Topo

Roberto Sadovski

Bruna Marquezine volta ao cinema: 'Quero ser lembrada por minha arte'

Bruna Marquezine em Vou Nadar Até Você - Elo Company/Divulgação
Bruna Marquezine em Vou Nadar Até Você Imagem: Elo Company/Divulgação

Colunista do UOL

05/03/2020 02h46

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Os olhos de Bruna Marquezine brilham quando ela fala sobre sua estreia no cinema com o drama "Vou Nadar Até Você". É um movimento quase musical: ela gesticula mais, as mãos seguindo o ritmo das palavras, o conjunto traduzindo uma paixão que agora chega à tela grande. Um processo que, por sinal, levou cerca de quatro anos para ficar pronto. Bruna rodou o filme do diretor Klaus Mitteldorf em 2016, abraçando o papel de Ophelia, uma jovem em busca do pai que nunca conheceu, um fotógrafo alemão que volta a Brasil —e ela decide empreender sua busca a nado!

Falar sobre seu ofício, por sinal, é combustível para a atriz de 24 anos, e o entusiasmo me fez questionar por que ela não tem uma pilha de projetos a seus pés para ganhar de vez o cinema! Foi o que tentei decifrar no papo a seguir, em que Bruna fala sobre a exaustão trazida pelo trabalho pesado em novelas, a surpresa em se ver pela primeira vez projetada em uma tela, o modo como lida com a celebridade e a paixão por Greta Gerwig! Fica a dica para os produtores de elenco gringos...

Bruna Marquezine nadando - Elo Company/Divulgação - Elo Company/Divulgação
Bruna Marquezine surge nadando (!!!) em Vou Nadar Até Você
Imagem: Elo Company/Divulgação

Bruna, como foi a decisão de finalmente fazer cinema nesse momento de sua carreira?

Alguns motivos. O principal foi a falta de oportunidades mesmo. De papéis, de convites. Junto com isso, eu por muitos anos emendei uma novela na outra, então eu tive pouco tempo de ir arás de projetos, fazer testes, conversar com amigos diretores. Foram os fatores principais que impossibilitaram que eu fizesse filmes antes.

Você estava feliz fazendo só novelas, isso te satisfazia como artista?

A série "Nada Será Como Antes" foi minha experiência mais próxima ao cinema. A gente rodava tudo com uma câmera só, era uma pegada diferente. E ali eu já estava entrando num quadro de exaustão, física, mental e emocional. Novela exige muito, pede muito equilíbrio para gravar 13, 14 horas por dia, de 30 a 40 cenas, oscilando emoções e abdicando da sua vida pessoal, da sua vida social. Foi aí que eu comecei a me preocupar porque não queria descontar em meu amor pela arte...

Deve ser complicado pensar em pensar em seu personagem quando se grava 13 horas por dia.

E pensar também nas cenas do dia seguinte, porque o processo não para! Eu não digo isso de forma pejorativa, mas o trabalho se torna um pouco mais raso. A gente usa técnicas e estratégias para entregar da melhor forma possível, mas temos de fazer isso em menos tempo e menos energia, ao mesmo tempo que temos de produzir muito mais em um período mais curto. Uma obra fechada é muito diferente, com tempo para aprofundar, para conhecer todo o arco de um personagem, não existem imprevistos ou mudanças bruscas. É possível dar mais camadas, mais elementos, a construção é mais completa. Isso é extremamente prazeroso, principalmente quando se faz uma atrás da outra. Mas eu valorizo muito a novela, é algo culturalmente muito forte para o nosso povo e eu acho isso incrível! Muita gente diz que novela vai acabar, e eu espero que não porque faz parte de nossa cultura! Só que eu também sinto a necessidade de explorar novos formatos.

Bruna Marquezine em Vou Nadar Até Você - Elo Company/Divulgação - Elo Company/Divulgação
Bruna Marquezine descansa em um lugar super seguro em seu primeiro filme....
Imagem: Elo Company/Divulgação

O roteiro de 'Vou Nadar Até Você' já sugeria uma filmagem mais complexa, totalmente centrada em você. Como foi essa mudança de ritmo em seu método de compor o personagem?

Eu estava muito a fim de fazer, muito disposta. Então tudo era... bom! (risos) Tudo era positivo! A experiência de viajar com uma equipe é extraordinária, além de tudo que é construído fora das filmagens. Foi minha primeira experiência real com cinema. Eu brincava com o [produtor Luciano] Patrick, que não interessa se o filme vai fazer sucesso, essa experiência já é válida. Era a mesma sensação que eu tive fazendo a série. Era tudo novidade e tinha um sabor gostoso.

Você construiu sua carreira na TV, vendo sua imagem em casa. Como foi esse momento de sentar em uma sala escura, o projetor ligar e de repente você está lá em cima?

Foi muito doido. O filme foi gravado em 2016. Opa, foi "filmado" em 2016!

"Gravado" é bom, hein!

[Risos] O vocabulário da pessoa que fez novela por 15 anos... Então, filmamos em 2016 e eu assisti pouco antes de a gente ir ao Festival de Gramado ano passado. Numa tela grande, mas não era uma tela de cinema. A primeira vez para valer foi mesmo em Gramado com meus pais do meu lado. Mas graças a Deus eu tinha assistido antes, porque eu queria olhar a reação da minha mãe me vendo em tela grande! Quando eu assisti ao filme antes do festival já estava na reta final da última novela que eu fiz, também num lugar um tanto cansada emocionalmente, pessoalmente, mentalmente, fisicamente por conta do desgaste, mais toda a carga da vida pessoal. Eu estava um pouco desanimada. Mas foi engraçado, porque quando eu terminei de ver, até com a diferença de tempo entre filmar e assistir ao filme pronto, enxerguei outra pessoa do que quando a gente rodou. Eu vi com um distanciamento e foi muito prazeroso! Terminou e eu estava emocionada de verdade. Eu pensei que não me interessava o que fossem achar, se eu fui bem ou não, dane-se! Eu gosto tanto do que eu faço que mesmo com todo o cansaço veio como um sopro. Foi muito bom. Todo o processo foi emocionante, até quando aprovava cada cartaz. Era a emoção em fazer algo que fica para sempre! Por mais que a TV hoje em dia ainda fique.

É difícil alguém voltar a uma obra que tem duzentos capítulos...

Sim, exatamente! E o cinema tem isso, essa sensação, de que é eterno. E é uma obra que eu vou mostrar a meus filhos, além do valor de ter sido meu primeiro filme.

Bruna Marquezine e o diretor Klaus Mitteldorf - Elo Company/Divulgação - Elo Company/Divulgação
O diretor Klaus Mitteldorf na mira das lentes de Bruna no set do filme
Imagem: Elo Company/Divulgação

Você é muito crítica de você mesma?

Muito! O tempo todo! Eu sou minha pior crítica, a mais cruel.

Quando você assistiu a 'Vou Nadar Até Você', quatro anos depois de filmar, ficou pensando no que teria feito diferente?

A primeira vez foi meio... Eu não sabia nem o que esperar! Conversei muito com toda a produção durante toda a edição, e foi um processo demorado até chegar a essa versão. Então eu fui muito de coração aberto. Já em Gramado eu passei a sessão inteira olhando pros meus pais e também para a tela pensando, "hmmm, não". [Risos] Ihhh, ok! Hmmm, tomara que ninguém repare! [mais risos].

No Brasil muitas vezes as pessoas confundem o artista com a celebridade. E você vive no holofote há muito tempo. Te incomoda às vezes as pessoas não olharem para seu trabalho e ficarem preocupadas com você e com o que você faz?

Já me incomodou, sem dúvida. Eu conversei sobre isso ontem com o Maurinho Mendonça, e a gente estava falando sobre rede social e eu disse que criei uma armadura, uma casca. Agora meu questionamento nem é mais com o olhar alheio, e sim se é saudável ter criado essa barreira, de uma forma que nada mais me impressiona, incomoda ou choca. Talvez sim, talvez não, porque eu acho que pode ser negativo ficar tão fria, tão distante. Mas de alguma forma me protege, porque há muito tempo em entendi que eu não tenho controle. E não adianta preocupar com o que não temos controle. Eu não escolhi ser uma pessoa superexposta, as coisas aconteceram muito naturalmente e eu não contribuí para muitas das coisas que me tornaram essa celebridade. Pelo contrário: a minha energia, meu foco sempre foi na parte artística. Mas essas coisas aconteceram e têm seu lado positivo. É muito ruim essa necessidade do ser humano em rotular as pessoas, como eu fui e talvez ainda seja um pouco. Como "atriz de televisão", "atriz de novela", uma "artista popular", uma "pessoa de publicidade". Existe um equilíbrio que pode ser saudável e uma coisa não anula a outra. É óbvio que eu quero ser lembrada pela minha arte, não pelo look do dia ou pela campanha xis ou pelo relacionamento tal. Eu sempre tentei manter minha vida pessoal o mais privada possível, mas não é uma escolha se vai sair uma notícia ou não... Mas para muita gente parece que é! Quando eu entendi que tudo isso estava além do meu controle, parei de me cobrar um pouco e fui descobrindo como me proteger para não sofrer com isso. As pessoas vão acreditar no que elas querem e eu vou continuar agindo como eu acho correto e expondo o que eu acho que acrescenta, que é a minha arte!

Bruna Marquezine pilar - Elo Company/Divulgação - Elo Company/Divulgação
Bruna Marquezine em terra firme (!!!) em Vou Nadar Até Você
Imagem: Elo Company/Divulgação

Você tem algum outro filme a caminho? Quatro anos é muito tempo sem filmar!
É muito tempo! Fiz outra novela depois, mas eu estou muito a fim de cinema, já estou com os dois pés lá! Tenho um projeto que é como se fosse cinema, mas é uma série. Só que esse ano com certeza eu volto a um set de filmagem.

O que te encanta no cinema?
Eu gosto de ver de um tudo... Mesmo! Os meus filmes preferidos são os filmes que.. Olha, é muito difícil falar sobre meus filmes preferidos! [Risos] Eu tenho uma lista que é tipo comfort food...

Tipo 'Friends' para muita gente.
Tipo "Friends" para muita gente! [Risos] "Friends" eu assisto em dias que estou 100% exausta, porque traz um conforto, uma risada e não é nada muito difícil. Mas eu gosto de filme com profundidade mas que tragam uma certa leveza. Um que entrou recentemente nessa lista é... Como é a tradução? "Pequenas Mulheres", "Little Women"...

'Adoráveis Mulheres'! Essa versão mais nova da Greta Gerwig?

Isso! Porque eu sou obcecada pela Greta, o meu filme top um é "Frances Ha"! "Lady Bird" me deixou obcecada em buscar no YouTube todos os vídeos de bastidores porque só em ver ela dirigir me arrepiava! A forma como ela consegue trazer leveza e ao mesmo tempo consistência para tudo aquilo. "Adoráveis Mulheres" entrou para essa lista de filmes que trazem um calorzinho e me inspiram de alguma forma... É um abraço! Mas eu gosto de assistir de tudo! Tudo mesmo! O único gênero a que eu não assisto e que eu não faria é terror.

Terror é bacana!

Eu tenho pavor [risos] Pavor! Eu não assisto e não teria a menor condição de fazer! Eu ia terminar uma cena e começar com "só um minutinho que eu preciso orar"! [Risos]