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UOL Entrevista Giovanna Lancellotti, que lança 'Ricos de 'Amor'

Liv Brandão

Do UOL, em São Paulo

30/04/2020 04h00

É verdade que a quarentena provocada pela pandemia de coronavírus adiou alguns planos de Giovanna Lancellotti, mas não tanto assim. A atriz lança nesta quinta-feira (30) o longa "Ricos de Amor", sua primeira produção para a Netflix, ao lado de Danilo Mesquita. Os dois encarnam o casal central dessa comédia romântica cheia de paixão, mentiras e até uma guerra de tomates (!!!). Em papo para a série UOL Entrevista, Giovanna, de 27 anos, falou mais sobre o filme, sua rotina durante a quarentena e relembrou o início da carreira, há dez anos.

Sobre Ricos de Amor

"'Ricos de Amor' é uma comédia romântica bem brasileira, aquela comédia romântica que traz sertanejo, traz funk, traz Lapa, traz desigualdade social, traz até o tema do assédio no trabalho. Mas não é um filme pesado, pelo contrário, é um filme bem leve, é uma comédia romântica que conta a história de Teto, um herdeiro milionário, que sempre viveu numa bolha e não sabe o que é o mundo real. E ele se apaixona pela Paula, que é uma menina super determinada, estudante de Medicina que mora no Rio de Janeiro.

Esse menino é o príncipe do tomate, o pai dele tem uma empresa, e fala que ele precisa começar a trabalhar. Ele até diz que quer começar a trabalhar, mas sem privilégios. Só que isso, na verdade, é para ele ganhar um tempo. Ninguém sabe que ele é o filho do dono da empresa, já que ele troca de papel com um amigo. E, nesse meio tempo, ele acaba conhecendo a Paula, e isso é mais um motivo para ele ir para o Rio de Janeiro.

Só que para impressioná-la, ao contrário do que a gente vê nos filmes, de ser um cara pobre que finge ser um cara rico, ele faz o caminho inverso. Ele é um cara rico que finge ser pobre. Ele finge que é o filho do caseiro, e não o filho do dono da empresa. Porque ele acha que ninguém gosta dele de verdade, e sim porque pelo que ele tem.

E ele começa a namorar a Paula. Acho que até ele se surpreende com esse amor, só que ele vai se enrolando cada vez mais nessa mentira. E nisso ele vai entrando em várias confusões... e o final eu não vou poder contar".

Preparação para o papel

"Eu tinha várias cenas hospital, e eu até uma cena consertando o nariz do Teto. Mas eu tenho sorte que meus pais são médicos, meu pai, meu padrasto, os dois são médicos, então os dois me deram uma super aula sobre como eu faria o negócio do nariz, mas ainda bem que a edição ajudou, não deu tanto foco para isso, porque eu estava com bastante medo. E acho que por ela ser médica, ela é bem menos expansiva do que eu. A Paula, por mais que tenha um senso de humor, que ela se divirta muito com o Teto, ela é mais... Ela menor que eu em questão de ser expansiva, de falar, o próprio caso com o médico, com o chefe dela que a assedia... ela demora para conseguir falar, as amigas dela acabam tomando iniciativa bem antes dela, ela só explode mesmo no final quando ela já descobriu tudo do Teto, já tá 'p' da vida, e ela explode com esse chefe. Mas até então ela segura muito a onda. Eu já sou mais expansiva, mais direta".

Já sofreu assédio no trabalho como a sua personagem?

"Olha, eu nunca passei por assédio na profissão. Nunca sofri assédio de nenhuma pessoa conhecida. Eu tive um episódio, quando eu tinha 13 anos, num ônibus. Foi um cara desconhecido, mas eu fiz um escândalo e ele foi expulso do ônibus. Em questão de trabalho, nunca passei por isso. Claro que às vezes eu já pesquei uma olhada, ou senti um 'feeling 'ali de uma intenção diferente, mas na explícito ao ponto de eu poder me queixar ou conversar. Graças a Deus.

Alguma vez mentiu como o Teto para conquistar alguém?

Nunca aconteceu de eu mentir para conquistar ou para seduzir alguém. Até porque eu sou geminiana, né, minha cabeça vive no mundo da lua. Acho que se eu inventasse uma mentira eu ia esquecer a minha própria mentira, ia ter que ficar inventando mentira sobre mentira. Tentando me lembra da mentira que eu inventei. Então prefiro o caminho da verdade. Tem essas mentirinhas bobas, né, mas nada grave. Nunca menti para conseguir algo.

Quais os prós e contras de ter começado tão cedo na carreira?

"Eu tinha acabado de passar no vestibular quando entrei para a minha primeira novela. Acho que um ponto a favor foi a maturidade, a independência financeira. As pessoas com 18, 19 anos não tinham a independência financeira que eu tinha. Eu já podia comprar e fazer minhas coisas, então isso fez uma diferença grande. De contra... eu acho que é mais ou menos a mesma coisa, mas do lado inverso.

Quando você começa muito novo, todo esse período de descobertas, de começar a sair, de se relacionar... Eu estava com minha vida exposta, então tinha que tomar muito cuidado. Tudo o que as minhas amigas faziam sem pensar, eu precisava que pensar muito bem antes de fazer. Qualquer coisa, qualquer atitude, qualquer fala, qualquer posicionamento. Então você acaba se cobrando um pouco mais

E esse sotaque?

"Eu lembro que no começo da minha carreira eu tentei mudar de sotaque. Tentei falar 'carioca'. Mas não cabia na minha boca, não parecia que era eu. Eu lembro uma vez em que a minha irmã era pequena e perguntou 'por que você está falando assim'? E eu percebi que não tinha nada a ver, não era eu, era uma personagem. E eu peguei isso, que era uma dificuldade, a transformei em algo a meu favor.

O sotaque me ajuda muito a entrar e sair de cena. A entrar e sair da Giovanna, sabe? Eu só usei meu sotaque em um trabalho, um filme com o Marcos Veras, chamado "Tudo Acaba em Festa". Todas as outras vezes eu tiver que fazer ou sotaque de São Paulo, ou do Rio, ou da Bahia.

Como concilia a profissão com as redes sociais?

"Quando estreei na minha primeira novela, eu já tinha bastante seguidores no Twitter, porque eu tinha feito uns clipes de bandas. E aí quando comecei a aparecer mais, as pessoas começaram a conhecer mais o meu trabalho, esse negócio de seguidor começou a aumentar, acabou sendo uma coisa muito natural. E como eu já tinha esse contato antes, para mim foi fácil porque eu só mantive. E eu comecei a ver que era o que era uma repercussão ali ao vivo. Às vezes eu acabava a cena numa novela e entrava no Twitter, eu já via as pessoas comentando sobre a cena, vendo críticas. Isso foi me ajudando também nesse começo de carreira, a me moldar. Fui vendo o que funcionava e o que não funcionava no vídeo. Eu não tenho canal de YouTube, por exemplo, acho que eu não conseguiria ter, eu não sei se eu seria uma pessoa que alimentaria isso, sabe, que teria isso como uma profissão. Eu prefiro lidar com isso de uma forma natural, isso é uma consequência do meu dia a dia".

Como avalia os dez anos de carreira?

"Dez anos é muita coisa. Ainda mais quando você está exposta, você acaba criando uma certa armadura. Hoje talvez eu seja mais dura e fria em alguns aspectos, por já ter meio que me blindado, por já ter sofrido. Antes eu era muito ingênua, muito muito mesmo. Se uma pessoa me falasse 'eu namoro o Leonardo Di Caprio' eu ia acreditar. Hoje em dia eu criei uma malícia que acabou sendo positiva para mim.

A gente tem, sim, que ter malícia na vida, o mundo não é fácil. Infelizmente não é todo mundo que é do bem. Muitas coisas mudaram, mas eu sinto que foi para o bem, foram positivas essas mudanças

Sua última personagem na TV foi a vilã Rochelle, de 'Segundo Sol'...

A Rochelle foi um grande presente, uma das personagens que eu mais amei fazer, porque ela era louca. Ela era completamente louca. E ela tinha humor, ela era ácida, era sarcástica.

Esse tipo de personagem é uma delícia. Porque tem uns absurdos que você nunca vai poder falar sua vida, mas que com esse tipo de personagem você tem a liberdade de falar com a boca cheia.

Para o ator é tão legal poder falar uns absurdos às vezes e ficar tudo bem. Mas gente costuma ter o preconceito de achar que a mocinha é chata, né. Que a mocinha é muito frágil, a mocinha é isso, a mocinha é aquilo. E eu acho que a gente tem conseguido mudar essa ideia. A Paula por exemplo é uma mocinha que é zero chata. Modéstia à parte, eu acho. Quando ela descobre que o Teto estava mentindo, ela não chorou, a última coisa que ela fala é: "você é ridículo". É uma mocinha que tem personalidade. Nesse caso é um barato de fazer porque ela tem uma história de amor, é uma pessoa boa, poxa, é maravilhoso interpretar pessoas boas também e ao mesmo tempo ela não tem esse lugar de vítima, não é água com açúcar, ela tem personalidade. Mas uma vilã, a delícia de fazer, é justamente poder fazer coisas que você nunca vai fazer na vida. Você acha surreal, e você tem que falar aquilo com naturalidade. Te tira de uma zona de conforto, mas ao mesmo tempo é divertido.

Ricos de Amor - Mariana Vianna/Divulgação - Mariana Vianna/Divulgação
Imagem: Mariana Vianna/Divulgação

Como o coronavírus afetou o seu trabalho?

"Não tinha nada previsto para começar por agora. Eu estava com alguns projetos em andamento, mas só namorando, nenhum dos dois estava certo e os dois seriam para o fim do ano. Então até agora não teve nenhuma alteração, eles só fizeram uma pausa na produção. E eu tenho três lançamentos previstos para esse ano: o primeiro é o 'Ricos de Amor'. O segundo é o 'Incompatível', que é um filme com Nathália Dill, Gabriel Louchard, Gabriel Godoy... é uma comédia também, mas não tem nada a ver com 'Ricos de Amor', ele é totalmente voltado para o mundo virtual, e ia estrear agora em junho, mas com os cinemas fechados a gente talvez adie um pouquinho, mas também está pronto e está uma graça. E tem também um lançamento para o segundo semestre, que é o 'Nada é Por Acaso'. É uma adaptação de um livro da Zíbia Gasparetto, é um filme espírita, é um drama, não tem nada a ver com os outros dois, mas foi uma experiência muito bonita. Como esses filmes já estão prontos, pode ser que tenham um atraso no lançamento. Mas não me atrapalhou em nada no trabalho".

E a vida pessoal? Como está lidando com a quarentena?

"Estou fazendo muita coisa, estou adorando pintar. Eu vim para o interior, estou há 20 dias aqui na casa da minha mãe, em São João da Boa Vista [a entrevista foi feita no dia 24 de abril]. Fazia muito tempo que eu não vinha para cá sem data para voltar, sem texto para decorar, sem estar trabalhando. Sempre venho na correria, com data para ir embora. Fazia tempo que eu não ficava assim, um mês aqui em casa. Então por esse lado está sendo muito bom, estou podendo as saudades da minha família. A minha quarentena acabou seguindo o caminho inverso da maioria. As lives e as conversas por vídeo estão tomando muito conta da vida das pessoas, mas como eu estou num sítio quase não tenho internet. Não estou vendo nenhuma live, nem de sertanejo, que eu amo. Não estou falando com ninguém, falei 'meu Deus, vou acabar essa quarentena sem amigos'.

O que falta realizar na sua carreira?

"Eu amo fazer televisão, a televisão me abraçou. Foi o primeiro meio que me abriu as portas. Tenho muito carinho pela TV, e eu amo fazer novela. Mas o meu sonho sempre foi o cinema. Então estar em um ano como esse, em que as pessoas vão perder quase metade desse ano, que está sendo tão difícil para as pessoas, tanta coisa triste acontecendo e neste ano eu conseguir lançar três filmes é uma vitória muito grande, ainda mais no nosso país que não apoia tanto o cinema. Estou lançando um filme no cinema, outro filme numa plataforma mundial da qual eu sou fã. Então eu acredito que eu esteja, sim, num grande momento. Eu acho sempre que o melhor momento é o que a gente está vivendo".

Pensa em apostar na carreira internacional?

A gente quer sempre mais, né. Eu acho que ainda tenho muita coisa a conquistar. Tem muitos tipos de personagem que só dariam certo no Brasil, não dariam certo em outro país. Porque o brasileiro realmente é um ser único. Então tem um leque de opções imenso ainda aqui, mas é claro que quando você pensa num sonho, você sempre pensa a longo prazo. Então esse sonho para mim seria expandir e poder levar também o nome do nosso país para outros lugares.

Com quem você gostaria de trabalhar?

Adoraria fazer alguma coisa com o Miguel Falabella. E isso é uma coisa que eu nunca falei. Adoraria fazer dele. Eu adoro o trabalho dele, sempre gostei.

Algo a acrescentar?

"Queria pedir para as pessoas assistirem a "Ricos de Amor", darem o 'feedback'. Espero que vocês gostem. Espero que as reações sejam as melhores, espero que as mensagens que a gente tenta passar cheguem a vocês, e que vocês se divirtam com essa comédia romântica como a gente se divertiu fazendo. Ainda mais num momento de quarentena, que dá para ficar em casa, assistir, reassistir, indicar para os amigos. E é isso".