Alemanha relembra Pina Bausch um ano após sua morte

No dia 30 de junho de 2009, morria a alemã Pina Bausch, vítima de câncer. O Tanztheater de Wuppertal, companhia fundada pela coreógrafa, cuida do legado de Bausch com projetos e turnês dentro e fora do país.

Durante várias décadas, o trabalho de Pina Bausch foi possivelmente o bem cultural melhor exportado pela Alemanha.

Passados 12 meses da morte da coreógrafa, os fundamentos de seu trabalho continuam rendendo frutos através das atividades do Tanztheater de Wuppertal, companhia fundada por Bausch na cidade onde viveu e trabalhou até sua morte.

Até o ano de 2013, vigoram os contratos assinados pela coreógrafa ainda em vida. Logo após sua morte, tanto a prefeitura de Wuppertal quanto o governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália asseguraram juntos um financiamento fixo para o Tanztheater em torno de três milhões de euros anuais.

Um montante que deverá ser mantido, independente da crise econômica. Pelo que tudo indica, as dificuldades por que passam muitos dos teatros estatais na Alemanha não atinge a companhia fundada por Bausch.

Tradição e renovação

O Tanztheater é hoje liderado por algumas das pessoas que acompanharam a coreógrafa durante vários anos de sua extremamente produtiva carreira. Um deles é o francês Dominique Mercy, um dos primeiros bailarinos a trabalhar com a coreógrafa.

A seu lado, assume também a direção artística da companhia o ex-assistente de Bausch, Robert Sturm. Juntamente com a diretora administrativa Cornelia Albrecht, em Wuppertal apenas desde 2008, eles constituem uma mistura equilibrada entre tradição e renovação, apontam aqueles que vêm acompanhando a reestruturação do Tanztheater desde a morte de Bausch.

O funcionamento da companhia e do teatro que a abriga, garantem seus 30 membros fixos, prova que não há razão para temer um desmembramento do grupo depois da morte da fundadora, como se acreditava logo após o 30 de junho de 2009. Um ano depois, a resposta do Tanztheater é clara: "Dê uma olhada em nosso programa", recheado de turnês que vão de Hong Kong ao Rio de Janeiro, passando por Istambul e Paris.

Nessas turnês, o Tanztheater leva montagens clássicas da companhia ao exterior, como Cravo ou Café Müller, bem como remontagens, como Kontakthof. Toda essa "temporada extremamente ambiciosa" só é viável com um grupo engajado e que se entende bem, argumentam atuais membros da companhia.

No cinema, via Wenders

Mas a trajetória bem-sucedida do Tanztheater se dá não apenas em função das temáticas tratadas em suas peças – assuntos de interesse geral, como por exemplo as relações entre os gêneros. Outros fatores chamam a atenção da mídia para o trabalho da companhia, como por exemplo o filme em 3D dirigido pelo cineasta Wim Wenders, que deverá entrar em cartaz na Alemanha no segundo semestre deste ano. Trata-se de uma homenagem do diretor à sua amiga, num longa-metragem que leva simplesmente seu nome: Pina.

Ainda não se sabe, contudo, quando o Tanztheater de Wuppertal estará aberto para novas peças de outros coreógrafos. Até então, a companhia terá um bom acervo "bauschiano" para cuidar, formado pelo material de produção de mais de 46 peças, bem como por 7.500 vídeos e mais de 35 mil críticas publicadas pela imprensa dentro e fora do país. Tudo isso deverá ser ainda avaliado para a constituição de um arquivo aberto a pesquisadores e interessados.

Fundação e acervo

O professor de Filosofia chileno Ronald Kay, com quem Bausch viveu, e o filho em comum dos dois, Salomon, hoje um advogado de 28 anos, coordenam juntos uma fundação, detentora também dos direitos de encenação das peças da coreógrafa.

Mas, embora a fundação tenha sua sede em Wuppertal, o local que irá sediar o futuro arquivo não foi ainda definido. Do acervo consta, além do material deixado por Bausch, todo o legado do cenógrafo Rolf Borzik, morto em 1980.

Apesar de todas as reverências, em Solingen, cidade-natal de Bausch, nas proximidades de Wuppertal, o projeto de dar o nome da coreógrafa – certamente a filha mais famosa da cidade – a uma praça acabou fracassado devido a divergências políticas locais. Um incidente no mínimo constrangedor.

Com ou sem praça em seu nome na pequena Solingen, a herança de Pina Bausch será certamente cultuada ainda por muito tempo. "O que a bailarina extraordinária arriscou como coreógrafa e diretora no início dos anos 1970 ninguém mais arriscou. Ela teve coragem para se expressar e para a vida interior, quando a Alemanha do pós-guerra havia se refugiado na abstração ou em fábulas em consequência do nazismo", recapitula o jornal Süddeutsche Zeitung, em texto publicado por ocasião do ano transcorrido desde a morte da coreógrafa.

 

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