"The Keepers" reafirma Netflix como lar para crimes reais sem solução
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O algoritmo da Netflix aparentemente confirmou o que todo agente de trânsito já sabia: somos terrivelmente impelidos pelos detalhes de tragédias cotidianas. Da mesma maneira que a curiosidade dos motoristas atrapalha o tráfego quando acontece um acidente, também dedicamos grandes períodos de nosso tempo de lazer para acompanhar o que deu errado na vida de completos desconhecidos. E não há lugar com mais oferta para esse tipo de morbidez atualmente do que a plataforma de streaming.
Os documentários que buscam contextualizar crimes mal resolvidos mundo afora se fortaleceram como tendência depois do sucesso de ‘Making a Murderer’. A série em 10 episódios mostrou a errática trajetória de Steven Avery, um cidadão de Wisconsin condenado por um crime que ninguém consegue afirmar com certeza se ele cometeu.
A saga oferece um apelo extra para os hábitos de consumo de entretenimento que estão em constante transformação nesses tempos: ela não tem um desfecho. Se o público se envolve emocionalmente de maneira cada vez mais intensa com obras de ficção que ostentam começo, meio e fim bem definidos, imagine uma história real quase implorando para que a comunidade se envolva e ajude a construir os capítulos posteriores.
Com a comoção provocada pelo documentário, o caso de Avery foi reaberto, seu sobrinho, tido como cúmplice, foi solto e aguardamos para breve uma segunda temporada. A audiência se tornou parte fundamental para a narrativa, pressionando autoridades com novas evidências e fomentando a discussão com as mais diversas teorias.
‘The Keepers’, da mesma produtora de ‘Making a Murderer’ e também disponível na Netflix, é ainda mais impressionante por ter início já nas investigações informais que algumas senhorinhas começaram a empreender em um grupo no Facebook.
Ex-alunas da freira Catherine Cesnik, assassinada misteriosamente em 1969, passaram décadas inconformadas com a falta de conclusão para o caso. Hoje idosas e aposentadas, Gemma e Abbie passaram a dedicar suas horas livres para entrevistar pessoas e reunir pistas sobre quem teriam sido os responsáveis pelo crime.
As carismáticas vovós acabam se tornando fio condutor para que a audiência conheça uma infinidade de situações gravíssimas que aconteciam na comunidade católica de Baltimore. E assim, além de especular sobre a sucessão de eventos que tiraram a vida da Irmã Cathy, ainda somos apresentados a outras ex-alunas que haviam lhe relatado abusos sexuais por parte de padres que também trabalhavam na escola.
Como em ‘Making a Murderer’, a história não termina com o último episódio. O grupo no Facebook já possui quase 100 mil novos detetives amadores, muito interessados em acompanhar novos detalhes que não foram exibidos pela série ou colaborar com seus próprios insights a respeito do que assistiram no aconchego do lar.
A Netflix certamente investirá cada vez mais pesado nesse tipo de atração. É o que todo criador de conteúdo está atrás: algo capaz de prover o engajamento da audiência por horas a fio e ainda gerar intermináveis discussões nas redes sociais.
Contando com a aleatoriedade da vida real e as eventuais falhas de processos jurídicos ou policiais, o desenrolar dessas histórias é entretenimento de qualidade absolutamente à prova de spoilers.
SERVIÇO
The Keepers - 1a temporada
7 episódios disponíveis na Netflix
Cotação: 4 Ave Marias, de 5 Pai Nosso possíveis
Colabore com as investigações (ou entretenha-se com as teorias): faça parte do grupo The Keepers no Facebook.
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