do estúdio. Nenhum bateu no bilhão mágico, nenhum empolgou as plateias para a continuação deste universo – Mulher-Maravilha (estreia em 1 de junho) e Liga da Justiça (estreia em 16 de novembro) são os próximos da fila.
Mas não dá para ter o luxo de errar com o Batman. Sem nenhum exagero, o Cruzado de Capa é a pedra fundamental da DC no cinema, a balisa pela qual todos os outros filmes são guiados. Não precisa pensar muito. Batman, que Tim Burton fez em 1989, faturou fenomenais 411 milhões de dólares e iniciou uma nova era de heróis dos quadrinhos no cinema. Batman & Robin, com George Clooney enfrentando Arnold Schwarzenegger em 1997, embolsou pálidos 240 milhões e sepultou a confiança no "gênero" por anos. Quando Batman – O Cavaleiro das Trevas colocou 1 bilhão nos cofres do estúdio sob o olhar de Christopher Nolan em 2008, elevou os heróis de gibis a um patamar de seriedade até então inédito na indústria. A Marvel tem seu universo e vai muitíssimo bem, obrigado. Mas eles não tem o Batman, e isso sempre será uma desvantagem.
O Batman é o centro nervoso do UEDC, e encontrou em Ben Affleck um ator com maturidade e mistério para soprar vida ao Homem-Morcego. Mesmo emoldurado por um filme bem ruim, ele fez com que Batman vs Superman fosse uma experiência menos dolorosa. Sua participação pequena em Esquadrão Suicida emprestou coerência e um senso de continuidade em um filme que não passa de colagem. Colocar o herói como motor de Liga da Justiça é uma decisão inteligente. E lhe dar uma aventura solo com The Batman é o caminho óbvio. Precisava mesmo trilhar um caminho tão espinhoso? Fechar na prorrogação do segundo tempo com Matt Reeves mostra que o estúdio pode até ter endurecido seu jogo e sua sanha por controle, mas teve de ceder algo para não atrasar ainda mais o início de todo o processo de criar o filme.
Aí vem a questão principal levantada pela decisão: a Warner também confirmou Reeves como produtor de The Batman. Em nenhum momento o visionário Zack Snyder, até então o principal arquiteto do UEDC, é apontado como parte da equipe – o roteiro foi escrito por Chris Terrio, expandindo uma história assinada por Ben Affleck e Geoff Johns. Snyder continua trabalhando em Liga da Justiça, em que ele assina a direção, mas seu envolvimento aparentemente termina aí. É fato que sua contribuição foi essencial para definir a estética dos filmes da DC, mas é também fato que ele deixou coisas básicas como narrativa e desenvolvimento de personagens em alguma gaveta, enfatizando o visual. O futuro deste universo, The Batman e Matt Reeves à frente, é agora uma incógnita. Seu próximo filme, Planeta dos Macacos – A Guerra, estreia em 13 de julho.
Cenas do próximo capítulo: será que Mel Gibson será o diretor do segundo Esquadrão Suicida?
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