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Marçal Aquino diz que segredo para vender livros é adaptar para o cinema

O jornalista, escritor e roteirista Marçal Aquino - Patricia Stavis/Folha Imagem
O jornalista, escritor e roteirista Marçal Aquino Imagem: Patricia Stavis/Folha Imagem

Kirsti Knolle

De Frankfurt (Alemanha)

14/10/2013 17h35Atualizada em 14/10/2013 18h16

Em um país onde se lê em média apenas quatro livros por ano, o escritor brasileiro Marçal Aquino considera ter um atalho para difundir sua obra.

"Tenho um jeito especial. Meus livros são adaptados para o cinema. Isso é muito importante se você quer atingir as pessoas", disse Aquino à Reuters na Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha.

Seu romance mais recente, "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", recebeu excelente críticas e vendeu 25 mil exemplares desde o lançamento, um best-seller para os padrões brasileiros, embora seja um número pequeno para os padrões internacionais.

Já a adaptação cinematográfica homônima foi vista por milhões na TV.

É a terceira obra de Aquino adaptada para o cinema. Seus roteiros já lhe valeram vários prêmios no Brasil e no festival de Sundance, nos Estados Unidos. O autor também já publicou livros infantis e romances policiais.

"Não sei quem lê meus livros", disse ele. "Mas com a TV você pode dizer quantas pessoas assistiram e até quem assistiu. Esse é um grande desafio. Você precisa apanhar as pessoas."

"Eu Receberia as Piores Notícias..." se passa em Santarém, no Pará, descrevendo o relacionamento de um fotógrafo com uma ex-prostituta casada com um pastor evangélico. As tensões entre garimpeiros e mineradoras, a corrupção e a traição são temas subjacentes.

"Estive lá como jornalista na década de 1980 e vi a corrida do ouro, a prostituição, todas as realidades de uma cidade pequena", disse ele. "Ao escolher aquela locação para a minha história, eu podia falar sobre a violência de lá e como o amor pode se desenvolver em um ambiente desses."

Quando voltou ao interior do Pará para escolher as locações do filme, anos atrás, ele descobriu que "nada havia mudado". Até por isso, pouca gente deve ler o romance na região.

"Dá para pensar em alguém no Norte do Brasil lendo livros? Não dá para ler quando você precisa se preocupar com o que comer", disse ele.

Aquino, de 55 anos, fez carreira como jornalista, mas se lançou na literatura aos 26 anos, publicando por conta própria um volume de poesias.

Para o autor, a falta do hábito de leitura no país se deve a deficiências no sistema educacional. Ele mesmo nunca teve livros na casa onde foi criado com nove irmãos, em Amparo, a 120 quilômetros de São Paulo.

Ele disse que por muito tempo considerou que não haveria chance de mudança nas condições de vida no país, mas que depois dos protestos de junho surgiu um lampejo de esperança.

"Há muito mais para vir", disse Aquino. "Não dá para prever o que vai acontecer. Essa é a beleza da coisa. Mas pela primeira vez na minha vida espero pela grande mudança."

4 Comentários

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Felippex

o conhecimento é raro

11+3

Caro(a) paulam, está no texto: "Seu romance mais recente..." "...recebeu excelente (sic) críticas". Daí podemos inferir que não se trata de sub-literatura. Há romances mais adaptáveis e romances menos adaptáveis para o cinema. Isso, por si só, não diz se o romance é sub-literatura. Hoje em dia, com tanta coisa para ler e tanto para fazer, sou muito seletivo. A ponto de ler basicamente os clássicos (referendados, portanto, pela crítica). Estou lendo em inglês "O Apanhador no Campo de Centeio". Dei preferência para Machado, Guimarães, Clarice, Drummond, Pessoa, Dostoievski, Wilde, Proust, Kafka, Faulkner, Joyce, Mann etc. e não me arrependo. Os autores de hoje em dia, conheço pouco. Não sei o que estou perdendo, mas torço para que muitos deles se tornem clássicos. Aí sim, talvez eu leia... Eu me interesso pelos que inovam no tema, linguagem, forma de abordar o tema, e o façam com maestria. Admito: é muita coisa para se esperar dos autores!!!