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Laura Harrier, a atriz que virou primeira protagonista negra em 'Hollywood'

Laura Harrier é Camille em "Hollywood" - Divulgação
Laura Harrier é Camille em 'Hollywood' Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

16/05/2020 04h00

Em "Hollywood", a minissérie de Ryan Murphy que conta outra versão da história do cinema, cabe à atriz Camille Washington a missão de quebrar barreiras, se tornando a primeira protagonista negra de um blockbuster, bem na Era de Ouro do cinema americano.

Camille é uma personagem fictícia, mas a atriz que a interpreta, Laura Harrier, teve uma inspiração bem real —e achou poderosa a experiência de poder quebrar tantas barreiras na história.

Em uma conversa exclusiva com o UOL, Harrier (que pôde ser vista recentemente em "Infiltrado na Klan", de Spike Lee) falou sobre seus exemplos e inspirações, o poder da representatividade e como foi unir verdade e ficção na minissérie de Murphy, que coloca personagens como Camille ao lado de figuras bem reais como Rock Hudson.

Inspiração

Dorothy Dandridge no filme 'Carmen Jones' (1954) - 20th Century-Fox/Getty Images - 20th Century-Fox/Getty Images
Dorothy Dandridge no filme 'Carmen Jones' (1954)
Imagem: 20th Century-Fox/Getty Images

A maior inspiração de Laura para Camille foi Dorothy Dandrige, que em 1955 tornou a primeira mulher negra a ser indicada ao Oscar de melhor atriz, por seu trabalho em "Carmen Jones".

Ela era uma pessoa que tinha um talento incrível, mas que acabou tendo um final trágico

A atriz fez uma pesquisa extensa sobre a vida da veterana, que morreu aos 42 anos, vítima de uma overdose acidental.

Infelizmente, ela nunca conseguiu realizar todo o seu potencial por causa das limitações da época. Após sua indicação ao Oscar, ela teve uma série de filmes mal-sucedidos. Gosto de pensar que Camille teve um final mais feliz

Quebrando barreiras

Dentro do revisionismo histórico de "Hollywood", Camille convive também com duas mulheres icônicas que existiram de verdade: Hattie McDaniel, primeira negra a ser premiada com um Oscar, por seu papel de coadjuvante em "E o Vento Levou", e Anna May Wong, primeira mulher de ascendência asiática a se tornar estrela de Hollywood.

A primeira teve que assistir à premiação em uma mesa afastada, por conta da discriminação da época. Já a segunda foi preterida por Luise Rainier, que era branca, para o papel de uma mulher chinesa —papel que acabou dando uma estatueta à atriz.

Michelle Krusiec e Laura Harrier em "Hollywood", da Netflix - Divulgação - Divulgação
Michelle Krusiec como Anna May Wond ao lado de Laura Harrier em 'Hollywood'
Imagem: Divulgação

Todas essas mulheres foram revolucionárias para a época delas. Então você tem esse papel como a primeira protagonista negra e pensa em todas as dificuldades e adversidades que elas enfrentaram para ter suas conquistas

A atriz nota que, ao contrário de sua personagem, teve vários exemplos nos quais se inspirar. "Eu tive sorte de nascer em uma época em que tinha mulheres que pareciam comigo para me inspirar, como Halle Berry e Angela Bassett. Mas Camille não teve isso, e a admiro por ter se tornado um exemplo para tantas garotinhas negras que sonham em se ver na tela".

As cenas com Queen Latifah

Laura Harrier e Queen Latifah em 'Hollywood' - Divulgação - Divulgação
Laura Harrier e Queen Latifah em 'Hollywood'
Imagem: Divulgação

Em certos momentos de "Hollywood", Queen Latifah surge como Hattie McDaniel, que se torna uma espécie de mentora para Camille, encorajando-a a não desistir de seu caminho. Na tela, as cenas são emocionantes —e Laura diz que foi incrível gravar com a veterana.

Sempre fui fã dela, desde que era criança e assistia 'Living Single' depois de voltar da escola. Poder trabalhar com ela foi muito animador, e contar a história de Hattie, ainda por cima, tornou a experiência muito mais poderosa

E se tivesse acontecido mesmo?

Em "Hollywood", vários tabus da indústria do cinema são quebrados: além do protagonismo de Camille, há também uma mulher como comandante de um grande estúdio e um ator assumindo publicamente sua homossexualidade —duas coisas impensáveis para a época.

Mas e se todas essas barreiras tivessem sido quebradas realmente naquela época? O quão diferente seria a Hollywood de verdade, que ainda lida com questões de representatividade de mulheres, negros e pessoas LGBTQ, entre outras minorias?

Acho que a indústria do cinema ao redor do mundo seria muito mais inclusiva e traria histórias muito mais representativas.

"É importante se ver representado, ver pessoas que parecem com você e com quem você pode se identificar. Demorou muito para isso acontecer", conclui.