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Festival de Berlim: Cineastas latino-americanos se unem contra Donald Trump

De Berlim (Alemanha)

15/02/2017 17h28

A América Latina não se amedronta perante as ameaças de Donald Trump. É o que dizem cineastas da região, como Diego Luna ou Sebastián Lelio, na Berlinale, pedindo que a política excludente do presidente americano seja combatida com as armas do conhecimento e da cultura.

"O mundo se tornou político: está pedindo que você tenha uma opinião e se envolva", afirmou o ator e diretor mexicano Diego Luna, membro do júri do festival de cinema.

"Temos que nos assegurar de que estamos nos conectando com toda a parte dos Estados Unidos que está resistindo", acrescentou, em um ato de rejeição às barreiras, realizado simbolicamente em frente ao muro de Berlim.

Longe do derrotismo, a política de retirada de Trump e sua vontade de restringir a entrada de estrangeiros nos Estados Unidos provocaram um grito unânime de resistência.

Para o chileno Sebastián Lelio, que na Berlinale concorre ao Urso de Ouro com "Uma Mulher Fantástica", ante esta onda de "retrocesso geral" que quer "colocar rótulos nas pessoas", há uma "contraonda que é inclusiva e quer abraçar a complexidade da vida".

"Não vejo muitos aliados de Trump, ele aborreceu os mexicanos, os argentinos, os alemães, os chineses... Há algo que está nos irmanando", concordou o documentalista mexicano Everardo González.

"Não deveríamos ter medo dele", disse à agência France Press o diretor de "La Libertad del Diablo".

"Se Trump decide que os abacates mexicanos, que são deliciosos, não vão entrar nos Estados Unidos, que não os coma. Inicialmente vai nos afetar, mas alguém vai comprá-los", apontou a cineasta mexicana María Novaro.

Esta situação "pode ser uma oportunidade de dizer: aqui estamos", disse à France Press a diretora de "Lola" e "Tesoros", destacando a "autoestima e força da cultura" mexicana.

Identidade cultural

Um espírito combativo que para estes cineastas que apresentaram seus últimos filmes na Berlinale, um festival militante, se arma com o conhecimento e a cultura.

A eleição de Trump para a presidência dos Estados Unidos é uma amostra de que "não aprendemos, de que o perigo do fascismo continua ali", disse Lelio, cujo filme sobre uma mulher transexual derruba preconceitos, exaltando a inclusão social.

"Cada geração precisa aprender isso tudo de novo. Por isso é importante transmitir o conhecimento, (...) senão podemos voltar a cair nos tempos escuros em um piscar de olhos".

"A cultura e a arte são a única via para chegar ao entendimento e ao melhoramento humano", disse o cineasta cubano Fernando Pérez

Pérez apresentou em Berlim "Últimos Días en La Habana", um filme sobre dois amigos que vivem juntos em um paupérrimo apartamento na capital cubana.

Incapaz de desfrutar do momento presente, Miguel só sonha em ir para os Estados Unidos. Já Daniel, prostrado na cama pela Aids, é pura energia positiva, agradecido pelo que tem.

"O sentido do novo cinema latino-americano aspira mais a reafirmar nossa identidade cultural do que a preencher as telas do mundo", disse Pérez.

"E se o fenômeno Trump contribui para reforçar nossa unidade, perfeito", afirma.