'Restaurantes para estar, não para comer' precisam conter multidão na porta
O segurança, vestindo uma camisa listrada de azul e branco, está prostrado à porta não para prevenir furtos ou roubos no restaurante.
O segurança, vestindo uma camisa listrada de azul e branco, está prostrado à porta não para prevenir furtos ou roubos no restaurante.
Onívoro, no jargão da biologia, significa aquele animal capaz de se alimentar de todos os tipos de seres vivos (e até alguns inanimados) que existem na natureza, dos oceanos ao ar.
Se você é louco por hambúrguer ou por um bom naco de carne no churrasco de domingo, você faz parte do grupo dos tiozões. Pelo menos se vivesse nos EUA.
Em um restaurante em Madri, a música eletrônica no talo bate os 90,61 decibéis: "É como um cortador de grama", informa o aplicativo do celular que mede ruídos. "Você está em um lugar muito barulhento!", diz a mensagem na tela.
Com a onda da retaliação que a indústria de restaurantes tem recebido nas últimas semanas desde que passaram a pipocar notícias de abusos por parte de alguns deles, a discussão tem ficado mais acalorada.
Em uma tradicional taberna na Calle del Acuerdo, em Madri, peço por uma mesa para dois e o garçom logo pergunta: "É para jantar? Se for, pode me acompanhar".
Para a maioria das pessoas, comida é apenas sustento. Para outras, um passaporte fácil para o prazer e o para o hedonismo.
Pastéis impossíveis de segurar com duas mãos, montanhas de queijo despencando de dentro de um hambúrguer, fontes de chocolate sobre qualquer tipo de plataforma doce — de bolos a donuts.
O prato poderia chegar à mesa com um aviso: "Nenhum animal foi ferido para a produção desta receita". Ainda que ali, diante dos olhos, esteja um espetinho de frango grelhado — dourado por fora, carne tenra e branquinha por dentro.
Para comer ali são necessários dois voos e duas horas pela estrada em um 4x4? Ótimo! O lugar é tão remoto que é preciso se programar com meses de antecedência para conseguir uma reserva? Maravilha.
Na porta do restaurante em que um inflável gigante de um garoto com uma camiseta de panda dá boas vindas aos visitantes, um grupo de artistas com perucas coloridas, roupas vermelhas e muito brilho na cara dança de patins para animar os clientes.
Uma família inglesa de 5 pessoas teve um problema de atraso com um trem para Londres, o que impediu que elas chegassem para a reserva das 19 horas que tinham feito no famoso restaurante Core, da chef Clare Smyth.
O cardápio foi criado por alguns dos melhores chefs do mundo — aqueles que levaram milhares de pessoas a passar horas e horas na frente da tela.
Estrelas, sóis, distinções, rankings, listas criadas por algoritmos: o mundo da gastronomia de repente ficou repleto de premiações e eventos.
A fila que se forma na estreita viela de Vicolo S. Giovanni Battista, no Centro de Caiazzo, é um indício de que algo fora do comum acontece por ali.
No quinto piso do Tolón Fashion Mall, um shopping repleto de lojas de grife no bairro de Las Mercedes, em Caracas, um constante fluxo de homens de blazer e mulheres de vestido chama a atenção.
Está na hora da nossa gente talentosa mostrar seu valor: talvez o Brasil nunca tenha estado em uma posição tão propícia para exibir para o mundo a sua rica gastronomia.
Com um celular na mão e alguma opinião na cabeça, as redes sociais foram inundadas por "críticos gastronômicos" cheios de opiniões sobre os restaurantes que frequentam.
Era uma questão de tempo: enfim, a inteligência artificial entrou com os dois pés na cozinha.
Os 50 melhores restaurantes da América Latina, os 101 bares mais imperdíveis do mundo, os 100 melhores chefs de todo o planeta: na gastronomia, vivemos em um mundo (cada vez mais) dominado por rankings.