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Perdemos: o Brasil jamais terá sua própria Kim Kardashian?

"Keeping Up With the Kardashians": Um grande elenco - Divulgação
"Keeping Up With the Kardashians": Um grande elenco
Imagem: Divulgação

22/07/2017 04h00

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Difícil dizer o que é real em um momento da humanidade onde tudo é sujeito a edições sofisticadas e interpretações rudimentares.

A indústria norte-americana do entretenimento nos abençoa há décadas com uma categoria de reality show que pode ser classificada como REALIDADE BRIFADA. Consiste em programas onde os protagonistas, os cenários e seus relacionamentos são reais, mas as situações que ganham as telas de TV são minuciosamente pensadas por uma combativa equipe criativa.

A MTV desempenhou papel importante na popularização do formato pelo mundo, graças a séries como "Real World", que acompanhava o cotidiano de jovens da pá virada durante os loucos anos 90, e "The Osbournes", que narrava de maneira divertida as deprimentes complicações do uso contínuo de drogas.

Mas foi "Keeping Up With the Kardashians" que elevou o jogo a um novo patamar. A produção do canal E! acompanha a família Kardashian há quase dez anos, dando origem a uma miríade de séries derivadas, produtos de licenciamento e manchetes surreais.

Acompanhando de perto a intimidade pouco ortodoxa de Kim e suas parentes, o seriado serviu como plataforma de lançamento para o século das selfies. O estilo de vida que hoje rege boa parte do conteúdo consumido nas redes sociais deve muito de sua linguagem ao programa.

A principal diferença entre seu conteúdo e as pílulas de dez segundos mostrando os bastidores de tantas vidas secas é o empenho para criar uma leve, ainda que convincente, sensação de realidade.

Afeitos que somos às mais vazias das fofocas, sempre me pareceu curioso que esse tipo de atração não tenha recebido maiores investimentos no Brasil.

O problema é que nosso país tem entre suas características mais primitivas uma intensa predisposição à monocultura.

O sucesso de programas como "BBB", "A Fazenda" e "Casa dos Artistas" por aqui limitou o gênero reality show a competições envolvendo convivência, eliminações e gritos de "urrú". Também criou uma distorção ao colocar no mesmo balaio shows de calouros da estirpe de "The Voice" e "Masterchef".

Dessa forma, foi criado um vácuo no cânone do entretenimento popular. É uma pena que em 2017 ainda estejamos enfrentando coisas como "Alto Leblon", mais recente tentativa de realidade brifada nacional.

Continuamos sonhando com iniciativas que exibam em todo o esplendor a vida de figuras como Narcisa Tamborindeguy, Gracyanne Barbosa ou Zezé Di Camargo e família. Enquanto isso, a televisão continuará sem usufruir de ícones locais da exposição pessoal com pertinência similar à de Kim Kardashian.

Alto Leblon - Divulgação - Divulgação
"Alto Leblon": Danyel Marinho, Lu D'Angelo, Taci Favato, Bruno Maffei e Dandynha Barbosa
Imagem: Divulgação