Topo

A TV aberta me fez nerd

Colunista do UOL

15/07/2020 16h33

Antes de contar algumas histórias sobre meu amor ao universo nerd, eu faço questão de dialogar com você, que odeia o termo "nerd" e tudo que ele pode significar. Eu sei que nem todo aficionado pode ser gente boa. Por exemplo, ter que lidar com comentários e questionamentos machistas, como quando você é mina e duvidam de você perguntando "quantas HQ's já leu?". É horrível mesmo. Mas eu acredito que é importante disputar o significado das palavras. A comunidade nerd pode ser muita coisa! É LGBTQ+ com a POC CON (feira de quadrinhos voltadas ao publico LGBTQ+ e nerd), é favelada com o PERIFACON, a convenção nerd das periferias. É, sobretudo, diversa. E pode ser saudável também!

Pois bem! Eu terminei de ler o novo ouro do Ed Piskor em parceria com a Marvel. Sim, o cara que fez o ótimo "Hip Hop Genealogia", que conta a história do surgimento do hip hop em forma de quadrinhos. Ed agora está assinando "X-Men: Grand design". Simplesmente a HQ que promete contar, no primeiro volume, as duas últimas décadas dos X-Men. Uma grande oportunidade para entender a cronologia dos mutantes e viajar nos traços que deram forma aos personagens. A HQ foi lançada esse mês pela editora Panini, com prefácio assinado por Emicida --que nunca escondeu seu apreço pelos quadrinhos.

  X-men: Grand Design  - divulgação panini  - divulgação panini
X-men: Grand Design Vol.01 Marvel Grand Design
Imagem: divulgação panini


Depois de revisitar todas as minhas memórias afetivas com os X-Men (talvez porque ontem, dia 14 de julho, fez vinte anos do lançamento da franquia no cinema), fiquei pensando de onde surgiu esse amor pelos mutantes. De repente, TCHARAAAAN, lembrei do processo interno que vivi conhecendo os heróis graças aos filmes e aos desenhos a que assisti na TV aberta.

Eu fico pensando que fiz parte da geração dos anos 2000 que teve a sorte de acompanhar uma ótima programação em vários canais da TV aberta. Embora não tenha tido a sorte de pegar conteúdos como o do "Top TV" da Record, que passava "Ultraman" e uma revisão de "Jornada nas Estrelas" só para fãs, cresci vendo "X-Men Evolution", "Yu-Gi-Oh", "Liga da Justiça" e, claro, "Super Shock".

Essa experiência de ter um conteúdo de forma aberta e gratuita todas as manhãs, além de me tornar uma adulta aficionada, me permitiu ter contato com o universo da ficção dos quadrinhos, mesmo antes ter lido uma HQ com essas histórias.

Aliás, demorou muito para eu ler uma HQ que não fosse da Turma da Mônica. Uma parte da minha alfabetização se deu pela turminha! Levei bastante tempo até descobrir que dava para ler quadrinhos na biblioteca da escola. Também tinha um sebo que vendia em uns pacotes versões antigas, por um preço muito mais baixo. Na cabeça do dono, aqueles gibis valiam menos porque eram mais velhos. Eu fico pensando no quanto de raridade não passou pelas minhas mãozinhas...

Nunca vou me esquecer da primeira vez em que vi o magnífico "Hell Boy", de Guillermo Del Toro. Depois de assistir ao reboot de 2019, considero o de Guillermo uma obra de arte. Fui descobrir depois que, na verdade, se tratava de um filme baseado numa HQ. Desde então, fielmente, sempre dou um jeito de acompanhar o vermelho que odeia seus chifres e é o niilismo em pessoa —ou em demônio.

O começo das adaptações de heróis dos quadrinhos para o cinema merece ser lembrado com bastante afeto. O que falar de "Blade - O Caçador de Vampiros"? Tenho a impressão de que passava uma vez por mês no SBT. Só depois de adulta fui descobrir que o vampiro negro que tinha que cumprir sua jornada do herói, o meu vampiro favorito, ajudou a salvar a dona Marvel quando ela estava vendendo os direitos dos seus heróis para a indústria do cinema desesperadamente, afinal sem "Blade", não teriamos "X-men - o Filme".

Não quero me alongar, mas eu poderia fazer um texto com cinco páginas só contando como foi bom ver o Homem Aranha na TV Globinho, e sobre como acredito que isso formou o meu caráter (recordei também da defesa que o querido Chico Barney fez pela volta da TV Globinho —inclusive estou super estou de acordo).

E o que dizer de Pokémon nas manhãs também?! Feliz foi a criança que teve todo tempo para sentar e ver produções como "Liga da Justiça", "Sem Limites" e "O Maskara". Mais tarde eu também descobri que podia continuar as aventuras de Stanley Ipkiss pelos quadrinhos, mas daí também pude conhecer a perversidade dele também.

É sempre bom relembrar todos os conteúdos de infância, mas também importante lembrar de deixar a mente aberta para as novas produções que têm ocupado a TV aberta.