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Roberto Sadovski

Vin Diesel em Bloodshot: "O amor é um modo bizarro para criar um assassino"

Vin Diesel em "Bloodshot" - Sony
Vin Diesel em "Bloodshot" Imagem: Sony

Colunista do UOL

13/03/2020 07h27

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"Roberto, há quanto tempo não conversamos, três anos?" Vin Diesel é um sujeito simpático, que encontro regularmente para conversar sobre cinema desde 2004, quando ele dava seus passos em direção ao estrelado com a ficção científica "A Batalha de Riddick".

De lá para cá, o ator de 52 deixou de ser mais um aspirante ao trono dos heróis de ação no cinema para acumular o papel de produtor em uma série para chamar de sua: "Velozes & Furiosos", que em seu quinto episódio transcendeu a fórmula para se tornar um colosso de mais de 5 bilhões de dólares. E, sim, Vin: conversamos pela última vez há três anos!

O papo desta vez, entretanto, nem era sobre a saga de Dominic Toretto e sua família disfuncional - que acabou de ter seu nono filme, agendado para maio, adiado até abril de 2021 por motivos de coronavírus. O assunto era "Bloodshot", mistura de ação e ficção científica que Vin Diesel espera, mais uma vez, desdobrar em uma série de filmes.

"Meu personagem, Ray Garrison, é diferente de tudo que eu já fiz", continua o astro, totalmente em modo vendedor. Mas ele tem razão. É a primeira vez que Vin encabeça a adaptação de um super-herói das histórias em quadrinhos para o cinema, e sua jornada traz reviravoltas interessantes.

Vin Diesel em "Bloodshot" - Sony - Sony
Vin Diesel olha feio em "Bloodshot"
Imagem: Sony

"Eu sei que você é fâ de quadrinhos, Roberto, então você sabe que o caminho de 'Bloodshot' não é o do herói tradicional", dispara, demonstrando memória surpreendente de nossas conversas anteriores. O personagem, criado em 1992 por Kevin VanHook, Don Perlin e Bob Layton para a Valiant Comics, fez parte de uma leva de anti-heróis que, na década retrasada, ensaiou ameaçar a supremacia da Marvel e da DC.

Anabolizados pelo sucesso da nascente Image Comics, que deu origem a personagens como Spawn e Savage Dragon, a Valiant arriscou criar seu próprio universo de personagens coloridos. Licenciou heróis obscuros dos anos 60, como Magnus Robot Fighter e Solar - Man of the Atom, e lançou personagens inéditos como Ninjak, Rai, Harbinger e Bloodshot.

"Em nosso filme, Bloodshot é o protagonista", aponta Vin Diesel. "Mas ele poderia facilmente ser antagonista em histórias com outros heróis." Seria o processo natural, dada a natureza do cinema pop moderno em criar universos compartilhados. O caso aqui, porém, é levemente mais complicado.

"Eu sei que a Sony tem interesse em continuar essa história e desenvolver este universo", continua. "Só que outras licenças da Valiant, como "Harbinger", estão com a Paramount. Então estou curioso para ver como isso vai ser desenvolvido."

Vin Diesel em "Bloodshot" - Sony - Sony
Vin Diesel pega pesado em "Bloodshot"
Imagem: Sony

É muito cedo, de qualquer forma, para encarar "Bloodshot" como o ponto de partida de mais um universo de super-heróis no cinema, uma ideia que já muito certo (o caso da Marvel) e bastante errado (o claudicante mundo habitado pelos heróis da DC). Vin Diesel, que também assina como produtor, entende a importância do novo filme como produto.

Ele espera iniciar uma quinta série com seu nome nos créditos, seguindo "Velozes & Furiosos", "Riddick", "xXx" e "Guardiões da Galáxia", em que ele empresta a voz para o favorito dos fãs, Groot. Mais ainda: ele busca não se repetir, mesmo que na primeira oportunidade seu Ray Garrison vista uma camiseta regata branca como e fosse cosplay de Dom Toretto.

"Quando me convidaram ao projeto, achei que fosse mais um filme de super-heróis", explica o astro. "Mas 'Bloodshot' tem sua trajetória construída com uma mistura de medo e vulnerabilidade, alguém que foi manipulado mentalmente até o limite da sanidade." O filme começa com Garrison à frente de uma unidade militar resgatando reféns de terroristas.

Depois da operação, ele se reúne com sua mulher (Talulah Riley, justamente a cena da camiseta regata), mas a paz é quebrada quando eles são sequestrados por um assassino (Toby Kebbell), e a gente sabe que ele é do mal porque usa sandálias com meias e dança "Psycho Killer" do Talking Heads antes de rechear a empada do soldado com uma azeitona. Daí para frente, nada é exatamente o que parece ser.

Vin Diesel em "Bloodshot" - Sony - Sony
Vin Diesel se regenera em "Bloodshot"
Imagem: Sony

É aqui que "Bloodshot" mostra ser fiel às suas origens - ou pelo menos a uma versão dela. A série original de quadrinhos o colocava como Angelo Mortalli, um mafioso que é traído por sua família e pelo FBI, participando forçadamente de um experimento que substitui seu sangue por nanitas, máquinas microscópicas capazes de regenerar tecido danificado.

Quando toda a linha Valiant experimentou um reboot, sua origem foi reposicionada como Ray Garrison, e seu passado como soldado ganhou destaque, assim como o papel dos nanitas capazes de regenerar seus ferimentos, além de permitir seu acesso à redes de dados mundiais e de ampliar sua força. "Eu comecei minha carreira justamente como um soldado na Segunda Guerra Mundial", ressalta Vin Diesel, que de fato estreou como Caparzo em "O Resgate do Soldado Ryan", de Steven Spielberg. "Então tento entender as provações experimentadas pelos militares, especialmente quando voltam para casa sem saber se serão ou não valorizados por sua pátria."

Até aqui, a mistura de "Bloodshot" já traz vingança, manipulação mental e tecnologia de ponta - com o tempero da questão de soldados descartados quando mortos em combate. "Geralmente eu faço personagens que estão no controle", ressalta Diesel. "O fato de dar vida a alguém que não tem certeza de sua própria identidade me deixou intrigado." Claro que, como em seus outros filmes, Vin Diesel busca o centro emocional do protagonista, esteja ele do lado errado da lei, buscando seu lugar no universo, entrando no jogo da espionagem internacional ou mesmo como uma árvore sapiente cruzando a galáxia ao lado de sua família acidental.

"Tudo que eu faço é motivado pelo coração", encerra, antes de prometer voltar ao Brasil, país pelo qual ele tem afeto genuíno. "Mas a abordagem aqui foi diferente, já que o coração é usado para criar um assassino. O amor é um modo bizarro para fazer uma máquina de matar."