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Os Tribalistas voltaram se levando mais a sério do que nunca

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Imagem: Divulgação

10/08/2017 14h12

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A joint venture formada por Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes retorna sem o menor constrangimento de deixar claro que estamos falando de negócios. Por mim, tudo bem.

O pragmatismo reluzente de suas composições manjadas remetem a dois fenômenos da cultura para lá de contemporânea:

- O algoritmo da Netflix, que garante a satisfação do respeitável público com base em suas preferências. É como se as músicas novas fossem um revival precoce demais da música brasileira pós-bug do milênio. Já dizia Fred Zero Quatro, computadores fazem arte e artistas fazem dinheiro.

- Filmes da Marvel que repetem a mesma fórmula três vezes por ano, e ainda assim enganam todo mundo com o carisma de sorrisos facilmente reconhecíveis. Tivemos mais de uma década apenas com aventuras solo dos protagonistas que finalmente se reuniram mais uma vez para salvar a indústria fonográfica na qualidade de Vingadores da MPB.

A coluna Chico Barney teve a oportunidade de virar a noite saboreando os novos petardos da trinca de ases desse baralho com cartas marcadas do showbiz nacional.

"Diáspora"

A princípio você pode imaginar que é uma música sobre a situação dos refugiados, mas não se engane. Trata-se de uma loa sobre a relevância dos próprios Tribalistas em pleno 2017. "Olhem para nós, estamos falando difícil sobre um tema atual" poderia ser o refrão.

E ainda somos estapeados com as irresistíveis declamações de Arnaldo Antunes no começo e no meio da música, além de um trechinho em inglês para deixar bem claro que trata-se de um assunto de interesse global.

"Aliança"

É a continuação de "Já Sei Namorar". Depois de uma década e meia de sacanagem, está na hora de casar. Aqui o grupo exibe novamente sua visão de mercado: está faltando música para o momento da cerimônia de enlace matrimonial. Pois prepare-se, amigo leitor: algo me diz que você ainda observará um bom número de noivas entrando com essa trilha na igreja.

"Fora da Memória"

Se os Tribalistas fundaram o século 21 cantando coisas como "carneirinho me dá lã, mé / passarinhos de manhã, né", quem poderia impedi-los de retornar entoando "fora da memória tem uma regalia"? O importante é ter saúde.

"Um Só"

Você já tentou conversar com algum artista? O assunto preferido daqueles que se entregam de corpo e alma ao ofício da arte costuma ser eles próprios. "Um Só" é um remake de "Tribalismo" do primeiro disco: suingados minutos investidos na expectativa de conceituar do que se trata a união dos três. Algo me diz que não pretendem parar de se explicar por aqui.

Tantos anos depois, a voz cavernosa de Arnaldo Antunes ainda funciona como se fosse um Marrone dessa espetacular Bruno que é Marisa Monte, e Carlinhos Brown segue um grande compositor. A química continua intacta, até porque estamos falando de uma fórmula.

No mais, é divertido ver como os Tribalistas incorporam sem maiores pudores a suposta importância transcendental de um encontro tão prosaico. São artistas razoavelmente populares fazendo músicas pedestres. Não chega a ser uma péssima escolha para ouvir enquanto passeia com o cachorro, se essa for a sua onda.

Espero que as outras seis músicas que ainda serão reveladas tragam conteúdo com mais chances de perenidade, como uma citação ao sucesso internacional da Anitta ou uma participação especial de Simone & Simaria.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.