Como Thiaguinho e o Brasil perderam o rumo do sucesso
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O Brasil era um bicho completamente diferente em 2012.
Fechamos o ano com a menor taxa de desemprego desde 2002, quando começou a série histórica. Brigando contra uma crise mundial, o país criou 1 milhão e 300 mil empregos com carteira assinada. As taxas de juros do crédito estavam no menor patamar desde 1995. O consumo subia mais de 3%, em uma sequência vistosa de 9 anos de crescimento.
A nação encontrava-se todas as noites na tela da Rede Globo, que à época exibia os arrasa-quarteirões "Cheias de Charme" às 19h e "Avenida Brasil" no horário das 21h. E ainda entrou para a história como "o ano da Fatinha na 'Malhação'".
Estávamos empregados, mantínhamos boas relações familiares e ainda desfrutávamos de excelente entretenimento --tudo a preços razoáveis. O país era uma versão idílica da fábula em que todos trabalhavam como formigas e festejavam como cigarras.
O brasileiro ainda era um povo feliz --e tinha plena consciência disso.
Cabe lembrar que o maestro dessa fase de vacas gordas atendia pela alcunha de Thiaguinho.
Thiago André Barbosa sempre foi um agregador:
Ao lado de Péricles, entoava belas canções no comando do Exaltasamba. Junto com Rodriguinho, ex-vocalista do Travessos, era responsável por boa parte da produção artística que chegava aos ouvidos dos nossos jovens. Na aba de Neymar e seus parças, fundava o legítimo Rat Pack tropical, eternamente em turnê.
A decadência do Brasil está intimamente ligada à queda de produtividade do cantor. Desde que o Exaltasamba acabou, nunca mais fomos os mesmos. Os números não mentem.
Depois que Thiaguinho exilou-se em carreira solo, só passamos por perrengues. A alegria e ousadia que eternizaram a fase final do Exaltasamba deram lugar ao pragmatismo de segurar o resultado e aquele toque para o lado que só atrapalha a partida.
A malemolência dolente de hinos como "Tá Vendo Aquela Lua", "Livre para Voar" e "Um Minuto" simplesmente sumiu das rádios.
Lembrem-se que foi até uma estreia promissora. O primeiro disco de Thiaguinho trazia algumas obras da lavra do autor pela primeira vez reunidas na interpretação do próprio. E ótimas músicas novas como "Sou o Cara pra Você" e "Muleke Conquista" fizeram parecer que a boa fase conquistada na saideira do Exalta permaneceria por muito tempo.
Pouco depois veio "Caraca, Muleke", que pode ser considerado um divisor de águas na carreira do artista. Ao abraçar de vez o gênero "pagode dos parças", Thiaguinho alienou boa parte do público. Virou artista de nicho --e ainda amargou como trilha sonora do 7x1.
E assim tem sido desde então. Sucessos que ficam restritos a um público cada vez menor, além de uma insistência preguiçosa de lançar pout-pourris com clássicos do pagode.
Thiaguinho tocando músicas dos anos 90 eternizadas por Travessos e Só Pra Contrariar parece ser a trilha sonora ideal para uma época tão rica em retrocessos.
"Só Vem", álbum mais recente do cantor, traz até uma versão para "Águas de Março", provando que a crise que estamos atravessando não é só econômica, mas também criativa.
A esperança de um Brasil melhor acabou em 2012, junto com o Exaltasamba. Pelo menos a turnê de despedida dos pagodeiros foi menos longa --e muito mais divertida-- que a nossa.
Ouça a genérica "Energia Surreal", single novo do Thiaguinho.
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