Precisamos ter uma conversa honesta sobre as escolhas da Disney quando o assunto é... personagens negros. Vamos lá! Começa que já temos uma dificuldade para encontrar histórias cujos personagens centrais são negros e, quando encontramos, "voilá!", esses personagens seguem um padrão bem esquisito: eles nunca permanecem em seus corpos durante a narrativa.
Do que você está falando, Andreza?
Bora lá.
A animação "A Princesa e o Sapo" (2009), baseada no conto "O Príncipe Sapo" iria nos apresentar a primeira princesa negra da Disney.
Contudo, tcharam!, ela passa boa parte do desenho presa no corpo de um sapo.
Passam-se exatos dez anos e somos apresentados a um espião negro —"o melhor espião do mundo", segundo a sinopse— como protagonista de uma animação da Blue Sky, estúdio que também pertence à Disney. Em "Um espião Animal", Lance Sterling recebe a voz de Will Smith, que divide a cena com nomes como Tom Holland.
Não preciso nem terminar a explicação para dizer que... "puff"... o protagonista passa boa parte do filme vivendo na pele de um pombo.
Agora, em 2020, fomos apresentados ao protagonista negro de "Soul", a animação da Pixar que, como todo mundo sabe, também é da Disney. Aos 55 segundos do primeiro trailer (sim, eu cronometrei), ele morre e vira uma bolha azul.
É, minha gente... eu sei que vocês terminaram de ler os três únicos exemplos de protagonistas negros das animações dos estúdios Disney se perguntando "mas será?". E eu te digo: não é apenas coincidência.
Uma petição online chamada Pare com Animações que Desumanizam Personagens Negros (em inglês) já está tratando da discussão e promovendo um debate sério sobre o assunto. No gráfico abaixo, dá para ver a linha do tempo.
Bom, linha do tempo devidamente apresentada, será que podemos falar agora sobre um possível padrão? E do porquê dele?
Na verdade, quem tem que responder isso são os respectivos estúdios. Por que não optar por histórias onde os protagonistas vivem toda a narrativa em seus corpos negros? Não quero acusar ninguém de nada, mas acho que vale uma discussão séria sobre essas escolhas.
Se estivéssemos em 1954, no auge da luta pelos direitos civis negros nos Estados Unidos, eu entenderia a relutância em apresentar protagonistas negros, mesmo em animações. Mas estamos em 2020, depois de "Pantera Negra" (também da Disney) ter arrecadado mais de US$ 1,3 bilhão nas bilheterias do mundo inteiro. Então fica difícil entender a relutância ou a escolha, seja lá como podemos chamar isso.
Além do singelo questionamento, a mais importante discussão aqui é a importância da contratação de profissionais não-brancos para participar dessas animações e ter poder de decisão sobre elas. Assim, quem sabe, na próxima vez em que alguém aparecer querendo transformar um negro em, sei lá, peixe, encontre alguma resistência. Só assim a representatividade pode gerar impactos reais.
A gente sabe das tentativas da companhia em apresentar narrativas diferentes, como em "Frozen", "Malévola" e no divertido "Detona Ralph", entre tantos outros títulos. Mas é necessário saber se um dia poderemos ver um filme com protagonistas negros por completo.
Enquanto isso, vamos pensando na magnífica e provocante animação em tom de protesto de Michael Jermaine. Ele usa da narrativa do filme "Corra!", de Jordan Peele, para criticar o que a Disney anda fazendo com corpos negros em suas animações.
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