Lembra do menino do "Pintinho Piu"? Veja o que aconteceu com ele
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Questionada sobre o sucesso avassalador da ‘discotheque’, que nos anos 70 tomava de assalto o espaço dos sambas que a alçaram à fama, Aracy de Almeida respondeu com aquele pragmatismo biodegradável que encantava a audiência e corroía a autoestima dos calouros do Programa Silvio Santos:
Sempre houve isso, qualquer dia vai ter outra dança. ‘Discotheque’ vai passar, vai aparecer outra dança. A dança do ‘penduricalho’ e outras minhocas mais… O tempo passa, meu filho. Ninguém fica jovem, nem criança. Todo mundo envelhece ou entra pelo cano.
O discurso é de uma lucidez aterradora, que faz ainda mais sentido nesses tempos bicudos de celebridades instantâneas surgindo na mesma velocidade que a taxa de upload das empresas de telefonia conseguem viabilizar. Quando tinha apenas 11 anos, Dheymerson Farias (pronuncia-se Djeymerson, sabe-se lá por quais motivos) fascinou a internet com um vídeo onde dublava a canção “Pintinho Piu”, clássico marginal das cantigas infantis.
A atuação performática do garoto na cozinha de casa fez com que sua popularidade explodisse. Com o fenômeno dos youtubers ainda incipiente, foi um dos primeiros sucessos da internet a ocupar de maneira consistente os espaços mais nobres da televisão brasileira.
Dheymerson (lembrando que a pronúncia é Djeymerson) brilhou no "Programa do Ratinho", chegando a ter um videoclipe dirigido pelo apresentador. Também fez história no saudoso "Sábado Total", último esforço televisivo do genial Gilberto Barros. Esse episódio foi especialmente melancólico, com o Leão se recusando a deixar o jovem mancebo apresentar sua nova música de trabalho.
“Você canta da próxima vez que vier”, prometeu. É evidente que jamais retornou. O requebrado de “E o pintinho piu” acabou não gerando muitos frutos além do próprio sucesso. As tentativas posteriores causaram pouca coisa além do desdém da audiência. “Será que a arara loura falará” inaugurou um novo cenário para suas produções requintadas, aparentemente o quarto de um púbere Dheymerson.
“Famo$a”, não-sucesso de Cláudia Leitte, serviu como plataforma para o jovem desfilar seus talentos cada vez mais teatrais. Talvez rococó demais para o gosto popular.
Conforme o fundamental levantamento do “Profissão Repórter”, programa em que Caco Barcellos coloca seus estagiários para enfrentar as pautas mais psicodélicas, a família Farias havia apostado tudo no sucesso de seu rebento mais ilustre. Os pais abandonaram seus empregos no Nordeste e vieram de mala e cuia para o eixo Rio-São Paulo, no intuito de instrumentalizar o garoto com mais oportunidades para o sucesso. Não funcionou, pois a demanda por crianças cantando de maneira precária aquelas músicas esquisitas não era tão grande quanto o esperado.
A Tribuna do Ceará resgatou essa história recentemente. Segue um trecho da reportagem: "Dheymerson agora está próximo de fazer 17 anos e deseja ser ator. Para isso, pretende realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Artes Cênicas este ano. Atualmente estou estudando e pretendo fazer faculdade. Meu sonho é chegar à “Casa das Artes de Laranjeiras”, no Rio de Janeiro, e ser um grande ator."
Ou seja, nosso herói está no meio do furacão essa semana. Se continuou espevitado como nos acostumamos a vê-lo, certamente não corre o risco de chegar atrasado nas provas. E o mais inspirador é descobrir que o fascínio infantil por aves resultou em um comprometimento bem maduro na adolescência. "Apaixonado por animais, o jovem faz parte de uma Organização Não Governamental (ONG) que ajuda a retirar animais das ruas. “É muito importante esse trabalho e o incentivo que damos para as pessoas adotarem animais de ruas"".
Também fiquei feliz ao constatar que a experiência com a fama passageira deixou apenas boas lembranças na família. "Graças à repercussão, Dheymerson e os pais tiveram a oportunidade de conhecer outros estados brasileiros e viajar de avião. O garoto também participou de vários programas de auditório de TV, desde locais a nacionais, como Ratinho, "Domingo Legal", "Sábado Total", "Astros", "Eliana", "Profissão Repórter", entre outros – além de ser notícia em revistas como Galileu, Época e Mais Feliz."
O copo está meio cheio na casa dos Farias, e isso é uma excelente notícia. Como havia previsto a eterna Aracy de Almeida, a ‘discotheque’ passou, Dheymerson passou e sempre vai haver outra dança. Aceitar a própria efemeridade é o melhor capital que um postulante ao sucesso pode ter neste adorável século 21. Voltamos a qualquer momento com novas informações - pelo menos enquanto durar o estoque.
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