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Filme de O Vendedor de Sonhos, de A. Cury, é um desfile de frases de efeito

Rodrigo Casarin

07/12/2016 10h02

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"O primeiro a ser beneficiado pelo perdão é aquele que perdoa, não o perdoado". "O ser humano não morre quando o coração para de bater, morre quando, de alguma forma, deixa de se sentir importante". "O segredo do sucesso é conquistar aquilo que o dinheiro não pode comprar". "Não tenha medo do caminho, tenha medo de não caminhar". "Todo mundo merece uma segunda chance".

Um festival de frases de efeito – ou frases feitas, como preferir –, é isso que o espectador pode esperar da adaptação cinematográfica de "O Vendedor de Sonhos", best-seller de Augusto Cury que já vendeu mais de 3 milhões de exemplares e foi traduzido para cerca de 60 idiomas. Transposto para as telonas por Jayme Monjardim ("O Tempo e o Vento", "Olga" e diversas novelas), o filme é centrado na relação entre Júlio César (Dan Stulbach), respeitado e renomado psicólogo, e um sábio mendigo que se autodefine como "vendedor de sonhos" e é chamado por seus colegas de "mestre", interpretado pelo uruguaio César Troncoso.

Ao lado de L. G. Bayão, Cury participou efetivamente da elaboração do roteiro. "As pérolas, as frases impactantes, foram trabalhadas para respeitar o livro e adaptadas para as circunstâncias atuais. Discutimos isso inúmeras vezes. Tive conversas íntimas, 'secretas', com o Jayme também", diz o escritor em entrevista ao blog.

curyNa história, por conta de problemas com o seu filho, Júlio César está prestes a se jogar do vigésimo primeiro andar de um luxuoso edifício empresarial na zona sul de São Paulo quando o mendigo resolve intervir. De maneira um tanto irreal, o "vendedor de sonhos" passa por todo sistema se segurança – tanto do prédio quanto do aparato montado para tentar impedir o suicídio – e senta no parapeito ao lado do psicólogo. Suas palavras que convencem o homem bem-sucedido profissionalmente a não dar cabo de sua vida.

Daí em diante, Júlio César passa a seguir o "vendedor de sonhos", que desfila suas frases emblemáticas por onde passa – aliás, não perde uma oportunidade de tentar levar sua sabedoria aos outros. Bem como toda a obra de Cury, a principal crítica do "mestre" está na maneira que a sociedade se porta: um sistema doente que cria cidadãos doentes, mais preocupados com o dinheiro e bens materiais do que com a "verdadeira felicidade", que viria principalmente do bom relacionamento entre as pessoas. Ao provocar empresários, no entanto, a vida do mendigo erudito é colocada em risco, ao mesmo tempo que o seu obtuso passado se revela.

"Lacrimejei os olhos quatro vezes"

"Esperava não me emocionar, mas, impressionante, lacrimejei os olhos quatro vezes enquanto assistia ao filme, esqueci que era o autor e fiz uma viagem para dentro de mim mesmo. Esperava que poderia trair o livro, mas o longa me representa em prosa e verso", conta Cury. "Em uma hora e quarenta não dá pra reproduzir milhares de cenas e ambientes, então optamos pelas mais marcantes. O mestre, que é alguém que acertou no trivial, mas errou no essencial, acusa a sociedade moderna de ser um manicômio global, que se tornou uma fábrica de pessoas depressivas, angustiadas, especialistas em apontar falhas, não formar seres humanos. É uma crítica à ditadura da beleza, ao consumismo, ao Brasil dos milionários", continua o escritor.

O vendedor de sonhos 1 (capa).inddEssa mensagem transmitida pelo filme é daquelas cujas pessoas parecem entender e concordar com facilidade, mas possuem grande dificuldade em colocar em prática. Cury, que é psiquiatra e especialista em inteligência multifocal, concorda com isso e explica que o processo para se adquirir a "verdadeira riqueza" precisa ser uma constante:

"São ferramentas que dependem da gestão da emoção. É difícil. Por exemplo, dando conferência na Romênia, falei do Drácula e de que não temos vampiros fora de nós, mas sim dentro: sofrer por antecipação, cobrar muito de si, a necessidade neurótica de cobrar os outros… Se as pessoas não exercitam todos os dias algo contrário a isso, nos tornamos vendedores de pesadelos, carrascos de nós mesmos, não vendedores de sonhos. Somos viciados em nos punir e punir as pessoas, temos um cérebro viciado em apontar falhas".

Novo final para o livro

Por conta do filme, Cury escreveu um novo final, focado no filho de Júlio César, para o seu romance. O trecho inédito está presente no volume publicado pela Planeta com o cartaz do longa como capa.

Segundo o autor, ao menos outros cinco filmes inspirados em seus trabalhos deverão ser lançados nos próximos anos: "Felicidade Roubada", "O Futuro da Humanidade", "O Homem Mais Inteligente da História", "O Vendedor de Sonhos Dois" e "Petrus Logus". Ao todo, os livros de Cury já venderam mais de 30 milhões de exemplares.

Com distribuição da Warner e da Fox Filme do Brasil – corresponsáveis pela produção do longa junto com a Filmland Internacional -, "O Vendedor de Sonhos" estreia nesta quinta em todo o país e tem ainda no elenco nomes como Guilherme Prates, Leonardo Medeiros e Thiago Mendonça. Veja o trailer:

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.