Topo

Sem eventos e shows, estilista das famosas se reinventa com calcinhas trans

Michelly X com Xuxa, sua musa inspiradora - Reprodução
Michelly X com Xuxa, sua musa inspiradora Imagem: Reprodução

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

30/07/2020 04h00

A pandemia afetou não só os artistas, impossibilitados de fazer shows com público, mas toda uma engrenagem que girava ao redor. Quem trabalhava para fazer eles brilharem em cima do palco, como Michelly X, também teve que se reinventar. A estilista transformou seu ateliê em um laboratório e passou a atender um público que não via a hora de ter peças assinadas por ela.

"Trabalho muito com o público LGBTQ+ e começaram a me pedir calcinhas para transexuais. Tem pouca gente no mercado que faz uma calcinha boa", conta Michelly, que viu a chance de desenvolver as lingeries na pausa provocada pela pandemia do coronavírus.

Como é a calcinha trans?

  • Tem o tecido mais reforçado
  • Uma faixa maior de tecido no fundo acomoda a genitália
  • O fundo vira um fio dental e prende tudo com segurança

Calcinha trans - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Eu sou trans e a Alê, que trabalha comigo, também. Ela acabou de fazer a cirurgia de redesignação, mas antes já fazia as próprias calcinhas. Como ela também é modelista, temos todos os truques para a peça perfeita.

Quanto custa?

As calcinhas são vendidas por R$ 50 cada ou em kits com cinco peças entregues em uma caixinha.

As calcinhas fizeram tanto sucesso que as encomendas estão chegando dentro e fora do Brasil.

Várias meninas que eu conheço do mundo todo pediram. Enviei para a Europa, para os Estados Unidos, vários lugares

As costuras que surgiram como uma solução para as despesas do ateliê, que atualmente conta com três funcionários, mas chega a funcionar até com 12 em época de Carnaval, vão continuar mesmo com a volta à normalidade. O próximo passo de Michelly deve ser criar biquínis com a mesma qualidade e conforto.

Para além das calcinhas

Michelly X também aproveitou a pausa nos figurinos para botar em prática um plano antigo: criar uma linha casual. O que tem? Jaquetas jeans e tiaras bordadas com suas famosas pedrarias e cristais, moletons com o logo dela, camisetas e máscaras, o item mais procurado hoje em dia.

A moda casual de Michelly X

Uma roupa que faço para a Ivete Sangalo inteira de cristal é extremamente cara. Então eu não tinha algo mais simples para o público. Tem gente que quer uma máscara só porque é da minha marca

O item mais acessível da linha casual que custa R$ 20.

Os fãs de Xuxa, que já seguiam a estilista da rainha dos baixinhos no Instagram, também viraram clientes. "Notei uma alta de pedidos da Argentina, onde a Xuxa é bem famosa. Os fãs dela me seguem e também querem ter peças com a minha marca."

costura - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Toda empresa tinha que ter a obrigação de contratar homens e mulheres trans. É uma questão de inclusão. Michelly X, estilista

Outra onda que Michelly X fez questão de embarcar foram as lives, especialmente as que tratavam de visibilidade trans. No tempo que ganhou durante a pandemia, ela quis dividir seu brilho com outras profissionais e transexuais mais antigas, que abriram as portas para todas elas. A mudança de foco foi uma oportunidade de trocar ideias e divulgar histórias de mulheres bem-sucedidas.

Muita gente acha que trans só trabalha como cabeleireira, maquiadora, estilista ou garota de programa. E não. Existem várias trans que são médicas, advogadas, que estão em outras áreas

Michelly X - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A estilista também segue ajudando quem que não teve o mesmo apoio que ela encontrou em sua família. Michelly X emprestou algumas de suas icônicas criações para a Casa Florescer, que acolhe mulheres transexuais e oferece oficinas de costura.

Muitas meninas trans que estão costurando hoje falam que eu sou uma inspiração. É gratificante ouvir isso.