Maternidade e Universidade: Como lidar?
Sabemos que quando uma mulher fica grávida, ela coloca o seu bebê e a sua gestação acima de qualquer coisa, e isto se torna a principal prioridade dela. Agora, e quando uma mulher descobre que está grávida já cursando uma Universidade, o que muda? quais são os desafios encontrados? como ela lida com tudo isso? Vamos responder sobre todas essas questões nesta matéria.
Quando uma gravidez desejada ou não aparece no meio dos estudos de uma jovem tudo começa a mudar, a cabeça dela começa a mudar, as pessoas em volta começam a dar palpites e isso acaba gerando uma confusão em sua vida.Muitas vezes a mesma acaba pensando em desistir de estudar pois acha que não conseguirá conciliar os estudos com a maternidade, e até mesmo acaba ouvindo comentários maldosos e desnecessários sobre o fato dela estar grávida e continuar estudando numa universidade.
Algumas grávidas que cursam o ensino superior não sabem que há uma lei 1.044/69 que foi criada para possibilitar o regime de exercícios domiciliares às pessoas doentes e impossibilitadas de frequentar a escola. Em 1975, a Lei n° 6.202 estendeu esse direito para as mulheres grávidas, garantindo: "Art. 1º A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares instituído pelo Decreto-lei número 1.044, 21 de outubro de 1969.".
E após o nascimento do bebê? Por que quando está grávida, apesar da fadiga e sono excessivo é possível ainda realizar todas as atividades, mas passando a gravidez a maior preocupação é como cuidar de um bebê, estudar e trabalhar.
Nesse momento, é muito importante a ajuda da família e do companheiro para que os estudos da mulher não seja interrompido com a maternidade, é provável que seja mais difícil voltar com a rotina normalmente algumas irão demorar um pouco mais e outras já voltaram rápido e com mais facilidade. O retorno depende da realidade de cada mãe, não importa o tempo que leve desde que ela volte aos estudos e consiga conciliar todos os papéis que lhe cabem na sociedade.
A seguir temos os depoimentos de quatro mulheres que estão ou estavam grávidas durante o curso, sendo que uma delas teve um aborto espontâneo.
"Sempre planejei cada passo da minha vida, eu tinha o desejo de ser mãe porém esse desejo ficaria pra depois da faculdade. Por um descuido acabei engravidando no meio do curso, quando descobri a gravidez eu estava envolvida em projetos da faculdade e me dedicava totalmente a vida acadêmica já que estou desempregada, porém sempre fiz artesanato e lembrancinhas de festa para ter alguma renda.
Mesmo com as mudanças tentei manter o foco mas é difícil, essa gravidez mudou a neblina que eu estava tentando superar há 3 anos devido a partida da minha mãe. Eu sinto que mudei e estou me tornando uma pessoa melhor, era o que eu precisava, mesmo que tudo fica diferente, os objetivos mudam, são outras preocupações e pode atrapalhar os estudos.
Depois de alguns meses que eu havia descoberto a gravidez percebi que tudo só dependia de mim e que se eu não me esforçasse o dobro ninguém faria isso por mim. Mas acredito que se eu não tivesse o apoio da minha família, principalmente do meu pai eu tinha desistido do curso. A família primordial nesse momento em que nos encontramos cheias de emoções inexplicáveis e precisamos de apoio e ajuda, inclusive após o nascimento do bebê.
Na faculdade enfrentei preconceitos tive que relevar diversos tipos de piadas em relação a gravidez e crianças, alguns chegaram a me excluir de alguma maneira. As pessoas pedem por empatia, mas não percebem que se colocar no lugar do outro é muito mais que isso, às vezes só precisamos que alguém nos olhe no fundo dos olhos e tenha compaixão, entenda que todos passam por dificuldades na vida, todos estamos sujeitos a erros. A melhor maneira de lidar com diferenças, é trazer para perto de si e entender que no mundo não existe só uma forma de viver.
Quero ressaltar também o papel do governo nesta minha decisão de continuar estudando, o passe livre tirou o peso de arcar com a condução para ir até a faculdade, a maternidade vem acompanhada de muitos gastos podendo ser um fator para a desistência, e mesmo pagando meia passagem ficaria difícil. É importante que a mulher saiba seus direitos, segundo a lei nº 6.202 é assegurado a estudante em estado de gestação o regime de exercícios domiciliares instituído, ou seja se você não quer trancar o curso a lei assegura através de atestado médico, que no tempo da licença maternidade suas aulas sejam a domicílio." Lavínia Santos Luzia, Estudante de Relações Públicas e grávida de 7 meses da Manuela.
"A faculdade pra mim era um alívio, pois fui mãe muito nova e as responsabilidades me assustaram no início, como eu estive sozinha (sem o pai da bebe) desde os 5 meses de gestação até agora, ir pra faculdade foi algo que me trazia a sensação de ter um tempo pra mim ou algo q me fazia lembrar da minha vida antes de ter o bebê. A minha maior dificuldade foi aceitar no começo de que eu estava sozinha na batalha, por que após o pai da minha filha ter abandonado a gente o meu maior medo era falhar como mãe, além de que o meu emocional ficou extremamente abalado, porém meus amigos de faculdade me ajudaram muito a superar tudo.
Quando eu descobri que estava grávida foi um susto, por que sempre achei q iria adotar crianças e não fazer uma, porém eu nunca tive um pingo de tristeza por estar grávida, tive tristeza com o abandono do pai, mas nunca por estar grávida.
Hoje em dia minha filha tem 3 meses, eu ia pra faculdade grávida e a minha turma sempre me tratou muito bem e me incentivou a não desistir, inclusive os professores são super compreensivos com a minha rotina e no início com os enjoos e dores na pele da barriga e esticava muito nos últimos meses de gestação. Eu não faltei nem um único dia de aula, minha filha nasceu na semana do carnaval, como meu parto foi normal após a semana de carnaval eu continuei a assistir aula e todo mundo perguntava aonde tinha ido parar minha barrigona(risos). Agora os últimos três meses minha mãe olha ela pra eu ir às aulas e quando eu volto está sempre tudo bem tirando a saudade.
A meu maior incentivo e motivação à continuar estudando é saber que ao final do curso eu vou ter um diploma, seguir carreira na área que eu escolhi e poder dar tudo que minha filha querer ou precisar sem eu precisar de ninguém, pois não obtive ajuda do pai da minha filha. Aliás mães solteiras são um tipo de mãe que eu posso afirmar que batalha em dobro e com certeza são o melhor tipo de mãe. Amor em dobro, carinho em dobro, preocupação é responsabilidade em dobro. Cresci 10 anos em um ano só." Vênus, Estudante de Produção Audiovisual e mãe da Katrinna que tem 3 meses.
"Eu engravidei durante a troca de anticoncepcional, foi ano passado, eu estava esperando descer pra tomar a injeção e aí não desceu um mês, achei que fosse normal, estava a uns 2 meses sem tomar o remédio pois eu demorei pra passar com o médico, sus se sabe como é né, no outro mês também não desceu e ai minhas amigas da facul começaram a me fala que eu era doida, que eu podia ter feito teste de gravidez, meus seios doíam muito, e algumas delas são mães e elas falaram que sentiram isso na gravidez, então comecei a ficar preocupada, falei pro meu noivo que hoje já é meu marido o que tava pensando e acontecendo, eu e eles combinamos dele me buscar na faculdade pra passarmos na farmácia pra comprar o teste, comprei o teste e fui dormir na casa dele, minha mãe não sabia de nada. Fiz o teste mas fiz bem desacreditada que estava grávida, achei que aquela dor nos seios era porque ia descer em breve, quando coloquei o teste no xixi eu nem fiz tanta questão, mas em segundos ele já apareceu os dois risquinhos dando positivo o resultado, nessa hora eu levei um banho de água fria, meu primeiro pensamento foi "Minha mãe vai me matar", eu fiquei desesperada, me deu falta de ar, vontade de chorar, meu noivo ficou feliz, começou a mandar a foto do teste prus amigos dele mas depois ele fico preocupado comigo, porque eu fiquei em estado de choque. Na minha cabeça só vinha as perguntas " E agora ? E a faculdade ? E como vai ser de agora em diante ? E se minha mãe me expulsa de casa ? E se ela nao aceita ? E meu casamento ? Meu sonho era casar na igreja com vestido branco, véu e grinalda"
Quando contei pra minha mãe e pro meu pai, eu chamei só uma amiga minha que mora na rua da casa da minha mãe, foi depois que cheguei da faculdade que eu contei, minha mãe ficou muito brava, me ofendeu de tudo o que você imagina, falou que estava com vergonha de mim, que eu era irresponsável, e o meu pai fico tranquilo, só olho pra mim e ficou quieto. Minha mãe ficou uns 4 dias sem falar comigo, a família começou a saber e me ajudou a fala com a minha mãe, meu pai ficou super feliz mas não era de demonstrar pra mim por conta da minha mãe.
Quando minha mãe começou a falar comigo de novo ela disse que como não tinha como mudar a situação então ela iria me ajudar, e ficaria com o bebê para eu poder ir à faculdade, meu pai falou pra eu casar com o meu noivo só no cartório pra eu poder ter convênio, mas que, se eu quisesse, eu podia continuar morando com eles, que era só pra ter direito só médico mesmo e que quando eu me estabilizasse, eu me mudava.
Foi aí quando comecei a sangrar e sentir cólicas, as cólicas foram aumentando, fui pro hospital municipal, expliquei tudo pro médico e então fiquei indo e voltando lá, acabei indo ao total de 5 vezes neste hospital, e foram 5 dias perdendo muito sangue, e sentindo fortes dores. Então da última vez em que fui no hospital os médicos me confirmaram que eu estava abortando, o médico disse que eu teria que ficar internada pra fazer a corretagem pois estava correndo risco de eu ter alguma infecção, porém até hoje não sei o porque isso aconteceu, um dos médicos cogitou a hipótese do feto estar crescendo nas trompas porém nunca foi confirmado. Fiquei em uma maca a noite toda junto com outras mulheres grávidas, e às 09 da noite me levaram para fazer a corretagem, havia mais três mulheres ali comigo e eu era a única que havia perdido o bebê, foi um momento muito difícil para mim, sofri bastante, me senti sozinha e inútil, como se a culpa fosse minha, é uma sensação horrível. Tive alta no mesmo dia pois não poderia ficar no hospital por causa do risco de pegar infecção hospitalar, fui para casa e fiquei de repouso absoluto, tive apresentações na faculdade e perdi todas elas e ainda fiquei sem nota mesmo tendo explicado para a professora o que havia acontecido, só fui retornar às minhas atividades quinze dias após todo o ocorrido, emagreci 5 kilos neste tempo, fiquei digerindo tudo o que me aconteceu por um longo tempo, mas hoje entendo que não era para ter acontecido, e que está tudo bem e que nada do que me aconteceu foi culpa minha. Casei no dia 11/05/2019, não penso em ter filhos agora, e acredito que as coisas acontecem quando têm que acontecer" Bianca Guarizo Zamengo Ramos, estudante de Pedagogia.
"Meu nome é Nathália Rodrigues, tenho 20 anos e estou na segunda tentativa no meu curso de jornalismo, eu entrei novamente na faculdade em Fevereiro de 2019, com 19 anos e com nenhum plano de ser mãe, descobri sobre minha gestação nos primeiros dias de Maio quando eu já estava de 16 semanas (3 meses), antes da descoberta meus maiores inimigos eram os elevadores porque eram 10 andares e 10 paradas diferentes o que me causava um enjoo terrível. Eu descobri dia 09/05 e por incrível que pareça as primeiras pessoas a saberem sobre, foram meus colegas da faculdade, um grupo formado por 6 pessoas contando comigo, e recebi um apoio muito significativo, mensagens preocupadas sobre meu bem estar e sobre como minha família lidou com a notícia afinal fui criada em uma família quase tradicional.
Já na minha família a maior preocupação era em como eu iria lidar com a faculdade, pois não estava no plano abandonar o curso, então todos os dias me levanto às 4:00, pego o ônibus das 5:40, o problema são os trens onde infelizmente não são todos que compreendem que o enjoo triplica, ficar em pé 1 hora em um local que lota a cada estação e ter que estar atenta o tempo todo em não espremer a barriga, é cansativo e eu tenho 1,53 de altura é complicado para mim me equilibrar e aguentar uma barriga que pesa e não poder carregar excesso de peso, então tem dias em que temos que escolher entre caderno e a apostila para o curso extra pois não dava tempo de voltar para casa e nem tenho dinheiro para comprar algo saudável que não faça mal para o bebê.
Os olhares aumentam, convenhamos que ver uma menina com o rosto que aparenta 15 anos andando pela faculdade com uma barriga exposta, ainda causa estranheza e cochichos ao redor, alguns olhares de julgamento e alguns outros olhares irônicos, isso pode até diminuir um pouco a auto estima, nos primeiros dias por estar frio eu usava blusas e a barriga era disfarçada, mas claro que depois de um tempo não havia como esconder então tratei muito psicologicamente essas pequenas questões que parecem insensíveis mas realmente mexem com nossas cabeças, como exemplo o fato de que eu vivia horas em academias e agora meu corpo está indo para o caminho oposto de magro, o sono aumenta, a fome aumenta, o cansaço aumenta, então desfilar nos corredores da faculdade mostrando a barriga foi um pequeno desafio que lutei para quebrar na minha cabeça, em momento algum me arrependi de estar grávida, porém enquanto meus colegas planejavam festas eu planejava o quarto do neném e o que me ajudou a cada vez me importar menos com isso foi o total apoio do meu grupo dentro da faculdade e da minha família por fora.
Pesquisei sobre os direitos de gestantes nas faculdades e descobri que a partir do momento em que não fosse mais possível continuar presencialmente eu poderia continuar em casa com apoio da própria faculdade, atualmente estou com 22 semanas (5 meses) e com o foco em continuar meu curso na faculdade para primeiramente realizar meu objetivo de conquistar um diploma e agora o sonho de dar uma vida estável para o bebê que irá nascer daqui 4 meses, fácil não é mas desistir seria muito mais difícil, então enquanto não causar nenhum malefício físico para mim ou para meu filho vou continuar no caminho para conquistar o meu diploma." Nathalia Rodrigues, estudante de Jornalismo, grávida de 5 meses do Oliver.
The Live Show é o primeiro talk show de humor transmitido de dentro de uma Universidade, com os próprios alunos atuando em todas as etapas de produção. A primeira temporada do the Live Show é realizada no Centro Universitário FAM, com patrocínio TNT.
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