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MV Bill celebra Tim Maia em novo som: "Foi o verdadeiro gangsta do Brasil"

08/11/2019 13h00

Vinte e um anos depois de morrer, vítima de um edema pulmonar, Tim Maia (1942-1998) é tema da nova música de MV Bill, que chega às plataformas de música hoje (8).

Desde o final de 2018, o rapper carioca vem lançando uma faixa inédita por mês. O álbum completo, ainda sem título, tem previsão de lançamento para 2020.

MV Bill lança "Tim Maia" - Carlo Locatelli - Carlo Locatelli
MV Bill lança "Tim Maia"
Imagem: Carlo Locatelli
Em "Tim Maia", a composição leva assinatura do rapper em parceria com o DJ Tom Enzy, de Portugal. Nela, um trap, Bill escreve uma pequena biografia ressaltando a relevância de vida e carreira do Síndico.

O videoclipe, que estará disponível no canal oficial do rapper no YouTube, faz uma viagem aos anos 1970 e traz produção de Fabrício Figueiredo.

"Depois que expliquei toda a concepção de como fiz a música, Fabrício sugeriu encarar os anos 70. E, ao dizer isso, entendi que ele tinha captado o espírito da música", conta.

No vídeo, o ator Babu Santana, que interpretou Tim em 2014 no longa Tim Maia, retorna o papel ao lado de MV Bill. "Quando o convidei, Babu aceitou imediatamente, pois além de fã do Tim, também era fã do meu trabalho", comenta Bill.

As filmagens foram feitas no Rio em diferentes locações, como a praia de Grumari, a praia do Pontal e, coincidentemente, na praça Tim Maia. A produção investiu no visual retrô, com bailarinos e iluminação psicodélica, emulando a estética de programas de TV da época.

Abaixo, o rapper carioca conta com exclusividade por que resolveu homenagear Tim Maia em seu novo trabalho.

Adriana: Você faz uma biografia do Tim Maia na música. Por que resolveu prestar essa homenagem agora?
MV Bill: Porque sou muito fã dele e ouço suas músicas desde a infância. Meu pai contava as histórias do Tim Maia. Ele dizia que Tim circulava pela favela Macedo Sobrinho, uma favela que existiu antes da Cidade de Deus, cantando suas músicas pelos becos. Segundo meu pai, a voz dele ecoava dentro dos barracos. Além disso, tenho uma coleção de vinis e tem vários do Tim Maia que herdei dos meus pais, que sempre foram fãs. Dentro do rap tem essa parada de samplear músicas antigas, mas eu queria compor uma parada do zero. E foi assim que convidei meu amigo Tom Enzy de Portugal.

Você chegou a conhecê-lo?
Não o conheci. O único show que tive a oportunidade de ir acabou cancelado. (risos)

O quanto Tim Maia contribuiu para o rap?
Primeiro na postura. Nos anos 70, principalmente. Mas era muito a nossa atitude dos anos 90. Tim Maia foi o único "gangsta" que a música brasileira teve de verdade. Ele nunca deixou de dar sua opinião para os fatos. Sempre se posicionou. Ele, sim, era o verdadeiro gangsta do Brasil. E ainda tinha um coração bom de pensar no coletivo, sempre fez pelo próximo. Achei que teve pouca lembrança nos 20 anos de sua morte. Achei pouco só shows de tributo. A gente precisa imortalizar a música dele.

Ouvindo sua música, me lembrei do livro de Nelson Motta e do filme. Você usa as gírias dele, como baurete [Tim usava o termo para falar de baseado], e algumas cenas até remetem ao longa. Como chegou à concepção do clipe?
Foi a concepção do Tim Maia que a gente queria retratar. A gente queria o Tim Maia "bandido". E pra retratar isso pensei em fazer algo bacana. O clipe foi feito de maneira totalmente independente. Investi não só na música, mas na homenagem. Discuti com o Fabricio [produtor]. Queria que estivesse muito próximo ao perfil dele naquela época. Na música, saímos do que era o óbvio, fomos por um caminho na contramão. Compusemos um trap partindo do zero.

E por que você escolheu o Babu Santana que interpretou Tim no cinema?
As coisas foram acontecendo. Além da música, tem as outras coisas que vão rolando por fora. Sou amigo do Carmelo Maia, filho do Tim, e fazia dez anos que a gente não se via. Depois que mandei a música para ele, recebi um áudio gigante dele agradecendo. Ele ficou feliz pra caramba porque não era um artista pegando uma música, mas um artista fazendo uma música baseada na história do pai dele.

Sobre lembrar do Babu, foi automático. Ele declarou que era fã das minhas músicas. Quando fiz o convite, ele chorou. Gravamos das 7h da manhã até 1 da madrugada do dia seguinte, mas foi muito satisfatório. Saímos felizes.

A letra diz "em tempos de reaça, não dá pra ficar mudo". Como você acha que Tim Maia estaria vivendo este momento do Brasil?
O Tim Maia era uma caixa de surpresa. Mas pelo que conheço do discurso, sei que ele não ficaria calado. Não sei o que ele diria, mas mudo ele não ficaria.

@Siga Adriana de Barros