Por onde anda Carlos Lombardi? A TV brasileira precisa dele
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Nosso Brasil tão rico de enredos insólitos e aventuras radicais encontra-se privado do olhar arguto de um dos seus mais talentosos contadores de histórias. Somos um país menos interessante a partir do momento em que temos tão poucas oportunidades de nos conectar à mente do novelista Carlos Lombardi.
O começo do século 21 dava sérios indícios de que viveríamos uma utopia lombardiana. No curto intervalo de três anos fomos presenteados com os clássicos "Uga-Uga" (2000/2001), "O Quinto dos Infernos" (2002) e "Kubanacan" (2003/2004). Nem mesmo Woody Allen conseguiria manter uma consistência tão reluzente.
Mas entre "Pé na Jaca" (2006/2007), sua última novela na Globo, e "Pecado Mortal" (2013/2014), a fascinante estreia na Record, o público amargou quase sete anos sem novelas do autor. E um novo hiato preocupa, uma vez que já se passaram outros quatro anos desde então.
Desconheço os motivos que impedem uma frequência mais saudável do autor na TV, mas separo a seguir algumas razões para ver certa urgência em seu retorno.
Ritmo de Festa
Tudo o que você mais amou em "Avenida Brasil" já era recorrente na obra de Lombardi. O ritmo frenético, com ganchos espetaculares a cada virada de bloco, não nasceu da paixão de João Emanuel Carneiro por "Grey's Anatomy".
Carlos Lombardi escreveu novelas que duravam anos inteiros, mas conseguia manter o frescor com arcos de histórias que funcionavam como temporadas dentro de um contexto maior. "Kubanacan" chegou ao ponto de ter convidados especiais toda semana, quase sempre algum caso romântico dos diversos personagens de Marcos Pasquim na trama.
Distopia Tropical
Falando em "Kubanacan", trata-se da mais transgressora análise sobre o país em que vivemos. Imagine só construir uma ficção científica que se passa numa ditadura latino-americana nos anos 50 para explicar o Brasil. Ainda me causa espanto a sorte que tivemos por conta desse projeto ter realmente ido ao ar.
Apropriação pra lá de cultural
Quem poderia imaginar Dom Pedro I como um herói romântico antes de "O Quinto dos Infernos"? Lombardi pegou o fidalgo português e o transformou num mocinho tipicamente brasileiro, como se fosse o pai de todos os galãs de novela.
Caio Castro deve a aceitação de seu papel atual ao universo criado por Lombardi, além da cativante interpretação imortalizada por Pasquim.
Elenco entrosado
Os melhores trabalhos de alguns dos mais destacados talentos da TV foram por intermédio das novelas de Lombardi.
Existem os parceiros óbvios, que todo mundo lembra: Marcos Pasquim, Danielle Winits, Humberto Martins e Betty Lago. Mas outros destaques merecem ser grifados.
Em "Uga-Uga": Viviane Pasmanter, Nair Bello, Mariana Ximenes e o impensável Claudio Heinrich.
Em "O Quinto dos Infernos": André Mattos absolutamente genial como Dom João, Luana Piovani inesquecível como Domitila.
Em "Kubanacan": Vladimir Brichta em estado de graça, naquele que ainda é seu grande papel na TV; Adriana Esteves na personagem que redefiniu a própria carreira.
Em "Pé na Jaca": Melhor trabalho da vida de Murilo Benício; auge da carreira de Flávia Alessandra; único papel crível de Rodrigo Lombardi e ainda vimos que era possível contar com Fernanda Lima como atriz.
Em "Pecado Mortal": Jussara Freire e Luiz Guilherme; Simone Spoladore perfeita como mocinha.
Salvador da Pátria
Lombardi foi o trunfo da Globo em mais de uma ocasião. Bastava alguma novela fraquejar no Ibope para que seus talentos fossem requisitados.
O autor cuidou da terceira temporada de "Malhação", protagonizada por Pedro Vasconcelos e Luana Piovani, um dos auges esquecidos da novelinha teen. Também entrou no meio de "Bang Bang", quando o titular Mario Prata adoeceu. E durante um problema de saúde de Glória Perez, ajudou a manter "Caminho das Índias" nos trilhos.
Como um cidadão desses está fora do ar por tanto tempo? A quem interessa calar esta voz? A televisão brasileira não se pode dar ao luxo de ficar sem Carlos Lombardi.
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