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Filme do Plano Real alfineta PT e mostra Capitão Nascimento economista

Emilio Orciollo Neto vive o economista Gustavo Franco, personagem central da criação do Plano Real em "3.000 Dias no Bunker", adaptação do livro de Guilherme Fiúza - Stella Carvalho/Divulgação
Emilio Orciollo Neto vive o economista Gustavo Franco, personagem central da criação do Plano Real em "3.000 Dias no Bunker", adaptação do livro de Guilherme Fiúza
Imagem: Stella Carvalho/Divulgação

19/05/2017 04h00

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Enquanto a República entrava mais uma vez em combustão na noite da última quarta-feira (17), a coluna Chico Barney foi ao Shopping Iguatemi de São Paulo para prestigiar a estreia do aguardado filme "Real - O Plano por Trás da História".

Antes do começo da sessão, a fala de um produtor chamou atenção: louvou a atitude de José Padilha em Tropa de Elite ao evitar o financiamento público e, assim, livrar o cinema brasileiro do marxismo.

A referência não passa incólume quando as luzes se apagam e percebemos que "Real" tem como protagonista uma versão engomadinha do célebre Capitão Nascimento. Se não, vejamos:

Missão dada…

Como sua contraparte policialesca, o economista Gustavo Franco usa um cabresto auto-imposto, visando o cumprimento de um objetivo claro e cristalino - neste caso, a manutenção da força da nova moeda.

Intransigência

Tavinho Truculência não pensa duas vezes antes de atacar quem pensa diferente. O amigo playboy que vota no PT e o economista que vê outras luzes no fim do túnel têm sorte do protagonista desse filme não ter porte de arma.

Problemas amorosos

Assim como Nascimento decepcionou sua Rosane em inúmeras oportunidades durante os dois Tropa de Elite, a pobre Renata também sofre nas mãos de Franco. O cidadão parece acreditar que é um representante dos céus para salvar o país, meio como um faraó que estudou economia em Harvard. E nenhuma Paolla Oliveira conseguirá impedi-lo.

Traídos pelo sistema

Se Nascimento e seus amigos tiveram problemas para fazer a coisa certa em um sistema corrupto, imagina o visionário neoliberal que morava em Brasília.

Frases de efeito

Os bordões são parte fundamental da nossa cultura, é bem verdade. Mas o último grande provedor desse fenômeno no cinema foi Tropa de Elite, com termos que continuam populares mais de uma década depois. Pois "Real" faz o possível para enriquecer tal léxico. Destaque para "não me formei em primeiro lugar da turma para ficar corrigindo prova de aluno comunista", passagem que mais parece um trecho perdido do emblemático ‘trote da Telerj’.

No geral, o filme é bem mais digno do que o trailer nos faz supor. O personagem central é de fato muito interessante e todo o cenário político da época levanta inesperadas reflexões sobre a péssima qualidade das perucas no Brasil.

As atuações são tão boas quanto nosso cinema costuma apresentar, variando entre o constrangedor e o lamentável na maior parte da exibição.

O grande ponto fora da curva é Arthur Kohl, brilhante ao representar José Serra. A entonação de sua voz certamente garantiria uma vaga entre os fantoches do saudoso Cabaré do Barata, humorístico de viés político apresentado por Agildo Ribeiro nos tempos do onça.

Cabaré do Barata, humorístico de viés político apresentado por Agildo Ribeiro - Reprodução - Reprodução
Cabaré do Barata, humorístico de viés político apresentado por Agildo Ribeiro
Imagem: Reprodução

Emílio Orciollo Neto tem bons momentos, mas é atrapalhado por uma direção genérica e sem expressão - provavelmente a maior característica do cinema brasileiro.

Juliano Cazarré participa do filme como "o petista genérico", servindo de judas a ser malhado nesse grande sábado de aleluia da história econômica.

Na falta de um antagonista mais proeminente na trajetória de Gustavo Franco, coube ao personagem de Cazarré ser a voz que se levantava para representar o povo oprimido pelas decisões austeras da época. Numa ironia que talvez tenha escapado aos realizadores do filme, ficou parecendo que o vilão da história era justamente sua maior vítima.