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Nego do Borel é acusado de beijar homem apenas para debochar dos gays

O cantor Nego do Borel - Gabi Moraes/AGNews
O cantor Nego do Borel Imagem: Gabi Moraes/AGNews

10/07/2018 14h34

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Tem um episódio de "Seinfeld" que considero especialmente genial. Jerry está fazendo um tratamento odontológico e começa a ficar incomodado com a frequência com que o dentista faz piadas sobre judeus. Seinfeld passa a suspeitar que o Dr. Tim Whatley, vivido por Bryan Cranston, que anos mais tarde faria sucesso como protagonista de "Breaking Bad", se converteu ao judaísmo apenas para poder fazer as brincadeiras impunemente.

O humor brasileiro, neste caso razoavelmente menos sofisticado, tem uma leitura própria para tal senso de oportunidade. É a história do cidadão que se finge de defunto para engajar ato libidinoso com o coveiro. A fluidez como ponte para fins de cunho egocêntrico ou hedonista, como podemos notar, é um clichê que possui ampla literatura a respeito.

Nego do Borel em cena do clipe de "Me Solta" - Reprodução - Reprodução
Nego do Borel em cena do clipe de "Me Solta"
Imagem: Reprodução

É aí que chegamos no mais novo videoclipe do Nego do Borel, “Me Solta”. A música extraordinária, que alguns especialistas enxergam como a chegada da batida mais rápida do funk carioca ao mainstream, ganhou uma suntuosa produção audiovisual nas mãos da equipe do Kondzilla, maior canal do YouTube nacional.

O cantor usa roupas femininas e exagera nos trejeitos enquanto entoa a bela canção. No ápice da narrativa, tasca um beijão de língua em modelo marombado. Setores da sociedade civil percebem no ato uma tentativa de estabelecer pedágio para rir e debochar livremente dos gays. O clipe não passaria de bullying travestido de empoderamento.

Nego do Borel é heterossexual assumido e agora é acusado de pretender ganhar atenção e faturar em cima de um público que nunca recebeu seu apoio. Como agravante, ainda estão pipocando prints e fotos que mostram suas ligações com políticos que são contra a agenda da igualdade e de discussões sobre gênero.

A verdade segue como maior valor de um artista nestes tempos pós-bug do milênio. O resto é gestão de crise.

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