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24/06/2005 - 23h15

Leia entrevista com o fotógrafo Otto Stupakoff, homenageado em mostra no SP Fashion Week

Augusto Olivani
Da Redação
Em São Paulo desde o meio de junho, quando chegou de Bangcoc, na Tailândia, onde alugou uma casa, Otto Stupakoff diz que ainda está a se acostumar com a diferença de fuso horário. Mesmo após conceder série de entrevistas antes da abertura da mostra "55-05", que ocupa o Pavilhão da Bienal de São Paulo durante o São Paulo Fashion Week (de 28 de junho a 4 de julho), o fotógrafo _prestes a completar 70 anos_ se mostrou comunicativo e aberto, além de demonstrar a força de sua memória ao falar com desenvoltura e relembrar situações com requinte de detalhes.

Seguindo o próprio fluxo de consciência, Stupakoff relembra em entrevista ao UOL dos diversos momentos que viveu em sua carreira, sempre concentrado em retomar o trilho que, em primeiro lugar, o colocou em contato com a fotografia. E não demonstra nenhum arrependimento das escolhas que fez ao longo do caminho _só deixa claro a vontade de voltar a trabalhar.

Leia, a seguir, um pouco de Otto Stupakoff por ele mesmo:

UOL: Qual a sensação de ganhar uma retrospectiva no Brasil, mesmo que em um curto espaço de tempo e limitada aos convidados do São Paulo Fashion Week?
Otto Stupakoff:
Eu me sinto extremamente honrado, meu aniversário é dia 28 de junho, no dia da abertura da mostra ao público, e nunca recebi um presente tão grande. É comovente também, porque durante certo tempo eu me senti um pouco perdido no Brasil.

Quando retornei ao país, em 1976, depois de morar por cinco anos em Paris, sabia que tinha que estar em São Paulo se quisesse trabalhar. Porém, é um mistério para mim porque não consegui me encontrar e ter o reconhecimento aqui. Parecia que as pessoas me tratavam como um mito, não se sentiam muito à vontade na minha frente, achavam que não tinham intimidade suficiente para me dar trabalho. De maneira geral, houve um certo ressentimento.

Naquela época, quando eu decidi ir embora do país novamente, escrevi para o amigo Jorge Amado. Disse a ele que sentia que tinha que ir outra vez porque não conseguia exercer minha profissão. Em quatro anos que passei aqui, surgiram apenas 20 trabalhos, sendo que 10 eu mesmo inventei. Jorge me respondeu a carta e depois me mandou um artigo magnifíco que ele escreveu sobre a percepção que o público tem das pessoas que fazem carreira própria. Outros, como Pelé, Tom Jobim e Sérgio Mendes, já haviam me prevenido que quando se faz sucesso fora não se é bem recebido no Brasil.

No momento, estando aqui, não tenho plano nenhum. Ficarei até o fim da exposição e então pensarei em me assentar aqui, alugar uma casa, um apartamento, sondar o mercado de trabalho, para ver se ainda existe aquele ressentimento que existiu na primeira vez, e ver se consigo me instalar aqui. Porque agora eu sinto que cheguei no fim do trilha, no fim das minhas aventuras, depois de correr o mundo inteiro.

UOL: Como você se sente por ter mais reconhecimento e oportunidades de trabalho nos Estados Unidos e na Europa e ter tido poucas oportunidades no Brasil?
Stupakoff:
Os Estados Unidos e a Europa me proporcionaram os elementos necessários para poder trabalhar muito bem. Modelos, assessoria... estou falando de fotografia de moda, que envolve muitas pessoas na produção, e o talento de quem estava nesse meio, fora do país, era muito superior. Tudo isso me faltou aqui. Faltou um trabalho no Brasil que pagasse dinheiro, e assim tive que voltar para Nova York.

Esse retorno aos EUA foi bom _só que esse recomeço foi difícil. O que eu fazia no Brasil não saia daqui, então os quatro anos que eu passei no país foram como se tivesse me perdido no mato. Depois de ausência de nove anos (N.R.: somando os cinco em que morou em Paris), já não estava no mesmo embalo, não tinha os mesmos acessos. Isso me levou cinco anos para voltar a trabalhar. E quando voltei à ativa definitivamente, tive 1992 como o melhor ano da minha carreira, o ano em que ganhei US$ 1 milhão.

UOL: Qual o seu ideal de fotografia de moda?
Stupakoff:
Sempre tratei o retrato de moda como uma foto familiar. Sou fotógrafo de moda que tem ojeriza a fotos posadas. Sempre tentei que as modelos fossem o mais descontraídas possível, que fossem atrizes, que pudessem viver a situação com a qual elas se deparariam na locação.

Uma das melhores experiências nesse aspecto são as fotos que fiz da hooje atriz Jennifer Connely (N.R.: de "Uma Mente Brilhante", "Requiem Para um Sonho", "Hulk" e "Labirinto"). Eu a fotografei desde os 11 anos, quando começou a carreira de modelo infantil. De início, conheci a mãe dela e propus para que fossem ao sul da França, onde morava, para que a garota fosse retratada. E ela inventava tudo por conta própria nas sessões, foi lindo.

O maior desafio do artista é o de encontrar sua própria voz. Gosto de evitar coisas já feitas. Comparo aquele momento de início de carreira ao de alguém que se depara com uma floresta densa, escura, amedontradora, e onde você encontra uma abertura que tem uma trilha, já pisada. Você pode pegar a trilha que quiser. Mas digo que procurem a brecha mais escura, onde não tem trilha nenhuma, para achar seu próprio caminho. Senão não vai conseguir realizar o seu ideal.

Ao adentrar o lugar escuro, vai ver que ele não é tão escuro quanto se pensava, que o salto do abismo não é tão grande, e que o dragão que se esconde na caverna não será um devorador, mas sim a pérola do seu estilo pessoal. Isso leva um certo tempo, faz parte da evolução e da necessidade de honestidade por parte do fotógrafo.

Assim, você separa os fotógrafos em duas categorias: aquele que vive o glamour e ganha a vida profissionalmente, mas que não são profundamente dedicados à verdade de sua prática _e pra mim não dá para mentir para mim mesmo. Não queria virar um homem rico que desprezasse a si mesmo. E há outro tipo de fotógrafo, para quem a fotografia é uma maneira de viver, para qual ele está dedicado.

UOL: O que acha da fotografia de moda hoje?
Stupakoff:
Tenho a impressão que, se eu recomeçasse a fotografar moda, se me fosse dada a oportunidade, começaria de onde parei, porque até hoje não vi ninguém fazendo o que eu imaginava.

Em primeiro lugar, existe uma quantidade de fotógrafos que não existia antigamente. Na década de 50, eram cinquenta, no máximo. E hoje são muitos, muitos, e eu vejo nomes que nunca vi antes e não me interessa fazer trabalho de pesquisa para saber quem é quem. Hoje não estou procurando acompanhar esse mercado, há muitas revistas, e os nomes que vejo mudam constantemente. Eu tenho a impressão de que não está sendo dada ao fotógrafo a oportunidade de desenvolver o seu olhar, a sua maneira de ver. No tempo que trabalhei, você facilmente poderia trabalhar uma década, ou mais, e ver o quanto seu trabalho se desenvolveu _nesse aspecto, admiro imensamente o trabalho de Helmut Newton e a maneira como ele se renovava constantemente.

Um jornaleiro de Nova York, especializado em revistas antigas, já me contou do número de jovens fotógrafos que compravam as Vogues de 20, 30 anos atrás, por altos valores, para se inspirar naquela trilha que já estava aberta e pisada. Há exceções, mas não em número suficiente para serem lembradas.

Como tudo, as coisas não são levadas tão a sério quanto antigamente. Talvez seja nostalgia minha, mas gostaria de retornar à identidade própria e à seriedade do trabalho. Hoje há muitos aproveitadores e o espaço que é dado a eles escancara a incompetência daqueles que dirigem revistas do gênero.

UOL: Você acredita que corresponda à imagem de fotógrafo charmoso, namorador, cercado de glamour por todos os lados _como afirma Bob Wolfenson?
Stupakoff:
O glamour realmente existiu. Famoso eu não era e nunca fui, sabia que o sucesso do meu trabalho dependia do meu comportamento. Muitos dos trabalhos com personalidades que recebi não foram gratuitamente, vieram do fato de que as revistas sabiam que eu conseguia lidar com pessoas difíceis. Eu sabia me vestir, tinha etiqueta, e por isso que eu recebia tanto trabalho, por exemplo, de fotografar celebridades. Se fosse contabilizar, ao todo foram mais de 300 estrelas retratadas.

Namorar, quando aconteceu foi porque era algo espontâneo de ambas as partes. É algo que você não quer evitar, mas é raríssimo. Essas pessoas tem o seu mundo privado muito resguardado e eu tive bastante intimidade com elas. É necessário se resguardar uma vez que se mistura a esse mundo, porque é uma posição muito frágil e difícil. E o ideal era que não se misturasse jamais o pessoal com o profissional.

UOL: Em seus retratos que fez de grandes celebridades, você sempre buscou humanizá-las?
Stupakoff:
Não sempre. Quando fazia retratos em grandes formatos, eles são por naturezas fixos, formais. Mas há retratos muito soltos. Eu sempre lia muito sobre a pessoa que ia fotografar, havia um preparo. Com exceção do Jack Nicholson, que foi muito grosseiro (N.R.: o ator, reclamou, por exemplo, do local escolhido para as fotos _a rua_ e a sessão durou apenas dois cliques), todas as pessoas foram extremamente cordiais comigo.

O meu tipo de fotografia era o de passar o dia inteiro com a pessoa, às vezes mais de um dia, por exemplo, com a alteza real Grace de Mônaco (Grace Kelly) e sua filha Stephanie. Eu fotografei Sophia Loren quatro ou cinco vezes, havia um pouco mais de intimidade, cheguei a passar a noite em seu bangalô, mas nunca tive a ilusão de que era amigo dessas celebridades.

UOL: Nestes 50 anos como profissional, você conseguiu realizar boa parte do que idealizava no início e no auge de sua carreira?
Stupakoff:
Eu comecei a fotografar aos 7 anos. Com 16 anos, fui para Los Angeles estudar fotografia. Ou seja, são mais de 60 anos de ligação íntima com a fotografia.
Tem muitas coisas que eu realmente nunca consegui fazer. Havia um plano conjunto com a revista "Harper's Bazar", que era pegar três ou quatro casais, casados mesmo, e muita gente bonita, com filho, cachorro, etc, alugar uma enorme casa, no campo de preferência, e fazer uma seleção de roupas para cada um. Porém, seria dada aos casais a liberdade de escolherem o que quisessem vestir e depois de fazer o que quisessem. Só então eu os fotografaria. Mas queria deixar livre para que eles vivessem e eu ali, como observador, sem dirigir ninguém. Esse seria o ápice do que eu gostaria de ter feito. É uma idéia genial, porque tira o cacoete das fotos de moda e transforma as imagens em um álbum de família, com enfoque na realidade do momento. Imaginava alguém tocando violino, as pessoas tomando chá à luz de velas.

UOL: O que motiva você a se manter fiel à fotografia?
Stupakoff:
Eu acho que começou com a mesma motivação que acontece com bons pintores, bons escultores: há uma chama que desde pequeno te move, te comove, te dá alento, é a melhor maneira que você conhece para se comunicar, na qual você consegue transmitir coisas muito pessoais para difundir entre muitas pessoas, que entendem das formas mais diferentes. Essa sensibilidade é inata, você não inventa isso.

Desde pequeno existe essa atração, alguma coisa dentro de você que te faz levantar todas as manhãs pensando no que é que você tem que fazer para atender aquela exigência psíquica. Aqui nós saímos do consciente e vamos para o inconsciente. Tem toda uma composição arquétipa que nós trazemos conosco desde a infância, que vem de outras gerações, e entram em funcionamento quando encontramos aquilo que diz respeito ao nosso espírito. É uma escolha. O fotógrafo se forma e já carrega dentro de si essa mesma força, que vem de muito longe, de muitas gerações.

Sempre fui encantado pela beleza. Para mim, ela é essencial para viver. É algo que o povo japonês, por exemplo, tem inato: desde pequeno eles cortam papel, dobram papel, tem uma consciência da beleza. Esse amor, essa necessidade de tocar a beleza sempre esteve comigo desde pequeno e o feio me atrapalha toda a vida _é difícil me acostumar a São Paulo, que é caótica visualmente, desorganizada. Então eu preciso recorrer ao mundo interno da beleza, ao meu mundo particular. A beleza pra mim faz parte do programa diário.
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