Que é tempo só de samba

Como o gênero atravessou décadas e se tornou o ritmo mais popular do Brasil

Do UOL, em São Paulo Getty Images

O chefe da folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar

trecho de Pelo Telefone, de 1916

Da origem dos batuques africanos, o samba nasceu de uma mistura de sonoridades e conseguiu, através das décadas, somar novos elementos, influenciar outros estilos e se transformar no gênero mais popular do Brasil. Hoje, no dia do samba, lembramos um pouco dessa trajetória centenária.

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Pelo Telefone

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Anos 1910

Nascido de uma mistura da umbigada, batuque, lundu e várias outras raízes, o samba foi embalado por seu ritmo que seria a nascente do ritmo que explodiria como música popular urbana do Rio de Janeiro. Um dos maiores exemplos da sonoridade desta época é Pelo Telefone, canção registrada em 1916 na Biblioteca Nacional por por Ernesto Maria dos Santos (Donga).

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Anos 1920

O estilo se instala nos morros e subúrbios do Rio de Janeiro. Conforme se espalha, cada samba começa a desenvolver características únicas. Seja uma linha melódica mais acentuada ou baseado em batidas mais ritmadas para os desfiles, o gênero abre o leque e ganha novas vertentes.

Anos 1930

De gênero da periferia, o samba cresce e se estabelece como música nacional. O alcance das rádios faz imediatamente com que vozes fossem alçadas ao estrelato, como Carmen Miranda e Mário Reis. Além do rádio se profissionalizar com os cantores, o desfile das escolas também se torna oficial.

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Anos 1940

É nesta década, tomada pela Segunda Guerra Mundial, que a Aquarela do Brasil (lançada em 1939) se populariza como um grande hino por aqui e no exterior. O samba de Carnaval ganha muita força nos bailes e blocos, enquanto as agremiações crescem. Compositores populares definitivamente se rendem ao samba. Qualquer cantor que desejasse ter uma carreira abrangente precisava ter ao menos um disco com marchinhas e samba. O gênero ganhou espaço fez todos se renderem para sua força e adesão popular.

Falsa Baiana (1944) - Cyro Monteiro

Anos 1950

O samba tradicional resiste na década em que o gênero troca mais influências com o exterior, principalmente pela resposta de alguns acontecimentos da década anterior, como a gravação de Copacabana, na voz de Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva). Os bailes então são tomados por uma nova levada do samba, com tom mais triste e romântico. Enquanto o exterior começa a conhecer o ritmo, os brasileiros também absorvem influências vindas de fora, como os arranjos de orquestra. Nomes como Dorival Caymmi e José Maria de Abreu se destacam, enquanto integrantes da velha-guarda resistem às novas ondas.

Copacabana - Dick Farney (1946)

Folhapress

Anos 1960

Na década em que a bossa nova explodiu, o samba encontrou no gênero um aliado onde suas identidades dividiam muitas semelhanças. Surge uma nova geração com Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Enquanto canções como Garota de Ipanema viram hits internacionais, o samba ganha espaço com eventos em locais que se tornariam sagrados para o gênero, como Zicartola, aberto por Cartola e Dona Zica. O local virou ponto de encontro dos sambistas como Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva (foto) e Aracy de Almeida. Artistas do samba e da bossa nova trocam experiências e influências nesse período.

Cartola, Sérgio Cabral e Ismael Silva (ao violão), no bar Zicartola, no Rio

Acervo da Biblioteca Nacional/Divulgação Acervo da Biblioteca Nacional/Divulgação
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Anos 1970

Os anos 1970 dão um novo fôlego ao samba no mesmo passo que as agremiações se tornam instituições maiores. Grandes veteranos também começam a profissionalizar suas carreiras, como Cartola e Nelson Cavaquinho, que lançam seus primeiros álbuns. Outro nome em plena ascensão na década é o de Martinho da Vila, que se tornou figura importante na história da Unidos de Vila Isabel tanto como compositor como intérprete. Vozes femininas também carregaram o estilo com Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Beth Carvalho.

Beth Carvalho - As Rosas Não Falam

Instagram/Reprodução

Anos 1980

A década onde o samba ganha mais uma transformação importante. O bloco Cacique de Ramos se torna uma importante peça para que o gênero ganhe mais elementos, inclusive novos instrumentos entram na equação: banjo, tantã e repique de mão. Uma nova safra de nomes surge capitaneada pelo Fundo de Quintal, que juntamente traz Almir Guineto e Zeca Pagodinho. É uma época de muita celebração, mas também de perdas. É a década onde nos despedimos de Cartola (1980) e Nelson Cavaquinho (1986).

Angenor de Oliveira, o Cartola, no desfile do Rio, em 1978

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Anos 1990

O já tradicional bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, vê novamente o samba parir uma nova geração de jovens compositores e intérpretes. Teresa Cristina e o grupo Casuarina são alguns destes nomes que dão a nova cara deste cenário. O pagode, que antigamente dava nome às festas realizadas nos quintais do subúrbio, ganha vida própria e uma força incrível entre o público. Inúmeros grupos surgem em São Paulo e no Rio, invadem as paradas das rádios e levam o gênero ao mainstream. Os hits que surgiram ali se tornaram tão potentes que ecoam até hoje nas rádios e karaokês em clima de nostalgia.

Raça Negra - Cheia de Manias (1992)

Washington Possato

Anos 2000

O pagode dos anos 90 ainda curtiu sua força nos anos 2000. Embora não seja visto com bons olhos por 100% dos adeptos do samba raiz, o estilo usou do romantismo e instrumentos elétricos para atingir as massas. Os hits foram presenças unânimes nas rádios e programas dominicais. Entre os bambas mais clássicos, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho desfrutavam de carreiras sólidas e estabelecidas como grandes referências do samba.

Zeca Pagodinho - Deixa a Vida Me Levar (ao vivo, em 2010)

Anos 2010

Mais consolidado do que nunca, o samba ganha ainda mais projeção com outros ritmos. Marcelo D2, que já flertava há anos com o gênero em outros trabalhos, lançou em 2010 um álbum tributo a Bezerra da Silva. Este é só um dos exemplos de como o samba se fez presente no mainstream. A década também solidificou a carreira de filhos de grandes nomes da música nacional: Diogo Nogueira (filho de João Nogueira) e Maria Rita (filha de Elis Regina). Vindos do tradicional Exaltasamba, Thiaguinho e Péricles também emplacaram carreiras solo de muito êxito nos últimos anos, além de abrir portas para novos talentos como Ferrugem e Mumuzinho. E que venha mais samba!

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Bruno Machado/Divulgação

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