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André Barcinski

Dos Irmãos Marx a Seinfeld: como os judeus dominaram a comédia

Jerry Seinfeld - Reprodução/Getty Images
Jerry Seinfeld Imagem: Reprodução/Getty Images

Colunista do UOL

14/07/2020 08h10

Resumo da notícia

  • Dos Irmãos Marx a Seinfeld, comediantes judeus dominaram o humor norte-americano no último século. Como se explica isso?

Em 29 de junho, uma parte imensa da história da comédia se foi. Morreu Carl Reiner (1922), um dos nomes mais importantes do humor na TV e no cinema.

Reiner foi ator e roteirista e trabalhou em programas de TV pioneiros como "Your Show of Shows" (1950-1954), criado por seu amigo e mentor, Sid Caesar, e que tinha no time de roteiristas outro grande parceiro, Mel Brooks.

Veja aqui uma entrevista antológica dos três - Reiner, Caesar e Brooks - com Larry King:

Em 1961, Reiner criou "The Dick Van Dyke Show", um programa humorístico que, seis décadas atrás, já explorava os bastidores da televisão, com um personagem central que era roteirista de TV.

Nos anos 1970 e 1980, Reiner fez uma brilhante transição para o cinema, dirigindo filmes como "O Panaca" (1979) e "Cliente Morto Não Paga" (1982) e revelando outro comediante genial: Steve Martin.

Carl Reiner faz parte de uma longa tradição que vem da imigração europeia à América do Norte após a Primeira Guerra Mundial e se estende até hoje, e que teve um impacto imenso na história da comédia moderna: a tradição do humor judeu.

Desde os anos 1920, os judeus dominaram a comédia nos Estados Unidos: dos Irmãos Marx aos Três Patetas, passando por Jack Benny, Milton Berle, Sid Caesar, Billy Wilder, Jerry Lewis, Neil Simon, Woody Allen, Don Rickles, Joan Rivers, Mort Sahl, George Burns, Mel Brooks, Sophie Tucker, Mike Nichols, Elaine May, Henny Youngman, Jackie Mason, Buddy Hackett, Rodney Dangerfield, Lenny Bruce, Billy Crystal, Gilda Radner, John Landis, chegando a Andy Kaufman, Jerry Seinfeld e Larry David, e, mais recentemente, Adam Sandler, Jon Stewart, Ben Stiller, Andy Samberg, Judd Apatow, Sarah Silverman e Lewis Black.

Em 1978, segundo a revista "Time", os judeus totalizavam 2% da população dos Estados Unidos, mas incríveis 80% de todos os comediantes profissionais de "stand up" do país.

E como os judeus conseguiram isso? Como uma parcela tão pequena da população conseguiu dominar o mercado de forma tão avassaladora?

São várias as respostas. Há, em primeiro lugar, a questão do senso de humor dos judeus, objeto de vários estudos e livros. Uma crítica no jornal "The New York Times" a um livro recente, "Jewish Comedy - A Serious History", de Jeremy Dauber, traz duas frases interessantes de judeus famosos. A primeira é de Sigmund Freud: "Humor judaico era um mecanismo de defesa, uma forma de agressão sublimada que permitia às vítimas de perseguição lidar com essa condição." A segunda, de Mel Brooks, é mais engraçada: "Se eles estão rindo, não conseguem te espancar até a morte!"

Teorias à parte, não dá para começar a explicar o sucesso do humor judeu sem falar de um conjunto de montanhas localizado no sudeste do estado de Nova York, chamado Catskills.

Foi ali que, a partir do início do século 20, começaram a surgir clubes recreativos que atendiam, basicamente, à população judia de nova York e região. Nas férias, famílias judias se reuniam nesses resorts para fazer atividades ao ar livre, como passeios de barco por lagos, pescarias, beisebol e piqueniques.

À noite, os adultos se juntavam em restaurantes e bares dos resorts para assistir a peças de teatro, shows de mágicos e, sim, comediantes. Foi nesses locais que a geração de Carl Reiner, Sid Caesar e Mel Brooks começou a se apresentar. Quase todos tinham nomes artísticos "americanizados": Mel Brooks se chama Melvin Kaminsky, e o sobrenome verdadeiro de Caesar era Ziser, mas foi trocado na chegada da família a Nova York quando o oficial da Imigração não conseguiu pronunciar o "Ziser" polonês e sapecou em "Caesar" mesmo.

Esses resorts ficaram tão famosos e cresceram tanto em número, que a região das montanhas Catskills recebeu o apelido de "Borscht Belt" ("Cinturão do Borscht"), em alusão à sopa de beterraba tão comum no leste europeu e Rússia.

Foi no "Borsch Belt" que milhares de comediantes aperfeiçoaram suas piadas e imitações. De lá saíram muitos dos mais prestigiados atores, roteiristas e diretores da TV e do cinema, e sua influência é sentida até hoje.

Então, quando você estiver assistindo na TV a um "sitcom" humorístico ou a um show de "stand up", pode estar certo que muitas das piadas e "sketches" tiveram sua origem em algum desses palcos.

Uma ótima semana a todos.

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