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Vítima pede, mas juiz rejeita encerrar caso de abuso sexual contra Polanski

Roman Polanski durante audiência em 2015 - Janek Skarzynski/AFP
Roman Polanski durante audiência em 2015 Imagem: Janek Skarzynski/AFP

De Los Angeles

19/08/2017 08h23

Um juiz dos Estados Unidos se negou nesta sexta-feira (18) a encerrar o caso de abuso sexual contra o cineasta Roman Polanski aberto desde os anos 70, ao rejeitar o pedido da vítima Samantha Geimer, que em junho passado solicitou ao magistrado que a investigação fosse encerrada para ela poder "virar a página".

Na sua decisão, o juiz federal do condado de Los Angeles Scott Gordon mostrou sua empatia pelos argumentos de Geimer, mas disse que não se pode encerrar um caso "simplesmente porque seria o melhor para a vítima".

"A declaração da vítima sobre este tema é uma prova clara do verdadeiro e real impacto que uma agressão sexual tem na sobrevivente (...). A sua declaração é uma dramática evidência dos duradouros e traumáticos efeitos que estes crimes e a recusa do acusado a obedecer às ordens do tribunal para prestar depoimento estão tendo na sua vida", escreveu Gordon.

O juiz disse que, apesar de poder beneficiar a vítima, a sociedade tem interesse em que se faça justiça, fato que, segundo o magistrado, só é possível se a acusação contra Polanski continuar.

Em junho do ano passado, Geimer foi à Justiça e afirmou que já completou uma "sentença" de 40 anos - em alusão ao mesmo tempo transcorrido desde então -, pelo que pediu que despreze o caso "como um ato de misericórdia" para ela e para sua família.

"Somos seres humanos", disse. "Não se trata de ganhar ou perder", acrescentou.

Na terça-feira (15), uma terceira mulher revelou também ter sido abusada pelo cineasta quando era adolescente. Identificada apenas como Robin, ela que resolveu ir ao tribunal depois de Samantha Geimer pedir às autoridades que arquivassem o caso.

Histórico

Em 1977, Polanski, de 43 anos na época, drogou e obrigou Geimer, de 13 anos, a manter relações sexuais após uma sessão fotográfica.

Polanski se declarou culpado e passou 42 dias na prisão, mas, estando em liberdade pagando uma fiança e com medo de ter de voltar para a prisão para cumprir uma condenação muito mais severa, fugiu dos Estados Unidos, no final de 1978.

O cineasta apresentou em fevereiro deste ano uma série de documentos legais para retornar ao país e encerrar o caso, sempre e quando contasse com a garantia de que não passaria mais tempo preso.

Polanski, de 83 anos, argumentou que na época chegou a um acordo com as autoridades para cumprir apenas 48 dias preso, mas que escapou do país porque o juiz Laurence Rittenband pretendia impor a ele uma pena mais dura do que a pactuada.

No entanto, o juiz Gordon não aceitou essas alegações.

Este embaraço judicial restringiu a liberdade de movimento do diretor por todo o mundo durante décadas, por medo de que os EUA exigisse sua extradição.

Em 2009, as autoridades americanas pediram as da Suíça a detenção do diretor, de nacionalidade francesa e polonesa.

Polanski foi detido no aeroporto de Zurique e passou três meses na prisão e outros sete em detenção domiciliar, até que, finalmente, a Suíça negou sua extradição e o libertou.

A tentativa mais recente de levar Polanski aos tribunais aconteceu em 2015, quando os EUA pediram à Polônia a extradição do artista, uma solicitação que foi rejeitada.