Com filme para a Netflix, Angelina Jolie tenta superar fracassos na direção
Da Lara Croft de “Tomb Raider”, Angelina Jolie levou mais do que alguns milhões e o posto de estrela de ação de Hollywood no começo dos anos 2000: ela carregou também uma paixão pelo Camboja, país que serviu de locação ao filme. O relacionamento se tornou duradouro. Seu primeiro filho, Maddox, foi adotado lá, e a atriz, que passou a se dedicar cada vez mais às causas humanitárias, se tornou cidadã do país em 2005.
Agora, em 2017, a ligação de Jolie com o Camboja deu outro fruto: o filme “First They Killed My Father”, que estreia nesta sexta-feira (15) na Netflix e é dirigido pela atriz. Baseado no livro autobiográfico da escritora e ativista Loung Ung, ele conta a história de uma família separada pelo regime do Khmer Vermelho, que cometeu um genocídio no país nos anos 1970. A principal perspectiva é a da versão criança de Ung, interpretada pela cambojana Sareum Srey Moch.
O filme talvez seja o mais pessoal já feito por Jolie – e isso vai além de seus laços com o país e seu engajamento. Loung Ung é, há anos, uma de suas amigas mais próximas, e colaborou com a adaptação – assim como Maddox, 16, que é creditado como produtor executivo.
Mas “First They Killed My Father” traz ainda outro marco para a artista: é o primeiro de seus filmes como diretora a conquistar a crítica. Exibido no festival de Telluride, no início do mês, ele arrebatou elogios e foi aplaudido de pé pelo público. Veículos como a revista “Hollywood Reporter” e o site IndieWire o classificaram como “o melhor filme” de Jolie até agora e tem especulado sobre possíveis indicações ao Oscar 2018, em categorias além da de melhor filme estrangeiro.
Evolução
A trajetória até aqui não foi simples. Angelina Jolie estreou na direção com “Na Terra do Amor e do Ódio”, lançado em 2011. Contando uma história de amor que tinha como pano de fundo guerra civil da Bósnia, entre um sérvio e uma muçulmana, o longa já carregava a marca do engajamento de Jolie. A ideia do roteiro surgiu, inclusive, de uma visita da atriz à Bósnia Herzegovina como embaixadora da ONU.
O nome estrelado da atriz, porém, não foi suficiente: nas bilheterias americanas, o filme arrecadou US$ 300 mil – quase nada, para os padrões hollywoodianos. A crítica também torceu o nariz, e a produção causou controvérsia no leste europeu, sendo acusada de “fazer propaganda” e de retratar os sérvios como vilões.
Isso não impediu que Jolie voltasse à direção três anos mais tarde. Em 2014, ela lançou “Invencível”, sobre a história do atleta americano Louie Zamperini, que após um desastre aéreo quase fatal durante a Segunda Guerra Mundial sobreviveu por 47 dias dentro de um bote só para ser apanhado por soldados japoneses e se tornar um prisioneiro de guerra.
Os clichês do filme não caíram bem com os críticos, mas a audiência embarcou na história. No mundo todo, “Invencível“ arrecadou US$ 163 milhões na bilheteria, superando bastante seus custos, de US$ 65 milhões.
Em 2015, porém, veio outra escorregada. A atriz e cineasta deixou as guerras de lado para fazer seu filme mais destoante, “À Beira-Mar”. Ela e o então marido, Brad Pitt, estrelaram a produção como um casal em crise e afetado pelo luto – o que viria a ser interpretado pela mídia e pelos fãs como uma espécie de sinal quando foi anunciado que os atores haviam se separado, após 11 anos de união e seis filhos.
Apesar de contar com dois dos maiores nomes de Hollywood em frente às câmeras, o filme não emplacou. “À Beira Mar” arrecadou pouco mais de US$ 3 milhões internacionalmente e não pagou nem metade dos US$ 10 milhões gastos na produção. Ela tampouco conseguiu seduzir os veículos especializados, que a chamaram de “maçante” e “inerte”.
Agora, dois anos mais tarde, “First They Killed My Father” promete ser um ponto de virada para Jolie. A boa repercussão tem ofuscado até a controvérsia em torno do processo de escalação dos atores mirins, por meio de um jogo que envolvia dar dinheiro às crianças para depois pegá-lo de volta. Se ela se mantiver, esta será a chance que a atriz e cineasta precisava para firmar sua carreira como diretora – e, de quebra, deixar para trás o espetáculo midiático em que se transformou o seu divórcio com Brad Pitt.
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