Brasil em chamas deixa GloboNews mais interessante que HBO e Netflix
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Estamos vivendo um período em que boa parte do conteúdo já é consumido on demand. O tempo com que cada um lida com suas séries e filmes preferidos é totalmente pessoal e intransferível. Ficamos paranóicos para não estragar a surpresa de ninguém - assim como evitamos dar muita trela justamente quando é um assunto que nos interessa.
Não chega a ser incomum ouvir por aí alguém implorando aos interlocutores coisas como “não fale comigo sobre Big Little Lies, pois adorei e ainda estou no terceiro episódio”. É um movimento antinatural evitar falar sobre o que nos fascina, mas a tecnologia nos empurrou para essa mudança de hábito.
Por ser absolutamente à prova de spoilers, a política só cresce nos debates informais país adentro. É um assunto que ganha cada vez mais espaço no cotidiano do povo como a última fronteira do entretenimento.
Não é para menos. Os fatos desenrolam-se de maneira surpreendente, quase sempre desafiando o bom senso - e, não raro, as leis e a moral.
Recheada de conceitos surreais, a realidade acaba tirando parte da inspiração dos artistas locais. Enquanto Hollywood cria filmes sobre super-heróis e até emojis, estamos obcecados por política e tudo o que se vê são obras a respeito de planos econômicos e operações da polícia federal.
Mas será que os diretores e roteiristas brasileiros, famosos pela pouca prática e certo desatino comercial, serão capazes de superar a vida real? Me parece improvável.
A GloboNews está no pacote básico dos serviços a cabo, mas traz produções mais sofisticadas do que qualquer HBO ou Netflix. E mais caras, pelo que pudemos ver nas últimas delações.
Destaco dois contadores de história que tem dado especial sabor à cobertura da emissora nesses tempos bicudos: Andreia Sadi e Gerson Camarotti.
Se o título de ‘namoradinha do Brasil’ pertenceu a Regina Duarte, hoje é a repórter Andreia Sadi que acompanha o povo em um agradável passeio pelo pouco lúdico universo de Brasília. E costumam ser passeios longos - a jornada de trabalho da jornalista está a altura das piores intenções da reforma trabalhista.
Já Gerson Camarotti tem alguma coisa de Aguinaldo Silva. A ideia de um comentarista político que luta contra uma certa gagueira, mas é firme em suas posições parece fazer jus ao trabalho do autor em sua fase voltada ao realismo fantástico.
São eles que empacotam com muita graça e alguma parcimônia as artimanhas e picuinhas que saem das cabeças mais alucinadas do cerrado. Se o showbiz nacional nunca conseguiu parir um Quentin Tarantino ou um Martin Scorsese, vamos aproveitar os roteiros lisérgicos propostos por Renan Calheiros, Michel Temer, Aécio Neves, Lula e outros criativos integrantes do nosso Rat Pack.
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