Woody Allen: só os fatos, por favor
Nos últimos tempos, não tem sido fácil escrever qualquer coisa sobre Woody Allen. A menor menção ao nome do cineasta é geralmente recebida com pedradas e xingamentos.
O motivo, claro, é a acusação de abuso sexual feita por Dylan Farrow, filha adotiva de Woody e da atriz Mia Farrow.
O tema é gravíssimo, e acho que qualquer acusação de abuso sexual precisa ser investigada com a máxima dedicação.
O fato é que a acusação contra Woody Allen foi investigada com a máxima dedicação. Não uma, mas duas vezes.
O caso começou em 1992: Woody e Mia, que eram namorados, se separaram depois que ele iniciou um romance com Soon-Yi Previn, então com 22 anos de idade, filha adotiva de Mia e do pianista e maestro americano André Previn.
Em agosto do mesmo ano, Woody foi visitar os dois filhos adotivos que tinha com Mia —a menina Dylan, de 7 anos, e o menino Moses, de 12— na casa de campo de Mia, em Connecticut. Mia não estava, mas a casa estava cheia de empregados e de crianças (Mia tinha vários filhos, biológicos e adotados).
Segundo Mia, depois da visita, Dylan teria dito que Woody abusara sexualmente dela. Mia gravou um depoimento da criança e entregou as fitas à polícia.
Iniciaram-se, então, as investigações: a primeira, realizada por uma unidade especial de investigação de abusos de crianças do Estado de Connecticut, durou seis meses, e concluiu: "Dylan não foi abusada sexualmente por Allen".
A segunda foi ainda mais extensa —14 meses— e envolveu profissionais dos Serviços Sociais do Estado de Nova Iorque. Novamente foram interrogados todos os presentes, incluindo Woody, que passou por um detector de mentiras. Conclusão: "Não foi encontrada nenhuma prova credível de que a criança (...) tenha sido abusada ou maltratada".
Os investigadores aventaram duas hipóteses para explicar as acusações de Dylan. A primeira: "As declarações não eram verdadeiras, mas foram inventadas por uma criança emocionalmente vulnerável", e a segunda: "Dylan foi treinada ou influenciada pela mãe".
Woody Allen nunca foi acusado pelo suposto abuso, porque não havia provas para justificar a acusação (quem quiser mais detalhes do processo deve ler este artigo da jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho).
Corta para 2018: Dylan, agora uma mulher de 32 anos, dá entrevista a uma emissora de TV norte-americana em que reitera as acusações contra Woody. Se em 1992 as acusações foram rechaçadas pelos investigadores e não chegaram sequer aos tribunais, em 2018 ecoaram fortemente nas redes sociais.
Mesmo sem provas, a "justiça" da Internet rapidamente condenou o cineasta: seus dois últimos filmes não encontraram distribuidores nos Estados Unidos, e sua autobiografia, "Apropos of Nothing", teve o lançamento cancelado pela editora Hachette depois de protestos da família Farrow e de funcionários da editora. O livro acabou lançado, semanas depois, por outra editora, a Arcade.
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