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Jovem se arrisca em lives absurdas; psicóloga diz: 'Comportamento perigoso'

Juan Victor, o "Rei" das Lives - Arquivo pessoal
Juan Victor, o "Rei" das Lives Imagem: Arquivo pessoal

Daniel Palomares

Do UOL, em São Paulo

05/08/2020 04h00

Vale tudo para conquistar seguidores nas redes sociais? Para Juan Victor, quase tudo! Na última semana, o youtuber de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, viralizou ao fazer uma live de madrugada, na rua de sua casa, aguardando ser assaltado.

Enquanto muitos odiariam a experiência de um assalto, Juan —que se autodenomina "O Rei das Lives"— festejou o sucesso de sua empreitada ao ser realmente abordado e roubado por dois rapazes em uma moto, enquanto mais de 5.000 pessoas o acompanhavam ao vivo.

A única coisa de que temos que ter medo agora é o coronavírus. Me protegi com máscara e roupas adequadas. Eu esperava que algo fosse acontecer. Moro num lugar perigoso. Já tinham me assaltado há alguns anos, e eu sabia que não atiram se você não reagir. Só tinha R$ 60 e um celular velho comigo.

Juan conta que a situação não foi combinada. Na noite anterior, ele já tinha feito uma live nos mesmos moldes, mas acabou não sendo assaltado. Repetiu a dose e conseguiu o objetivo.

A galera estava torcendo para eu ser assaltado, e eu também queria ser. Estava muito frio. Não fiquei feliz, mas me senti realizado. Queria acabar a live logo! Sabia que seria roubado.

A empreitada, no entanto, foi considerada perigosa e não recomendável por Andrea Jotta, psicóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação da PUC-SP.

É um comportamento perigoso. Outras pessoas vão ver e querer fazer isso. Dinheiro nenhum no mundo vale você se colocar em risco. Seria bom se o Facebook desse um aviso de conteúdo impróprio.

O Facebook foi procurado para comentar o caso e se limitou a dizer que nas Diretrizes da Comunidade, reforça que proíbe seus usuários de se engajar ou facilitar atividades ilegais ou que possam significar ameaça à integridade de alguém. Em casos de registros de violência física ou mesmo desafios virais de alto risco, a plataforma costuma incluir uma tarja de conteúdo sensível em alguns vídeos e imagens, além de oferecer a possibilidade dos usuários reportarem a postagem para avaliação.

Andrea afirma que, de forma geral, o período de quarentena pode ter intensificado e tornado extrema a relação das pessoas com as redes sociais —especialmente por conta do isolamento social. Mas lembra que existe também o interesse financeiro dessa atuação na internet.

Internet é dinheiro. A gente vive num mundo capitalista, onde as pessoas se vendem. No circo, existe a pessoa disposta a ser cortada ao meio, a entrar no globo da morte. É um espetáculo. Para quem está assistindo é entretenimento. Tanto faz torcer por ele ou torcer pelo 'BBB'. Mexer com sentimentos viscerais é a maneira de o ser humano lidar com seus medos internos.

Não contou para os pais

Além da live do assalto, Juan faz sucesso com outros conteúdos curiosos. Ele recebe sugestões dos seguidores e já fez lives dormindo no telhado, numa rodovia e até num cemitério. Também fez uma contando quantos grãos vinham em uma embalagem de um quilo de arroz.

Cada uma já acumulou milhões de visualizações e compartilhamentos. A próxima ideia, segundo ele, é gravar uma live na frente de uma agência bancária até ser enquadrado pela polícia.

Não contei para os meus pais sobre o assalto, eles iam ficar doidos! Apesar de ter filmado, não procurei a polícia também. Fui assaltado por livre e espontânea vontade.

Juan começou com as lives bizarras em junho como tentativa de chamar atenção e conseguir mais seguidores para o seu canal. Conseguiu: no YouTube, ele já é seguido por 30 mil pessoas, 10 mil a mais só no último mês. No Facebook, são 60 mil.

Não recebo críticas, porque o pessoal que me segue está ali para isso. Eles querem é que eu faça coisas mais hardcore! Quero mostrar mais coisas absurdas no meu canal, isso é bom para pautar meu perfil.

Dormindo no trilho do trem.

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