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Cineastas podem ser obrigados a revelar fontes que basearam documentários

O empresário Robert Durst comparece a corte criminal durante julgamento de invasão de propriedade, em Nova York - Mike Segar/Reuters
O empresário Robert Durst comparece a corte criminal durante julgamento de invasão de propriedade, em Nova York Imagem: Mike Segar/Reuters

10/08/2019 19h09

O cineasta e os produtores da série documental The Jinx, que descreve uma série de crimes ligados a um herdeiro norte-americano, podem ser obrigados a revelar, na Justiça, as suas fontes.

O milionário Robert Durst foi preso depois da veiculação do documentário em capítulos, em 2015.

Os advogados dele pediram na Justiça para que os cineastas revelem quem foram suas fontes para fazer o filme --como eles são cineastas, e não jornalistas, eles não têm a proteção legal que os permite não revelar quem lhes passou informações.

Durst foi preso em março de 2015 pelo assassinato de uma amiga, Susan Berman, um dia antes da exibição do último episódio da série pela HBO.

No capítulo final de The Jinx, Durst diz, fora da câmara, mas com o microfone sem fio ainda ligado, "está aí, você foi flagrado", e "você matou elas todas, claro". Ele diz isso após ser confrontado com evidências comprometedoras de que ele teria cometido assassinatos.

Os cineastas que fizeram a entrevista podem ser forçados a revelar informações às quais eles tiveram acesso durante as gravações, e os advogados de Durst podem usar isso na defesa, de acordo com dois especialistas.

Durst, 76, é um milionário, neto de um incorporador de imóveis de Nova York. Ele alega ser inocente.

Os documentos legais protocolados pelos advogados de Durst não buscam eliminar o uso legal de nenhuma das evidências que os documentaristas obtiveram para fazer The Jinx --o argumento é de que eles não estão, a essa altura, afirmando que a colaboração entre os cineastas e a promotoria violou os direitos do cliente deles.

O juiz dificilmente eliminaria evidência da série, caso isso fosse solicitado pelos advogados, de acordo com especialistas legais.

"Eles (os cineastas) tinham uma gravação que eles conseguiram, e não há nada de errado em compartilhar isso com autoridades legais. É prova em um caso de homicídio", diz Steve Cron, um advogado não associado ao caso.

Cidadãos responsáveis

Um porta-voz dos promotores não quis discutir o pedido -uma eventual resposta se dará na corte.

O advogado de Durst, Dick DeGuerin, por email, disse que não discutiria o requerimento. "Eu não vou discutir publicamente a nossa estratégia", afirmou.

Victor Kovner, um advogado que representa o diretor de The Jinx, Andrew Jarecki, disse que os cineastas buscaram as autoridades legais como cidadãos responsáveis somente depois de terminarem suas entrevistas porque eles encontraram provas.

"Em nenhum momento algum dos jornalistas recebeu ou respondeu de qualquer forma ou foi direcionado pela promotoria, e nós deixaremos isso claro no documento que será tornado público em algumas semanas", afirmou Kovner pelo telefone.

Nancy Lesser, vice-presidente executiva da HBO para mídia, disse que não iria comentar.

O requerimento dos advogados de Durst estão entre os temas que devem ser discutidos em uma audiência no dia 3 de setembro.

Os cineastas, de acordo com a defesa, "consultaram, coordenaram e colaboraram com as autoridades a partir de 2011 --quatro anos antes da exibição. Eles fizeram uma apresentação de PowerPoint com suas descobertas aos promotores antes de Durst ser preso em 2015 e da acusação de assassinato de Berman".

"The Jinx não foi o trabalho de jornalistas, mas de cineastas que buscavam audiência que executavam trabalho policial", completou.