Renato Feder, não tire das crianças a chance de segurar um livro nas mãos
Excelentíssimo Senhor Renato Feder,
Excelentíssimo Senhor Renato Feder,
Sou das pessoas que gosta de voltar sempre ao mesmo lugar. Um dos jeitos, talvez, de lidar com a nostalgia, sensação de exílio pela expulsão categórica da terra da infância. Ando pelas mesmas ruas, sofro um regozijo sutil quando consigo sentar dois dias seguidos no mesmo lugar no ônibus, vou aos...
"Posso te fazer um pedido?"
Milan Kundera morreu. É um pesar diferente o que me toma, não como o que sinto perante a morte de alguém fisicamente próximo. Um pesar pelos livros que ele já não poderá escrever, ainda que seu último romance tenha sido publicado há quase dez anos e que ele, com 94, provavelmente já não escrevia...
Minha pequena homenagem ao Zé Celso, um pedacinho de "As pequenas chances", romance que está prestes a ser lançado pela editora Todavia. Zé Celso, que nos ensinou não só como se vive, mas também como se morre; que decidiu se casar um mês antes de morrer, como se soubesse e já estivesse preparando...
Como contar uma história? Como contar a história de um estupro? E se for uma história verídica, que aconteceu com uma pessoa muito próxima, como escolher a voz narrativa? Como fazê-lo de forma verdadeira e respeitosa e ao mesmo tempo balancear realidade e ficção? Como manter a distância certa da...
Foi uma semana titânica: houve os Titãs do palco e o Titan do fundo do oceano. Os primeiros me dizem que ainda temos esperança; o segundo, que a desperdiçamos. Os primeiros nos ajudam a olhar o segundo: homem primata, capitalismo selvagem. Eu me perdi. Eu me perdi. Eu me perdi.
Escrever uma coluna por semana é um desafio. Primeiro, porque haja assunto — e haja disposição para ficar por dentro dos temas quentes, quando às vezes tudo o que eu queria era me desconectar um pouco e ler em silêncio. Segundo, porque haja tempo — ou haja coragem para lançar um texto no mundo sem...
Tenho um caderno secreto em que anoto leituras, destaco trechos e atribuo notas a cada livro que leio. Meu critério, totalmente subjetivo, dá nota máxima para aqueles que me causam reações físicas: os que me causam taquicardia, gargalhadas ou choro, prova de que aquelas palavras, capazes de...
Quando meus filhos pediram para ir ao banheiro no meio do filme, percebi: a maior interessada em ver o live action de "A Pequena Sereia" era eu. Pudera: minha irmã e eu assistíamos em looping à versão de 1989. Quase posso ouvir, para além da voz e do sotaque inesquecível de Sebastian cantando...
Meu perfil no Instagram era fechado e eu tinha umas poucas centenas de seguidores quando uma amiga me sugeriu que o deixasse aberto para divulgar o lançamento do meu romance "Copo Vazio". "Só por algumas horas", disse ela.
Enquanto muitas mães estarão almoçando com seus filhos para celebrar seu dia, os meus estarão no carro, me levando para o aeroporto.
Nunca nos casamos, mas eu percebi que estávamos de fato comprometidos na fila de autógrafos de um amigo escritor: era o lançamento do seu livro e, quando chegou nossa vez, ele perguntou se deveria fazer a dedicatória para os dois.
Um cheiro muito peculiar de perfume invadiu minhas narinas quando cruzei com uma pessoa na rua. Não tive tempo de reparar se era um homem ou uma mulher, vi apenas o vulto pelo canto do olho, mas o perfume ficou.
Que atire a primeira pedra quem nunca se viu arrebatado pela paradoxal culpa por sentir. Que atire a primeira pedra sobretudo a mulher que nunca se viu assolada por uma emoção, ao mesmo tempo que pela sensação de inadequação por estar tomada por ela — uma catalisando a outra.
Como receber a notícia de que um intelectual renomado de uma importante universidade foi acusado de assédio por algumas ex-alunas?
Deixar o filho na escola: gesto cotidiano e simples que é a antítese do medo. Porque a escola é lugar de crescer, errar, aprender, encontrar, jamais de morrer.
O bom da treta da vez no Twitter é que, enquanto goza com o sofrimento alheio, você esquece do seu. Esquece das tarefas pendentes, das mensagens não recebidas, se redime de cada frustração.
Não se deixe enganar pelo título: esta é uma coluna de comemoração. O título, que precisa ser instigante o suficiente para te fazer nele clicar, assim como a primeira frase, que precisa te fisgar para que você continue lendo. Tudo isso aprendi em um ano como colunista de Universa, aniversário que...
Nunca esqueci de uma passagem de "Pina", documentário de Wim Wenders sobre Pina Bausch, em que ela dizia algo sobre estarmos, cada um de nós, presentes em cada gesto. Não só o que somos, mas a nossa história, a sociedade em que vivemos, o tempo em que estamos presentes sobre a Terra: tudo isso...