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Roberto Sadovski

'Watchmen' no Emmy: a importância de a cultura pop refletir o mundo real

Colunista do UOL

30/07/2020 10h16

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As pessoas estão furiosas!

Há poucos dias conversei com um amigo de Los Angeles, produtor de cinema, que confessou nunca antes ter visto seu país na situação calamitosa em que se encontra hoje. Com um presidente negacionista, truculento e racista, os Estados Unidos tem experimentado dias de fúrias, em que protestos sob o signo do "Vidas Negras Importam" tem sido reprimidos violentamente por forças obscuras a mando do Estado.

As 26 indicações ao Emmy para "Watchmen", série da HBO criada por Damon Lindelof, que se atreveu a levar o mundo da HQ de Alan Moore e Dave Gibbons à TV, são uma indicação que o mundo está prestando atenção. Mais ainda: que a cultura pop, antes descartada como ligeira e rasa, torna-se cada vez mais reflexo do mundo em que vivemos. Sinal dos tempos.

"Watchmen" não é uma adaptação direta da série de 1985, e sim uma continuação contemporânea, ambientada décadas depois dos eventos do gibi original. Mais ainda: Lindelof escolheu como ponto de partida um evento real, o massacre de civis negros em Tulsa, no estado de Oklahoma, quando a massa racista agrediu e matou cidadãos afro-americanos bem sucedidos - na região da cidade apelidada "Wall Street Negra".

Foi o ponto de partida para usar a ambientação fantástica bolada por Moore em uma discussão sobre racismo, extremismo político e violência policial. A série ganhou ainda mais camadas com a atual situação social, política e econômica nos Estados Unidos, agravada com o assassinato de George Floyd por um policial racista e amplificada com a atual crise de saúde global trazida pela pandemia do coronavírus e pela inépcia do governo Donald Trump.

Os paralelos das imagens de "Watchmen" com o noticiário surpreendem. É justamente sobre isso que eu falo em minha coluna em vídeo no canal do YouTube do UOL. Com este panorama, dificilmente a minissérie passará em branco na cerimônia do Emmy, abrindo uma nova trincheira para a cultura pop no mainstream.